Moisés Espírito Santo explicou a origem dos Maios em conferência em Óbidos

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“Os costumes das Maias não podem ser datados, são típicos dos tempos antigos e ligados à natureza”, explicou o sociólogo das religiões, Moisés Espírito Santo, nas conversas sobre Memória e Identidade, que decorreram na tarde de 21 de Abril.
Integradas nos ritos de primavera, as Maias são festejadas desde a Península Ibérica aos confins da Rússia, contou o especialista, que já assistiu a várias variantes deste ritual por todo o país. Partilhou inclusive com os presentes uma tradição de Lagos, em que os residentes se dirigem a Maio como o “mês que há-de vir”, resultado da vergonha que sentem por numa das procissões das Maias terem dado jóias a um jovem para desfilar no cortejo e este ter fugido com elas.
Moisés Espírito Santo explicou ainda que na tradição popular este era um costume muito ligado à lua, a “grande divindade do passado”, relacionada à agricultura. Depois, a Igreja Católica apropriou-se da data e instituiu a Festa da Santa Cruz. Em Óbidos a festa ainda é celebrada no Senhor Jesus da Pedra e o sociólogo gostava que esta fosse reforçada pois considera-a “um dos cultos mais interessantes do país e por onde passavam muitos círios”.
Inicialmente esta era uma festa judaica e Moisés Espírito Santo lembra que na sua terra natal (Batalha), a 3 de Maio, era colocada uma cruz florida nos campos, como forma de valorizar o trabalho agrícola.
Os “quatro tempos” da capital da cultura

A temática da Memória e Identidade reuniu diversos especialistas em Óbidos
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O encontro contou também com a participação do presidente da Fundação Cidade de Guimarães, João Serra, que falou sobre a programação da capital europeia da cultura e como esta procura reflectir sobre aspectos da cultura popular numa região onde esta é muito forte e tem pujança criativa.
A narrativa associada à programação pretende reflectir sobre os vários ciclos ao longo do ano. O primeiro, com início a 21 de Janeiro e términus a 24 de Março, foi apelidado de tempo de encontro. A este sucede, até 24 de Junho, um tempo de criação, em que começam a “tomar contacto com a criação artística e cultural resultante dos encontros da primeira fase”, explicou.
Em finais de Junho a capital da cultura vai começar a viver um tempo de festa e de celebração em espaço público, até 24 de Setembro. Por último, até 21 de Dezembro, em Guimarães vai viver-se o tempo de renascer, no sentido de que alguma dessa criação seja aproveitada como legado.
“A narrativa criada procurou inspirar-se nos ciclos da natureza e em ligar a criação contemporânea a uma forma de entender a cidade com a própria natureza”, explicou João Serra. O responsável destacou ainda que a programação foi feita tendo por base um forte respeito pelas tradições,  e que estes fazem parte da sua agenda.
João Serra falou ainda do objectivo de criar em Guimarães a Casa da Memória, que resulta da reconversão de uma antiga fábrica. A desenvolver-se durante este ano, o projecto conta com a participação de diversos investigadores que estão a trabalhar as questões da memória e do património imaterial.

Museu virtual do património imaterial

“Seremos aquilo que recorda(r)mos?” A directora do Instituto de Estudos de Literatura Tradicional (IELT), Ana Paula Guimarães, diz que e refere que a memória não deve ficar estagnada, mas ser activada periodicamente. “A forma de actualizar a memória é trazer connosco coisas que queremos que os outros vejam e copiem”, disse a investigadora de literatura tradicional que envergava um casaco típico de Miranda do Douro.
Também como forma de perpetuar e divulgar o património imaterial foi criado em 2006 o museu virtual Memória Média, que pode ser consultado na Internet. Visitado diariamente por cerca de 1200 pessoas, o site disponibiliza conteúdos de tradição oral, do “saber fazer” de artes e ofícios, de histórias de vida e de práticas culturais.
De acordo com o responsável pelo espaço, José Barbieri, a prioridade passa por colocarem on-line qualquer recolha assim que seja feita, permitindo assim a divulgação e o estímulo da memória.
“Temos documentos que chegam a ter 15 mil descargas por mês”, referiu o responsável, acrescentando que o museu virtual é visualizado em locais tão improváveis como a China, Síria, Irão e Rússia.
Os docentes Leonor Riscado e Rui Veloso falaram sobre a literatura tradicional nas vivências escolares, para destacar o cuidado que requer o património tradicional.
Já a professora de Português na Escola Josefa D’Óbidos e uma das organizadoras da iniciativa, Celeste Afonso, revelou que os festejos dos Maios, que são celebrados à escala mundial, mas que em cada local tem as suas particularidades, são um bom exemplo de que a “globalização não aniquila a expressão individual, antes pode evidenciar a memória do lugar”.
Neste evento, que marcou o arranque das celebrações dos Maios, foi também lançado o livro BI das Maias e dos Maios em Portugal, da autoria de Celeste Afonso, seguido da actuação do Coro Infantil de Óbidos.

Fátima Ferreira
fferreira@gazetadascaldas.pt

Tradição volta a cumprir-se a 1 de Maio

A tradição milenar dos Maios e das Maias está a ser recriada este ano em Óbidos com a dinamização de diversas iniciativas, que começaram a 21 de Abril e se prolongaram até 1 de Maio.
Na tarde de 29 de Abril decorrerá uma caminhada até ao morro de Santo Antão para apanha das maias, ao som de musica e cantigas. Na noite de viragem do mês a Porta da Vila será recinto para um convívio popular, seguindo-se a realização dos enfeites e o enramalhamento da vila, que acorda na manhã seguinte repleta de flores silvestres, numa alusão à primavera e em sinal de saúde e alegria.
A festa termina na tarde de terça-feira com cortejo entre a Porta da Vila e a Praça de Santa Maria, ponteado por momentos de espectáculo, com a participação dos ranchos folclóricos, grupos corais e bandas filarmónicas.  No largo haverá baile popular e jogos tradicionais.

F.F.

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