Carlos Gouveia assumiu a 18 de dezembro a presidência da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários das Caldas da Rainha (AHBVCR). A equipa diretiva é de continuidade com a anterior e assim será também a linha de gestão, que visa a melhoria contínua das condições de trabalho dos bombeiros
A AHBVCR foi a eleições no passado dia 18 de dezembro. Carlos Gouveia assumiu a presidência, por troca com Luís Botelho que passou a vogal, e quer manter o rumo de melhoria constante que tem sido seguido nos últimos anos.
Como é que surge o Carlos Gouveia na presidência da AHBVCR?
Eu já estava como vogal na última direção e foi a equipa direção que me escolheu para continuar aquilo que tínhamos feito nos últimos anos. Dos sete elementos da direção, cinco ficaram. O Sr. Luís Botelho também se mantém, mas como vogal. Temos dois colegas novos, o Paulo Sousa, que é o presidente da Junta de Freguesia de A-dos-Francos, e a Ana Ferreira. Queremos que os Bombeiros das Caldas continuem a ser de excelência no auxílio à população.
O que trazem estes dois novos elementos de novo?
O Paulo Sousa, não o conhecia pessoalmente, mas é um excelente presidente de Junta, uma pessoa que está próxima das populações, que conhece o poder local, e de certeza que vai trazer um bocado do feedback das populações. A Ana Ferreira é uma pessoa que trabalhou na Câmara, que nos vai ajudar no Secretariado. Foi secretária do Dr. Hugo Oliveira durante muitos anos, de certeza que nos vai ajudar muito.
O mandato será executado numa linha de continuidade?
É uma linha de continuidade daquilo que temos feito nos anos anteriores. Acho que há muito a fazer. Na primeira linha estão os recursos humanos. Nós já temos 57 funcionários. A maioria são bombeiros que, fora do horário de serviço, são bombeiros voluntários. Os bombeiros ficam cá, dormem cá, por isso é preciso funcionários de limpeza, depois temos os administrativos da secretaria, que são três, também temos os das ambulâncias, que estão lá em baixo, temos a nossa central de telecomunicações, que tem que estar 24 horas por dia, sete dias por semana, em funcionamento. E ainda temos colaboradores na piscina.
Nós tentamos sempre que esses colaboradores tenham condições um pouco melhores, não só salariais, mas também que sejamos um pouco diferentes das outras corporações de bombeiros, porque, sem pessoas não há socorro.
Queremos continuar a manter o parque de viaturas bastante atualizado. Nos últimos anos renovámos já bastantes viaturas, com um lema que eu trouxe para aqui, que é menos viaturas, mas melhores viaturas. É a minha experiência profissional, porque com material velho perde-se muito tempo e dinheiro em manutenção, pelo que menos máquinas, mas mais operacionais, são melhores. Por exemplo temos uma ambulância com 900 mil quilómetros, esperamos que seja abatida ou passada para a reserva em breve, com a compra de uma que estamos à espera. Nos carros pesados estamos bastante bem, se bem que vamos ter que fazer um upgrade num dos veículos. Vamos ter que modificar o veículo de desencarceramento, modernizar algumas ferramentas para ter resposta face ao aumento de viaturas elétricas em circulação. Estamos também a criar condições para adquirir um reboque para a equipa de resgate. O que temos é um reboque ligeiro e estamos a pensar em mudar para um reboque pesado, em que a equipa tenha todo o equipamento preparado, para diminuir o tempo de chegada, e também porque o reboque pesado dá mais segurança. É algo que está no plano de orçamento para este ano.
Depois, temos uma situação administrativa que, infelizmente, não está resolvida. O edifício do quartel não tem licença de utilização, mas está quase. Já estamos há três anos a tentar obter a licença de utilização, porque, sem ela, não podemos concorrer a nenhum fundo, por exemplo para trocar as janelas que temos, que não são as ideais em termos de isolamento térmico. Penso que ainda na primeira metade deste ano possamos ter a licença atribuída. Temos tido o apoio da Câmara.
E depois o grande calcanhar de Aquiles é a piscina. Primeiro porque tem o mesmo problema do quartel, não tem licença de utilização. A piscina está implantada num terreno, em que um bocado é nosso e o outro bocado é de um particular. A Câmara nunca resolveu isso, é um particular que é amigo dos Bombeiros e que está também a tratar da parte dele, de fazer a doação do terreno. Teve que entrar com um projeto de urbanização daquela zona e depois a Câmara tem que aprovar. A piscina tem cerca de 25 anos e precisa de melhorias. Já estamos a tratar de algumas, sobretudo ao nível dos balneários, mas a piscina não está apelativa e precisa de mais utentes para ser rentável, porque não o é neste momento. Nos últimos anos, instalámos duas centrais solares, uma no quartel, outra nas piscinas, que deram uma ajuda muito grande. Mas temos de fazer mais, porque os custos de aquecimento são muito elevados. Há algumas ideias, que passam por passar de duas caldeiras para uma e, durante o dia, ter bombas de calor e energia solar. Também queremos comprar uma manta térmica, para que a piscina não perca tanta temperatura durante a noite.
