O Caldas Late Night (CLN) continua a provar que é um evento para vários públicos e que reflete o que se passa no mundo
“O Caldas é de todes para todes!” é um dos slogans que pode ler-se no próprio mapa desta 28ª edição do CLN e de facto terá sido uma das edições mais inclusivas com preocupações várias e com espaço para iniciativas feitas por grupos minoritários.
Houve inclusivamente um espaço de denúncia, que estava à disposição dos visitantes numa das intervenções, para quem sentisse que estava a ser alvo de algum tipo de discriminação.
“O nosso projeto está inserido aqui na Casa Não”, disse Mariana Cerejo, uma das responsáveis pelo projeto The Relationship Design Game, que podia ser adquirido no Céu de Vidro. Este albergou várias performances onde a sexualidade foi o mote principal.
“Estamos também a promover o evento Speed Dating onde vai ser possível os participantes jogarem o Sexuality Design Game e a ideia é poderem conversar sobre relacionamentos e sexualidade”, disse a designer, que conhece bem o CLN pois já veio participar em edições anteriores.
Já Iago Moura Mota veio do Porto para participar no evento com uma intervenção poética que teve lugar nas ruínas da Casa da Cultura. Transfigurado numa estranha figura, vestido de branco e negro, o autor apresentou um espetáculo poético onde fez um balanço sobre o seu último ano e que envolve uma passagem nas Caldas da Rainha.
Já numa das travessas sem saída da Praça 5 de Outubro, onde fica o restaurante Taskinha do Beco, a artista Vera Gonçalves fez desafios à perceção dos visitantes da iniciativa. A autora, que trabalha na ESAD.CR colou cadeiras e uma mesa numa parede, mudando a perceção que se tem do próprio lugar. “Houve muita gente que veio interagir com o próprio espaço”, disse a artista, que ainda colocou em fundo uma imagem do Hospital Termal – obtida em 360º- e que nos dava a sensação ótica de que um visitante ficava “pendurado” numa janela lateral ao edifício. Ao fundo dessa imagem, também estão os Pavilhões do Parque.
“Proponho que as pessoas procurem outras dinâmicas”, disse Vera Gonçalves, enquanto recebia um novo grupo que veio experimentar a sua instalação. Eram as antigas estudantes da escola de artes caldense, Carolina Lopes e Ana Magalhães que se formaram em Artes Plásticas e que são respetivamente do Entroncamento e do Porto.
“O nosso grupo da faculdade ficou muito unido e como uma das nossas amigas veio vender cerâmica no Mercado do Artesanato, decidimos fazer um reencontro”, contaram as jovens, que acham que o CLN “dá um movimento completamente diferente à cidade. Esta ganha uma outra vida!”.
A caldense Rita Duarte foi uma das autoras que esteve a vender no Mercado do Artesanato, que decorreu a 30 de maio no Parque.
Há seis meses que transforma talheres antigos em peças de bijuteria como brincos ou anéis. “Compro as colheres antigas em feiras de velharias e é a primeira vez que estou a mostrar o que faço no CLN”, disse a autora que usa a concha para brincos e o suporte para anéis. Diz que conhece o CLN “desde que nasceu” pois tem menos um ano que o evento, que este ano assinala o 28º aniversário. Rita Duarte, que vem de 15 em 15 dias à sua terra natal, considera que “é incrível como se consegue colocar tantas iniciativas a acontecer ao mesmo tempo em três dias e que continua a atrair tanta gente às Caldas”.
Mariana Fralda é artista plástica e é de Almada. Ficou pelas Caldas, após se ter formado na ESAD.CR. Estava a expôr numa das salas do Posto de Turismo. “Faço uma interpretação dos corpos, testando os imites do sentir, refletindo sobre o conforto e o desconforto”, disse a autora que tanto se expressa em pintura, gravura comno em escultura. Neste momento está também dedicada à cerâmica onde também inscreve vários corpos.
Mariana Fralda veio mostrar a sua mostra a um grupo de amigos que veio de Almada para o CLN e foi ficando, dando a conhecer aos muitos visitantes pormenores sobre o seu trabalho.
Para a autora, o Caldas é, por um lado, “complexo pois tem muita coisa a acontecer em simultâneo” enquanto que, por outro, continua a ser “muito interessante” pois dá espaço aos artistas e permite “dar a conhecer os seus trabalhos”. A artista já teve a oportunidade de expôr numa mostra no Museu Malhoa. “E é o CLN que nos abre essas portas”, rematou a autora.
Luta e Slide são apostas ganhas
Sempre com grande adesão do público realizou-se no sábado, 31 de maio, o Slide, na Rua do Ilha e a Luta das Almofadas que se concentrou na Praça da Fruta.
Além das galerias e lojas terem aberto para se transformarem em espaços culturais, o CLN também ocupou algumas (poucas) casas e alguns pátios exteriores. Foi possível fazer tatuagens a desoras, sobretudo da casinha, que é o símbolo do próprio evento. Famosas são também as intervenções itinerantes com bandas a tocar em carrinhas de caixa aberta, “sofás” com rodas que se deslocam por várias zonas e as muitas festas que acontecem em pontos chave onde há música, convívio, lenços de seda e até…bolas de sabão.
Em vários locais houve os chamados casarões onde foi possível ver exposições e sobretudo dançar ao som de DJ’s. Neste tipo de ocasião há sempre alguns excessos, seja no volume sonoro, seja no lixo do pós-evento ou nalguns comportamentos menos positivos, motivados pelo abuso de substâncias.
Este ano esteve presente, mesmo ao lado da banca onde foram distribuídos os mapas e onde se poderia comprar algum merchandising do evento, um espaço onde se poderia fazer o teste de álcool e conhecer os efeitos dos mais diversos tipos de drogas no organismo.
CLN dá lugar às minorias
À parte de alguns problemas técnicos, relacionados com logística, a iniciativa “correu muito bem” e voltou a atrair milhares de pessoas ao longo dos três dias.
O CLN – que continua a ser um porto de reencontro para antigos estudantes da ESAD.CR – continua a ser um dos eventos “que oferece maior diversidade de programação cultural e que atrai gente de todo o país!”, disse Bruno Barros, um dos elementos da organização.
Em vários locais, sobretudo durante as tardes, houve tempo e espaço para várias minorias se darem a conhecer através de “lugares de fala” de poesia ou até de performances. Este foi um Caldas “de luta” pois houve espaço para a diferença.
“Há de facto muitos públicos diferenciados que procuram coisas diferentes do próprio evento”, reconheceu o organizador, que considera que o CLN é a iniciativa “mais democrática que se faz nesta localidade”. O Impulso também fez parte e ofereceu 14 concertos, que decorreram em espaços como o Centro de Artes, Silos, CCC e na Igreja do Pópulo. A maioria contou com casa cheia e, portanto, será para repetir no próximo ano. O evento, que conta com o apoio logístico da Câmara das Caldas, teve várias intervenções onde se demonstrou apoio ao povo da Palestina.