O cheiro a chocolate não deixa ninguém indiferente quando se chega perto da cerca do castelo de Óbidos. A XVI edição do Festival Internacional de Chocolate começou no passado dia 23 de Fevereiro e estende-se até 18 de Março, entre sexta-feira e domingo.
Nos primeiros três dias o evento foi visitado por cerca de 11.500 visitantes e são esperadas mais de 50 mil pessoas durante todo o festival.
Esta edição tem um orçamento de 200 mil euros e mantém as entradas em 6,50 euros. A organização utiliza cerca de 10 toneladas de chocolate, duas das quais nas 10 esculturas, que são um dos ex-libris do festival. O certame concentra-se na cerca do castelo, enquanto que a galeria do Pelourinho transforma-se no espaço dedicado à sensibilização para as alterações climáticas, que é o tema central deste ano.
Um navio encalhado no fosso da muralha, deixando ver um muro de pedra num espaço gélido habitado tradicionalmente por ursos polares, chama a atenção dos visitantes para a problemática do aquecimento global. Uma situação estranha, ou não tanto, tendo em conta que a edição deste ano do Festival Internacional do Chocolate pretende alertar para as alterações climáticas.
No barco de grandes dimensões é possível encontrar o chef brasileiro Abner Ivan e a sua equipa de pasteleiros a trabalhar ao vivo. Das suas mãos está a “nascer” um lince ibérico, que depois irá juntar-se a mais nove esculturas que já se encontram expostas numa tenda, na Praça das Esculturas.
Todas as obras de arte, que são um dos ex-libris do evento, carregam uma mensagem de necessidade de mudança, assente numa consciência cívica e ambiental. Um dinossauro, por exemplo, chama a atenção para o perigo da extinção das espécies, juntamente com um panda, que é também um símbolo da organização de defesa da vida animal WWF (World Wildlife Fund) e um urso polar, que corre também esse perigo devido ao degelo dos glaciares. Há também referências à poluição industrial, ao Acordo de Paris e às energias limpas onde, por exemplo, é possível apreciar os painéis solares feitos com tabletes de chocolate. A par da iluminação, outra das novidades é o facto das esculturas estarem dentro de caixas gigantes e estarem integradas num cenário.
No centro da exposição está também o “centro das preocupações”, o globo terrestre e, ao fundo, um pequeno auditório com televisões permite a visualização de filmes sobre a temática das alterações climáticas.
A equipa que trabalhou as quase duas toneladas de chocolate branco, negro e de leite para concretizar as estátuas é liderada pelo chef Abner Ivan, e conta também com a participação da esposa, Natália Marinho, e de mais três pasteleiros, os repetentes Luís Faustino (pastelaria Pingo Mel Caldas da Rainha) e Wilson Silva (pastelaria do Bombarral) e o estreante Tiago Ferreira, do projecto alimentar Gramas com Sabor, das Caldas da Rainha.
E, porque se trata de uma edição com consciência ambiental, também algum do chocolate utilizado foi reaproveitado de peças do ano anterior.
Para quem saiu de água na boca com as esculturas em chocolate, a visita seguinte poderá ser, ainda na mesma praça, uma das bancas que ali se dispõem e que oferecem fondue com frutas, cerveja com chocolate, crepes ou ainda sabores tipicamente brasileiros, como o brownie e tapioca.
Chocolates da América Latina
No Terreiro dos Cacaus, uma casa virada ao contrário alude aos violentos tornados que cada vez mais se registam em algumas partes do mundo. Lá dentro, e a funcionar nas mais perfeitas condições, está o ponto de venda do Ló d’Óbidos, um bolo que junta o chocolate e a ginja d’Óbidos e que, por preocupações de saúde, utiliza apenas açúcar amarelo. A sua autora é a engenheira alimentar Bruna Alves, das Gaeiras, que desde sempre teve o “bichinho” da cozinha.
Por ali estão também os Chocolates Eureka, uma marca espanhola há mais de 150 anos no mercado e que volta a patrocinar as esculturas, disponibilizando toda a matéria prima para a sua concretização. As esculturas feitas para o certame do ano passado estiveram recentemente em exposição no espaço da fábrica, em Pinto (Madrid), onde estão a fazer também um Museu de Chocolate.
Na cerca, a Eureka tem este ano associado o Chocomuseu. Não se trata de um projecto museológico, mas de um espaço que representa seis países da América Latina, com produção de cacau. “Em termos de Festival de Chocolate é um testemunho importante da dimensão internacional”, explicou Lino Romão, coordenador do evento à Gazeta das Caldas.
Ao lado, pela Alameda dos Cacaueiros, é possível saborear chocolate das mais diversas formas e com os mais variados ingredientes, desde a fruta fresca à desidratada, passando pelo licor e os doces. Também ali fica o “spot” dos amantes das novas tecnologias. No ponto da Nestlé, os visitantes podem tirar uma foto que é directamente colocada nas redes sociais da empresa e também se habilitam a ganhar … chocolates.
Pizzas e spaghetti doces
Um pouco mais acima, no Jardim dos Bombons, estes doces são reis e senhores do espaço. Desde as bombocas aos brigadeiros, passando pelos fofos, bolos que os visitantes podem “personalizar” a gosto. É também neste espaço que está o Daniel’s Chocolate, a fábrica leiriense que criou o bombom mais caro do mundo. O Glorius, que tem a forma de diamante e um custo superior a 7,5 mil euros, tem na sua confecção algumas das especiarias mais requintadas, como filamentos de açafrão, baunilha de Madagáscar, trufa francesa, óleo de trufa, flocos de ouro e revestimento de ouro.
Os bombons que estão em Óbidos são mais baratos, mas a organização está em conversações para ver da possibilidade de mostrar esta autêntica joia da doçaria, feita de forma artesanal pelo mestre chocolatier Daniel Gomes.
Os carrinhos de street food e salgados estão dispostos pelo Miradouro dos Salgados, com vista para o navio.
Também muito procurado no certame é o espaço Family Cooking onde a pizza em chocolate é um autêntico sucesso de vendas. Os participantes podem escolher os ingredientes (gomas, fruta ou cereais) a colocar na massa, onde é espalhado molho de chocolate. Foi o que fez a pequena Daniela Santos que, juntamente com os pais, escolheu a fruta e os cereais para colocar na pizza que depois levou para saborear em casa. “Acho muito bom comer uma pizza com chocolate”, disse a visitante, que é de Torres Vedras e uma habitué do evento.
Este ano há também um laboratório molecular, onde é confeccionado spaghetti de chocolate com caviar doce e espuma de vento, e que os “cozinheiros” poderão depois degustar. Também podem pôr as mãos na massa para fazer bolachas ou croissants.
Dentro da tenda há diariamente diversas exibições de showcooking, onde chefes pasteleiros, bloggers relacionados com a alimentação e escolas profissionais apresentam diversos pratos com um ingrediente em comum: o chocolate.
E se for distraidamente a passear e der de caras com um casal sem cabeça não se assuste. São o Mr e Mrs Chocolate que se perderam de amores pelos prazeres da vida e andam a espalhar essa felicidade e romantismo pelo evento. Mais barulhentos, e cómicos, são o duo A Chiclateira que, equipados com um carrinho de percussões feito com objectos reciclados, interpreta vários clássicos da música pop.
A garantir a animação estão também os Cottas Club Jazz Band e um chefe de andas que se passeia pelo festival com a sua boneca de chocolate.