Biblioteca acolhe o espaço de BD Jorge Machado-Dias. Doação inclui mais de 800 títulos portugueses e internacionais
Jorge Machado-Dias foi autor, editor e divulgador da banda desenhada em Portugal que escolheu as Caldas para viver. E colaborou com a Gazeta das Caldas, onde publicou 90 crónicas quinzenais sobre o mundo da nona arte, entre 2013 e 2018.
Este autor, que faleceu em março de 2020, vítima de cancro, tinha deixado expresso que pretendia doar as suas BD a uma biblioteca. E assim se cumpriu o seu desejo. A sua companheira, Clara Botelho, entregou a coleção de Jorge Machado-Dias à Biblioteca das Caldas, que inaugurou no passado sábado, 27 de novembro, a área dedicada à BD com o nome do proprietário do espólio.
A sessão de inauguração contou com amigos e familiares do autor e também com Conceição Henriques, vereadora da Cultura, que anunciou na sessão “o exemplo de cidadania” nesta partilha com a comunidade
A autarca deu também a conhecer que vai ser lançado um concurso de BD para jovens que terá início já no próximo ano e que o prémio terá também o nome de Jorge Machado-Dias. A Câmara das Caldas já tinha reconhecido o importante papel deste autor em relação à BD, pois atribuiu-lhe a medalha de mérito cultural, a título póstumo, em 2020.
Para a bibliotecária Aida Reis, esta doação “valoriza muito o espólio de banda desenhada” da Biblioteca, disse a técnica, acrescentando que o novo espaço se pretende vivo e, para tal, será importante que o espaço da BD possa ter ligação com as escolas. “As coleções não podem ficar paradas. É preciso ir adquirindo novos exemplares”, referiu também Aida Reis.
Na ocasião, a técnica da biblioteca, Carla Gonçalves, fez uma visita guiada pelo espaço onde se encontram a BD franco-belga, as edições portuguesas organizadas por autor ou série de livros. “Temos a zona dos comics e ao lado publicações periódicas sobre BD e há uma outra área que se dedica totalmente às fanzines”, disse a profissional, referindo ainda que grande parte dos álbuns e dos livros pode ser lida em casa pelos leitores que os podem requisitar.
Seguiu-se a inauguração de uma exposição documental que inclui documentação variada, pranchas, vinhetas daquele autor, assim como livros autografados a Jorge Machado-Dias e que vai estar patente até janeiro de 2022.
Tropa e revolução
“Hoje é um dia muito especial”, reconheceu Clara Botelho, a viúva do doador, satisfeita por ter cumprido o desejo do seu companheiro.
Na partilha de memórias deste autor, Clara Botelho contou que Jorge Machado -Dias entrou para a tropa a 23 de abril de 1974 e que ele se encontrava no quartel de Santarém “quando ouviu sair Salgueiro Maia a dirigir-se a Lisboa para derrubar o regime”.
Mas como era recruta, acabado de chegar, ele e outros “foram mandados para casa”, contou a docente.
Presente na sessão esteve, também, Paulo Monteiro, o diretor da Bedeteca de Beja, que sublinhou “o apoio fundamental” de Jorge Machado-Dias dava às realizações de BD por todo o país. Neste último momento de partilha foi referido que o lisboeta estudou artes visuais na Sociedade Nacional de Belas Artes e arquitetura nas Belas Artes, tendo optado em 1983 por seguir a profissão de designer gráfico.
Em 1995, o autor escreveu o argumento para os livros de banda desenhada “As Aventuras de Paio Peres, (volumes 1 e 2)”, ilustrados por Victor Borges e fundou a editora Pedranocharco Publicações. Em 2005 lançou o jornal/revista sobre banda desenhada BDjornal, cuja publicação só terminaria em 2013.
“Este era um homem com uma paixão, a BD, e era muito determinado”, partilhou Clara Botelho. Na sua opinião, o novo espaço na Biblioteca “é mais valia para a cidade e gostava que fosse dinamizado pelas escolas sobretudo com a ESAD”. Até porque, entre o material doado “há muitos temas para realizar investigação em várias vertentes da BD”.
A viúva considera que a dinamização do espaço “é fundamental” e gostaria que fosse animado com a realização de workshops, conferências e apresentações de livros. “Mais do que satisfeita, estou comovida”, disse Clara Botelho, com o anúncio do prémio e concurso Jorge Machado-Dias, anunciado pela vereadora da Cultura. E ficou igualmente contente por a doação ter sido concretizada à Biblioteca Municipal das Caldas da Rainha “onde há técnicos que saberão dar continuidade e fazer aquisições criteriosas”, rematou Clara Botelho. ■