Maria do Nascimento
22 anos
Caldas da Rainha
Pequim – China
Estudante Universitária
Percurso escolar: Escola Primária Bairro da Ponte, Escola Básica Santo Onofre, Escola Secundária Raul Proença, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (Universidade Nova de Lisboa), Escola Superior de Educação e Ciências Sociais Instituto Politécnico de Leiria)e Beijing Language and Culture University
Do que mais gosta do país onde vive?
Da sua cultura. Eu costumo dizer que os chineses são muito desconfiados, provavelmente porque desconhecem a cultura ocidental. Mas assim que ganham confiança e se apercebem que não estou ali para os desrespeitar, são as pessoas mais simpáticas e prestáveis que alguma vez conheci.
O que menos aprecia?
A comida. Convém dizer que a comida em Pequim não tem nada a ver com a comida dos restaurantes chineses em Portugal. Eles gostam muito de utilizar o picante, e como tal é uma especiaria que se encontra em todos os seus pratos. Funciona basicamente como o nosso sal, é essencial para um prato chinês. Para os chineses, o ingrediente principal da refeição é o que os portugueses chamam de acompanhamento, ou seja arroz, massa, batata e os legumes. A carne e o peixe são esses sim um acompanhamento, pelo que são servidos em pequenas doses.
Outro aspeto que também me custou imenso a habituar foi o clima. Os níveis de poluição em Pequim chegam a valores insuportáveis, onde nos aconselham a não sair de casa, não fazer exercício físico e andar sempre de máscara.
De que é que tem mais saudades de Portugal?
Da Família, em primeiro lugar. Especialmente nas alturas de celebração, como aniversários ou o Natal. Das minhas cadelas.
Em segundo lugar da comida. Especialmente bacalhau. E depois o mar. Sendo caldense e vivendo toda a minha vida perto da Foz do Arelho, tenho muitas saudades de ver, ouvir e cheirar o mar.
A sua vida vai continuar por aí ou espera regressar?
Neste momento encontro-mo a terminar o segundo ano desta licenciatura aqui em Pequim. Vou de seguida continuar os meus estudos em Macau. Depois regresso a Portugal para finalizar o quarto ano da licenciatura.No entanto, acho que o meu futuro não vai ser em Portugal e vou tentar arranjar estágio na China.
“Na China não se tem acesso à maioria dos websites e redes sociais, como Facebook, Instagram, Google, Gmail”
Eu sou estudante do curso de Tradução e Interpretação Português/Chinês-Chinês/Português do Instituto Politécnico de Leiria. Encontro-me neste momento a frequentar o segundo ano da licenciatura na Beijing Language and Culture University, em Pequim.
Estou a residir nas residências da BLCU, no campus universitário. Este é bastante multicultural e diversificado dado que nos permite a convivência com estudantes de todas as nacionalidades, culturas e religiões.
Mesmo a viver dentro do campus universitário adquiri uma bicicleta para ir para as aulas. O campus é muito grande e se fizesse esse percurso a pé demoraria mais ou menos 15 minutos, de bicicleta demoro cinco minutos.
Tenho aulas da parte da manhã, todos os dias da semana. Entro às 8h30 e saio ao 12h30. Normalmente opto por almoçar na cantina da universidade. Esta é bastante acessível. Tem cinco pisos. Os primeiros três funcionam como refeitório, e os últimos dois são restaurantes. Eu por norma almoço no 3º piso, é muito barato comparativamente com os preços fora do campus. Um prato pode ir de 8 yuans (1,17 euros) a 15 yuans (2,20 euros). Fora do campus um prato pode custar entre os 30 yuans (4,40 euros) e os 100 yuans (14,60 euros).
Depois, da parte da tarde, preparo sempre as lições para as aulas que vou ter no dia a seguir. O ensino chinês neste aspeto é bastante mais rigoroso. Tenho sempre muitos trabalhos de casa, é impensável chegar a uma aula sem a ter preparado ou pelo menos saber o vocabulário dessa lição. Também aproveito para ir ao ginásio. Aos fins-de-semana gosto de aproveitar para conhecer Pequim.
A vida noturna em Pequim também é bastante movimentada como em qualquer capital. As discotecas em Pequim gostam muito que os ocidentais frequentem os seus estabelecimentos, por isso consigo sempre entrada, bebidas e mesas VIP gratuitas.
O clima em Pequim é bastante problemático. Existe muita poluição devido à grande quantidade de carros e de fábricas. Nesta altura do ano as temperaturas máximas podem chegar aos 40º graus e a mínima ficar por volta dos 20º graus. No Inverno, ao contrário do que acontece em Portugal, não existe humidade, por isso é um Inverno seco. Sendo que as temperaturas rondam os -8º graus e os 1,8º graus.
Ao nível do poder de compra existem alguns produtos que são relativamente mais caros. Como o leite. Em Pequim um litro de leite pode custar 15 yuans (2,20 euros). Tudo o que sejam marcas ocidentais aqui é bastante mais caro, especialmente nos produtos de higiene como desodorizantes, por exemplo. Mas em contrapartida os transportes públicos são mais baratos. Até Janeiro deste ano qualquer viagem, seja no metro ou no autocarro público, o preço do bilhete era de 2 yuans (0,30 euros). A partir de janeiro deste ano o governo chinês aplicou novas taxas no metro, sendo que o valor máximo é de 5 yuans (0.74 euros).
A China, na minha opinião, está a mudar a sua maneira de pensar e de estar com o resto do mundo. No entanto ainda se nota que para alguns chineses é estranho verem ocidentais. Então é muito comum pedirem para tirarem fotos connosco e fazerem-nos perguntas, a mais comum é “porque é que estamos aqui?”. A nível de censura, é visível. O mais curioso é que os próprios chineses reconhecem esta censura. Por exemplo, perguntei a um dos meus professores se lia o jornal, e a resposta dele foi que sim, mas que sabia que as noticiais eram manipuladas pelo governo chinês.
Também nos media se nota esta censura. Este ano que passou houve a manifestação em Hong Kong contra o governo. E nas notícias que passaram na televisão a apresentadora mostrava algumas imagens dizendo que aquilo era uma manifestação de apoio ao governo chinês.
Na China não se tem acesso à maioria dos websites e redes sociais, como facebook, instagram, Google, gmail, etc. o que nós, estudantes estrangeiros, utilizamos é um VPN (uma rede particular virtual) para conseguirmos aceder a este tipo de plataformas.
Maria Ana Pereira Neves do Nascimento