Impasse ocupa grande parte da sala de exposições temporárias do Museu Malhoa. O monobloco, feito com chapas metálicas, lembra ao visitante o desconforto e as más condições de vida de quem vem de outros países em busca de uma vida melhor. O que os migrantes encontram, muitas vezes, são poucas ou nenhumas condições de trabalho, numa nova escravatura laboral que pulula em vários sectores e regiões do país, muitas vezes ligadas aos trabalhos agrícolas.
“Esta peça traz intranquilidade e obriga-nos a reflectir sobre as questões sociais”, disse Carlos Coutinho, director do Museu Malhoa, durante a inauguração da obra que é um site-specific, isto é, foi criada especificamente para a sala de exposições temporárias do museu caldense.
Carlos No, quando visitou o Museu Malhoa, gostou da simplicidade da sala de exposições temporárias e quis replicar a singeleza na instalação, explicou o autor, que assim justificou porque é que construiu um monobloco em chapas metálicas.
“Remetem-nos de imediato para a ideia de tapumes, o que não parece nada confortável”, afirmou o artista.
Carlos No usou um colchão que se vê num dos lados da obra, que nos recorda “aquele lugar pouco amistoso onde alguém dorme”. Para o autor, a génese da obra chegou-lhe de forma mediatizada. Carlos No escutou notícias sobre a nova escravatura laboral que existe em Portugal, sobretudo no Alentejo. Há migrantes de vários países que vêm trabalhar nos sectores agrícola e pecuário e que vivem perto das explorações
“em condições miseráveis”, em casas que nada têm de lares. E foi este aspecto que lhe serviu de inspiração para criar a instalação Impasse.
“Não quero que a obra se esgote naquilo que significa para mim. Cada pessoa pode fazer a sua própria interpretação”, comentou o autor.
“Sinto-me bem nas Caldas”
Enquanto criou esta obra, Carlos No ficou instalado na residência do Centro de Artes. O autor, que estudou pintura e escultura no Ar.Co, já tinha realizado uma mostra naquele espaço, em 2005, designado “Jardim de Bétulas”, onde reflectia sobre as vítimas do conflito que teve lugar na região sudanesa de Darfur.
“Sinto-me bem nas Caldas e já queria ter regressado para novas exposições há algum tempo”, comentou o artista lisboeta, que vive na Ericeira, satisfeito com este regresso à cidade termal. Há dois anos e meio que tinha contactado o Museu Malhoa, tendo sido agora possível realizar este trabalho.
Carlos No já se está a preparar para trabalhar num novo projecto. Foi um de três artistas que vai trabalhar num projecto comissariado por Luísa Soares e Oliveira e que terá por tema “A fronteira”. Este vai acontecer em Maio em Cascais e o autor irá trabalhar numa instalação para exterior.
Actualmete, o artista plástico trabalha com a galeria Arthobler em Zurique (Suíça), com a galeria Elizabeth Couturier em Lyon (França) e com a galeria Maaret Finnberg, situada em Turku (Finlândia).
Está representado em colecções institucionais em Portugal e em colecções particulares na Alemanha, Bélgica, Brasil, Espanha, Finlândia, França, Hungria, Macau, México, Países Baixos, República Checa e Suécia.
A instalação Impasse de Carlos No vai estar patente no Museu Malhoa até ao dia 3 de Março.