O caldense Rodolfo Coutinho percorreu a Europa numa bicicleta

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RODOLFOCOUTINHO2Em Agosto de 2014 o caldense Rodolfo Coutinho partiu de bicicleta rumo a Valência, uma cidade que fica na outra ponta da Península Ibérica. Esta era a meta inicial, mas o jovem de 21 anos (na altura com 20) decidiu seguir viagem, acabando por percorrer 12 países em 110 dias. Espanha, França, Itália, Grécia, Bulgária, Roménia, Hungria, Eslováquia, Áustria, República Checa, Alemanha, Holanda e Bélgica. Cerca de 10 mil quilómetros, um número que Rodolfo quer ver triplicado na sua próxima aventura, desta vez até à Mongólia.

 

Vinte e três de Agosto de 2014. Um dia depois de fazer 20 anos, Rodolfo Coutinho virou-se para o pai, António, e disse-lhe: “venho já”. O que aparentemente seria uma viagem de menos de um mês, acabou por estender-se por quase um ano, cerca de quatro meses a pedalar e outros seis a viver em Marselha, numa pausa que Rodolfo fez para trabalhar numa empresa de solidariedade e juntar algum dinheiro.
Se por um lado António Coutinho incentivou o filho nesta aventura, também é verdade que quando faltava pouco para o grande dia da partida, a sua vontade era de despejar-lhe os pneus, tal era a preocupação. “Obviamente que depois fiquei muito contente, porque reconheço que é uma experiência como há poucas na vida e que é muito enriquecedora, tanto cultural como pessoalmente”, conta António Coutinho.
Rodolfo recebeu a primeira bicicleta aos seis anos e desde então que faz deste meio de transporte uma ocupação para os tempos livres, esteja só ou acompanhado. Curiosamente, antes de partir rumo à Europa, Torres Vedras foi o seu destino mais longínquo (apenas 45 quilómetros). “Não é preciso ser ciclista profissional nem ter um corpo de atleta para fazer uma viagem destas”, garante Rodolfo Coutinho, salientando que andar bem de bicicleta e aguentar, num ritmo constante, pelo menos uma hora e meia na estrada é o suficiente para seguir viagem. Mesmo a bicicleta, assegura, não tem que ser das mais caras. “Basta ter um bom selim e rigidez suficiente para suportar tantos quilómetros”, conta.
Ainda que não seja o meio de transporte mais confortável do mundo, “a bicicleta é dos veículos mais eficazes, económicos e autónomos, permitindo ainda desfrutar da paisagem à medida que se avança no caminho”.
O importante é prevenir e, por isso, Rodolfo levou consigo uma pequena mala de ferramentas para salvaguardar algum imprevisto. Câmaras e bombas de ar, assim como remendos são utensílios obrigatórios, que bem valeram ao ciclista quando apanhado por alguns contratempos: sete furos e o raio de uma das rodas partido.
Na bagagem, de 40 quilos, levava o essencial. Além de vestuário básico e bastante roupa interior, muita água, massa e arroz, latas de atum, bananas, pimentos, tomates, curgetes, alho e cebolas, uma tenda de duas pessoas, um bom saco de cama, um fogareiro e protecção para a chuva. As sapatilhas, essas, foram sempre as mesmas e ainda hoje as calça Rodolfo.
Em vez do GPS, este viajante preferiu os mapas, que comprava nas bombas de gasolina junto às fronteiras. Desta viagem colecciona nove. Era também nas bombas de gasolina, ou então nos cafés, que Rodolfo aproveitava para carregar o telemóvel.
Dormia junto à estrada, num canto onde os carros não o avistassem. Várias vezes foi surpreendido por ovelhas, outras por ratos – “numa noite em que decidi dormir num velho barracão” – ou então por lesmas, sempre que não lavava a loiça na própria noite. “O maior esforço que fiz não foi físico, mas sim mental porque é preciso ser paciente para passar tanto tempo sozinho” conta Rodolfo, acrescentando que a força surge nos momentos de contacto pleno com a natureza. “Não há maior liberdade que essa”.
Esporadicamente, lá tinha a sorte de encontrar ciclistas pelo caminho que lhe faziam companhia na estrada. Contudo, a maior parte do percurso, Rodolfo fê-lo sozinho. Três horas e meia foi o recorde de tempo que pedalou em cima da bicicleta.
Embora também levasse uma pequena máquina fotográfica e tenha registado 400 fotografias, Rodolfo não percorreu a Europa como um turista. “Não visitei monumentos ou museus, mas consegui absorver a cultura”, revela o viajante, que elege Espanha como o melhor destino, não só pelas belíssimas paisagens, mas também pela hospitalidade dos nossos vizinhos.
O momento mais especial, recorda, foi quando cruzou os Alpes, na fronteira entre França e Itália. “Não há outro lugar igual… senti-me enorme no cimo daquelas montanhas e pequeno ao mesmo tempo, por estar rodeado de tanta grandeza”.
Se para a Europa Rodolfo Coutinho partiu com 300 euros no bolso, a próxima viagem, até Mongólia (Ásia) requer mais poupanças. Por isso mesmo, o jovem de 21 anos encontra-se a trabalhar na campanha da amêndoa da Páscoa na Fábrica Calimenta. São 30 mil quilómetros, um percurso três vezes maior que a jornada pela Europa e que Rodolfo quer dar início já no princípio deste Verão.

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Maria Beatriz Raposo
mbraposo@gazetadascaldas.pt

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