Já começou a celebração do legado da Rainha D. Leonor com conferência e ceia quinhentista que teve lugar no Hospital Termal
A 31 de maio, a Secundária Bordalo Pinheiro, acolheu a conferência “Uma Rainha para Quinhentos Anos: D. Leonor (1458-1525)”, proferida por Isabel dos Guimarães Sá. A biógrafa – autora do livro “De Princesa a Rainha-Velha” – afirmou que não há retratos da rainha, apenas figurações que não tinham a função de retratar a sua fisionomia. Logo “é uma pessoa que não tem rosto, nem cor”. Pelo contrário, o seu nome é apresentado como Leonor de Avis, de Lencastre, de Beja, de Viseu ou seja “nem o nome é fácil”. Falar desta rainha envolve um esforço de abstração pois apesar de falar português “seria muito diferente daquilo que se tornou hoje”.
Apesar da falta de fontes, “percebi que a rainha que nunca foi governante, mas tentou aproveitar o melhor possível os privilégios da sua condição”. Descendente de uma família poderosa, que era mais rica que o próprio rei, “era uma mulher pragmática que sabia da área de negócios por causa da família”. D. Leonor era também grande conhecedora do Latim, que era então a língua da religião.
A rainha teve apenas um filho, D. Afonso, que faleceu num acidente em Santarém. Tinha 32 anos e foi a partir deste trágico acontecimento que “deixou o Reino órfão”.
Quanto às Caldas, Isabel dos Guimarães Sá explicou que a rainha não teve intenção de fundar uma cidade, mas sim de “fundar um hospital que depois acabou por se transformar numa cidade”. Trata-se de uma criação importante dado que é para todos: nobres, clero e povo . E isso é interessante e que está relacionado com o facto dela ter acumulado grande riqueza e de até ter prejudicado pelo menos três rainhas consortes “pois nunca lhes deu as suas terras”. Era muito pragmática e fez do Hospital das Caldas “uma entidade administrativa e autónoma, feita para durar”, rematou a historiadora que no seu livro tentou aproximar-se desta figura histórica que protegia os pobres. Ao serão, realizou-se uma Ceia Quinhentista da Rota Raynha das Águas, no Hospital Termal. Ao todo 30 convivas tiveram a oportunidade de degustar alguns sabores da época.
A Ceia Quinhentista foi coordenada por Margarida Varela, da Rota Raynha das Águas. No início de repasto, deu a conhecer o rigor com que tentam inferir e ter a certeza da realização de algumas das receitas que poderão ter sido apreciadas na época da rainha. Nos pratos que foram confecionados “há o cheiro da abundância das especiarias” e por isso gengibre, canela e cravinho da Índia marcaram presença nas propostas. Na base desta prova gastronómica são os produtos do Oeste “tal como acontecia quando a Rainha vinha para as Caldas”.
As entradas incluíram uma cataplana de berbigão de cebolada, mexilhões de Achar, almondegas Segredos de D. Beatriz e ovos de codorniz que poderiam ser mergulhados numa calda doce.
A original refeição foi servida com vinho quente e infusão de chá e começou com a degustação de uma tosta de pão, onde foi servido um desfiado de láparo caramelizado sobre uma conserva de beringela.
Seguiu-se um prato de búzios com grão e açafrão e depois, carne de vaca com ameixas, que foi cozinhada em vinho tinto da região. Foi servido com pão frito e cabeça de nabo. Serviram-se, entre outras, Pão de Lot, Lampreia, Torta Arrelia que foram acompanhadas por hidromel. Antes das sobremesas, a vereadora Conceição Henriques recordou que as duas atividades – conferência e ceia – integraram o Programa Evocativo dos Cinco Séculos de Legado da Rainha D.ª Leonor.
A autarca afirmou que haverá mais conferências e ceias nesta celebração que decorre até novembro e que conta com a colaboração de vários parceiros da cidade. A refeição foi servida com a colaboração de alunos da Escola de Hotelaria e Turismo do Oeste.