
O Atelier Beco d’Obra inaugurou, no dia 22 de Outubro, a exposição “Olhares sobre o Hospital Termal” no Museu do Hospital e das Caldas. A mostra reúne os trabalhos desenvolvidos por oito alunos deste atelier no passado ano lectivo e apresenta uma grande variedade de “olhares” sobre o património do Hospital Termal.
Esta exposição é ainda um bom exemplo de como a arte pode servir de motor para abrir consciências: neste caso sobre o estado de degradação de alguns edifícios históricos da cidade como os Pavilhões do Parque ou o antigo casino.
Do Hospital Termal à Igreja Nª Sra. do Pópulo. Do Palácio à Mata Rainha D. Leonor. Dos Pavilhões ao antigo casino do Parque. A exposição é diversificada e demonstra como o olhar dos alunos do atelier Beco d’Obra não se limitou ao edifício do hospital, mas estendeu-se a todo o património termal caldense. Aliás, há até um trabalho feito a partir de madeira que nos transporta para a origem das termas, levando-nos até ao interior da terra numa tentativa de retratar o percurso da água.
Entre os alunos que se concentram nos detalhes – como objectos e mobiliário do hospital – há outros que preferem uma abordagem mais ampla do mesmo espaço. Apesar da liberdade criativa que foi dada a cada formando, o resultado final é uma exposição sem pontas soltas, onde todos os trabalhos acabam ligados ao tema principal: o Hospital Termal.
Ana Folgado, aluna do atelier há 15 anos, confessa que ao princípio, perante uma temática tão abrangente, chegou a “perder-se”. Viria a concentrar-se na Rainha D. Leonor, por esta ser “a grande obreira da cidade e a figura mais importante que deu origem ao Hospital Termal”.
Nesta homenagem, Ana Folgado retratou duas piscinas do hospital e várias perspectivas da Mata. Esta foi “uma das exigências que a Rainha fez para que os visitantes da localidade e os doentes se pudessem deleitar com a natureza e melhorar assim o seu estado de saúde”, explica.
Os seis trabalhos de Ana Folgado foram elaborados com recurso à técnica de aguarela e colagem. A aluna começou por colorir folhas brancas, recortou-as em pedaços de diferentes tamanhos e colou os recortes obtendo montagens originais.
Após um ano a testar a sua criatividade em torno do Hospital, Ana Folgado – que é de Lisboa, mas vem às Caldas para frequentar o atelier e durante muitos anos trouxe a sua mãe às termas – afirma que agora olha para este património com um carinho que não existia antes. E acrescenta que “é fundamental a reabilitação do Hospital com o espírito que lhe subjaz: a misericórdia”.
UMA APROXIMAÇÃO A LUGARES ESQUECIDOS
Filomena Lourenço passou grande parte da sua juventude no casino do Parque. “Passava lá as minhas tardes e foi lá que fui a dois bailes de finalistas”, recorda, justificando que decidiu pintar esse mesmo espaço porque era das poucas pessoas do atelier que guardava vivências do Casino. Hoje “tenho uma pena imensa de ver o edifício em ruínas e não perdoo o facto de o terem deixado chegar a tal estado de degradação”, realça a aluna, frisando que nunca mais se criou na cidade um espaço semelhante integrado no Parque.
Há dois anos no Beco d’Obra, Filomena Lourenço recorreu à tinta acrílica e aos tons cinzentos para evidenciar uma viagem ao passado.
Para Paula Nobre, coordenadora do atelier, a exposição permite uma reaproximação a lugares que foram caindo no esquecimento da população. E, quem sabe, conseguirá mesmo consciencializar as pessoas para a importância destes monumentos e para a urgência em reabrir o Hospital Termal.
Ao longo do ano os alunos fizeram investigação sobre o património termal das Caldas e realizaram visitas guiadas ao Hospital e ao seu museu. “Foram consolidados conhecimentos da História de Portugal e local, ao mesmo tempo que eu também lhes ia dando referências da arte contemporânea que servissem de apoio às suas ideias”, explicou Paula Nobre.
Ana Folgado, Filomena Lourenço, Arlanda Tolentino, Humberto Lopes, Teresa Coelho, Alcide Sousa, Nel Frederix e Paula Tolentino são os oito alunos que assinam os trabalhos desta exposição, que se mantém patente até 20 de Novembro no Museu do Hospital e das Caldas.