O Centro de Bem Estar Social de Coz é um bom exemplo da dinâmica que uma associação local consegue dar ao património. A comunidade juntou-se para valorizar o Mosteiro de Santa Maria de Coz, que está aberto a visitas graças aos esforços da associação e da autarquia.
O Mosteiro de Coz chegou a ser um dos mais ricos mosteiros femininos a nível nacional. Do edifício original pouco se mantém, mas a igreja é ainda um testemunho dessa riqueza. Exemplos desse património vetusto, são o coro das monjas (com um portal manuelino e o cadeiral do final do século XVII e o início do XVIII), o conjunto de altares em talha dourada dos finais do século XVII, os painéis de azulejo, a abóboda com 80 caixotões de madeira do século XVIII e até uma pintura de Josefa d’Óbidos
Com a extinção das ordens religiosas, em 1834, ficou o mosteiro ao abandono. Partes do seu complexo foram posteriormente transformadas em habitações, armazéns, palheiros e pocilgas. Em 2011 a autarquia comprou terrenos ao redor do antigo mosteiro e começou a tentar recuperar a propriedade. Em 2013 teve início a demolição dos elementos posteriores a 1834.
Há três anos o Centro de Bem-Estar Social de Coz lançou o projecto Coz’Art e a partir do ano seguinte abre o mosteiro ao público, assegurando a abertura, visitação e dinamização daquele espaço, numa parceria com a Câmara de Alcobaça. Em menos de dois anos aquele monumento, que estava ao abandono, recebeu mais de 8000 pessoas e várias iniciativas.
Mas a dinâmica desta associação vai muito além de mostrar o edifício que tem. Com as visitas notaram que faltava um produto identitário daquele monumento que as pessoas pudessem comprar. No ano passado, nos Doces e Licores Conventuais, apresentaram o Pão-de-Ló de Coz, numa reinvenção de uma receita antiga das monjas.
Além disso, ao abrigo do mesmo projecto revitalizaram a arte de trabalhar o junco e formaram novos artesãos (contou com parcerias com a ESAD ao nível do Design) e tem hortas biológicas cujos produtos são usados na alimentação dos utentes.
O trabalho desenvolvido pelo Centro de Bem-Estar foi apresentado no Fórum do Património que reuniu, a 28 de Setembro, na Biblioteca Municipal de Alcobaça, as Organizações Não Governamentais ligadas ao Património.
E se aqui se trata sobretudo da população sénior do Centro quem dinamiza o mosteiro, em Tomar, por exemplo, existe um grupo não formal que reúne pessoas de todas as idades para manter e salvaguardar o Aqueduto de Pegões (Convento de Cristo). Chama-se Grupo de Amigos do Aqueduto do Convento.
Além disso, a Associação do Património e da População de Alfama apresentou o seu trabalho na salvaguarda do património do centro histórico de Lisboa e a Associação de Defesa do Património de Beja falou da sua acção no âmbito da programação do Ano Europeu do Património Cultural.
MAIOR RAPIDEZ CONTRA A DESTRUIÇÃO
Num fórum que durou todo o dia, a presidente da Associação Portuguesa para a Reabilitação Urbana e Proteção do Património, Alice Tavares, defendeu que há uma necessidade de intervenções mais qualificadas em património cultural e salientou o apoio que as ONG podem dar às entidades públicas e privadas na elaboração dos programas de reabilitação e na identificação de usos compatíveis.
Por outro lado, foi dado relevo à necessidade de implementar a legislação (sobretudo a Lei de Bases do Património e as normas internacionais) em relação ao contributo das associações na gestão do património cultural.
No fórum, as ONG mostraram ainda as suas preocupações, relacionadas sobretudo com a capacidade de acção, com a rapidez e eficácia necessária, quando confrontadas com destruições de elementos patrimoniais, cada vez mais frequentes. Outra questão que tem de ser pensada é a capacidade das ONG de criar estratégias de financiamento sustentável.
O evento relembrou o I Congresso Internacional para a Investigação e Defesa do Património, decorrido em 1978 em Alcobaça, e cujos 40 anos foram assinalados numa pequena exposição retrospetiva no auditório da Biblioteca de Alcobaça.