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A artista plástica caldense, Estela Baptista Costa, de 44 anos, está a celebrar os seus 20 anos de carreira, com uma exposição de gravura em Bruxelas. A autora, formada na ESAD e a viver em Lisboa, conversou com Gazeta das Caldas sobre o seu percurso artístico.

 

“É a criar gravuras que me sinto feliz”, conta Estela Costa, que aprendeu a técnica durante o segundo ano do curso, em finais dos anos 90 mas deu-lhe mais destaque depois de ter conhecido (e aprendido) com o gravador Bartolomeu Cid dos Santos. O consagrado artista reconheceu o empenho da caldense e convidou-a para sua assistente, tendo-o auxiliado em várias formações durante cinco anos. Durante esse período Estela Costa conheceu personalidades como Paula Rego e Ruben de Carvalho, amigos do gravador. A caldense ainda trabalhou na Cooperativa de Gravura em Lisboa e na oficina do Atelier Arte e Expressão até que, mais tarde, comprou a sua própria prensa.
Neste momento está em negociações com a Câmara de Vila Franca de Xira e a estreitar contactos com uma Associação de Artistas Plásticos gravadores para poder gravar onde mora. Na sua casa possui uma mini prensa para poder gravar pequenas chapas. Este equipamento permitiu-lhe posteriormente criar o projecto Gravurinha Box uma caixa pedagógica de gravura para levar às escolas. “E é sempre assim, uma coisa leva à outra”, referiu a artista.

Dez livros em 20 anos

Quando terminou o curso, em 2000, trabalhou no Museu Malhoa, durante ano e meio, nos serviços educativos. Foi neste museu que ilustrou uma publicação para jovens e projectou o seu primeiro livro infantil “Se eu vestisse a rainha”. Depois ilustrou um livro infantil para uma pequena editora em Lisboa e, ao todo, nestes 20 anos de carreira, já ilustrou 10 livros.
Em 2005 Estela Costa foi convidada pelo poeta Pedro Sena Lino a trabalhar na Companhia do Eu, uma escola de escrita criativa onde durante três anos trabalhou ligada aos cursos artísticos. Esteve na Companhia do Eu até 2012 “altura em que escola fechou, vítima da crise, como tantas empresas neste país”.
Nessa altura, a caldense teve o primeiro filho e escolheu ser mãe a tempo inteiro. Depois veio o segundo, que determinou um interregno de cinco anos na sua carreira.

Bonecos originam nova marca

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A costura sempre foi algo que gostou de fazer. Quando o seu filho mais velho andava no jardim de infância, a educadora pedia aos pais para irem fazer actividades relacionadas com as suas profissões.  “Achei que seria giro levar a máquina de costura e mostrar aos meninos como é que se costura” e idealizou um molde para os miúdos pintarem um boneco com o seu retrato. Depois costurou-o e eles encheram-no. A própria autora achou piada e, por brincadeira, fez mais alguns, que foram fazendo sucesso entre os amigos e, surgia assim a marca boonek.
Hoje a página intitula-se “falar pelo boonek” pois Estela usa os seus bonecos de tecido “para fazer um pouco de intervenção e crítica social, são uma espécie de cartoons”. Mais tarde surge o convite para fazer booneks antropológicos para lojas de museu e de carácter religioso, desportivo ou literário. Nas Caldas estão à venda na loja do CCC.
Ao longo do seu percurso a caldense promoveu workshops de pintura, gravura e ilustração para as escolas, apesar de não ser fácil conseguir públicos. Desde há um ano percorre escolas de 1º ciclo a promover a sua obra Princesa Laranjada e a oferecer workshops de ilustração, “muitas vezes, quase sem vender livros”, disse. No entanto, conta que é sempre gratificante quando dá um workshop em escolas onde há crianças desfavorecidas e que aparentemente não ligam nenhuma e depois no final perguntam se podem fazer outra pintura. “Estes são os sinais que me mostram que é um caminho que vale a pena fazer, porque as sementes que se semeiam nestes miúdos nunca saberemos que frutos poderão dar. Eu quero acreditar que ajudo a semear boas colheitas!”, referiu a autora que em 2001 foi a única autora portuguesa entre 50 autores seleccionados num concurso de ilustração para expor em Paris. Também participou em exposição que se realizou na vizinha Espanha.
Em 2018 Estela Costa foi convidada pela Embaixada de Portugal em Bruxelas para a ir às escolas portuguesas para promover o livro da Princesa Laranjada. Estela ilustrou e Pedro Sena Lino escreveu esta obra. A embaixada ficou interessada na sua exposição de gravura e também a convidaram para realizar workshops nas escolas portuguesas em Roterdão e Haia.

Estudar artes numa fábrica desactivada

Entrou na ESAD em 1994, quando a escola ainda funcionava na MATTEL (antiga fábrica desactivada, situada em S. Cristóvão), onde estava o núcleo de Artes Plásticas. “Na altura, não havia Toma, ia-se a pé, muitas vezes duas vezes por dia, pois iamos almoçar aos pavilhões do Parque”, disse a autora.
Não havia qualquer comodidade, mas existia uma relação familiar com os colegas, onde todos se viam a trabalhar. “Era quase como estar num museu em crescimento”, referiu.
Depois vieram as greves “por causa do novo edifício”. A autora diz que havia “um espírito de luta académica muito forte, tínhamos presidentes da associação de estudantes que eram grandes líderes, que nos incentivavam à luta”. Conta que fez-se, inclusivamente, “uma marcha silenciosa pela cidade com cartazes e máscaras de cartão, intervenções artísticas que as pessoas na época não compreendiam bem pois nessa altura o pessoal da ESAD era o pessoal esquisito”.

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