E queremos continuar a fazer melhoramentos no quartel, ao nível dos sanitários, e tornar a entrada mais moderna.
A renovação que tem vindo a ser feita e todos estes projetos significam que, financeiramente, a Associação está bem?
Sim, esta Associação está bem, porque a população das Caldas e a Câmara têm ajudado muito. Isso acontece porque os Bombeiros também são muito bons, têm um Comando muito bem organizado e as coisas funcionam. A população confia nos Bombeiros e, como confia e sabe que eles respondem num curto espaço de tempo, ajuda. Isso tem-se visto no Cortejo de Oferendas. Eu, há alguns anos atrás, antes de estar nas direções, não percebia porque ainda se faz o cortejo, mas quando vim para aqui percebi que, sem isso, era muito difícil a Associação sobreviver. As verbas que vêm do Estado não são suficientes.
Quanto é, atualmente, o orçamento anual da associação?
Estamos a falar de um orçamento de 2,4 milhões, no ano passado, porque adquirimos um carro pesado novo. Para este ano deverá ser de 2,3 milhões. O Cortejo de Oferendas no ano passado chegou aos 170 mil euros, estamos a falar de cerca de 7% do orçamento, sem essa ajuda era muito mau. Financeiramente, há outro aspeto importante. O INEM explorava as corporações bombeiros. Aquilo que nós recebíamos para o socorro do INEM não dava para pagar os custos. Este ano, o governo fez uma alteração muito significativa, aumentou creio que à volta de 20% a comparticipação, o que já deve dar para cobrir os custos. Era algo que se reclamava há muito tempo, mas o INEM precisa de muitas mais coisas. Nós já temos o nosso contrato com o INEM prolongado, em setembro do ano passado. Mas a nossa ambulância amarela do INEM está inoperacional. Estava bastante usada, partiu o motor e o INEM não quis pagar metade do arranjo. Nós pagámos e colocámo-la ao serviço. Quando o contrato acaba, a ambulância fica para nós e, neste momento, não temos ambulância do INEM, estamos a fazer o socorro com as nossas ambulâncias. Esperamos que, num novo contrato, venhamos a receber uma ambulância nova.
Tem um passado de ligação aos bombeiros, a nível pessoal e familiar. Chegar à presidência da direção acabou surgir de forma natural?
Eu saí para a pré-reforma há 11 anos. Faço parte da Assembleia de Freguesia das Gaeiras, porque moro nas Gaeiras. Sou uma pessoa que não pode estar parada, eu estava habituado a muito movimento, muita viagem pelo mundo de fora. Comecei aqui no mandato anterior, vinha às reuniões, deram-me vários trabalhos para fazer, que eu fiz. É uma continuação e estou a gostar. Não digo que venho aqui todos os dias, mas venho bastantes vezes. Estou aqui umas horas, as pessoas são super simpáticas. É um voltar à gestão e de certeza que o meu pai e o meu tio estão contentes por eu estar aqui.
Mas esta ligação vem desde muito novo.
Sim, quando o meu pai (Carlos Gouveia) esteve aqui como diretor, que também estava com o meu tio Henrique Sales, eu e mais uns amigos viemos inaugurar a ginástica dos Bombeiros. Devia ter uns 6 anos, fui tornado sócio nessa altura, por isso o meu número de associado é muito baixo, sou sócio há 63 anos. Lembro-me de estarmos na ginástica, no antigo quartel, e quando havia fogo tínhamos que ir todos para um canto para os bombeiros saírem.
Depois, já adolescente, também fiz parte da equipa que abriu os socorros a náufragos nos Bombeiros das Caldas. Ainda fizemos muitos salvamentos. Mais tarde, colaborei nos projetos do quartel, na parte elétrica, quando os Bombeiros ficaram sem o apoio do GAT. Nessa altura também fiz parte do Conselho Fiscal, antes de ir viver para a Alemanha. Era o Hergildo Ferreira Velhinho o presidente e foi ele que me convidou.
Depois há outra história engraçada, quando os Bombeiros compraram a primeira autoescada, a Magirus. Comprou-se uma usada, a uma empresa alemã. Veio um alemão trazer a escada e explicar como funcionava, mas ninguém conseguia falar com ele, então pediram-me para vir para aqui, porque eu falava alemão. Vim duas tardes para explicar como a escada trabalhava.
Nunca estive desligado dos Bombeiros e conheci aqui muitas pessoas. Há aqui outra história muito interessante. Em 2013, o presidente Abílio Camacho ligou-me e foi com o comandante José António à minha casa. Não fazia ideia do que queriam, perguntaram-me se eu aceitava que dessem o meu nome a uma das viaturas, queriam que eu fosse o padrinho do carro. Foi uma imensa honra e o Abílio disse-me que esperava que um dia eu viesse para a direção. Quando me convidaram para fazer parte da lista, no mandato anterior, disse que sim e senti-me aliviado, porque era aquilo que o Abílio me tinha pedido para fazer e acho que posso dar o meu contributo. ■