Vasco Trancoso viu uma fotografia sua integrar o livro mundial de fotografia de rua pelo segundo ano consecutivo. “Red Line” é uma das 222 selecionadas para ser editada na quarta edição do anuário da World Street Photography que foi lançado em Portugal a 20 de Julho. Além disso, foi considerado um dos 30 melhores fotógrafos de rua pelo site Eye, Heart & Soul.
Num total de mais de 20 mil fotografias que, no último ano, foram publicadas no site do World Street Photography pelos 2320 fotógrafos de rua de 77 países, o júri (composto por oito curadores) escolheu uma fotografia do caldense Vasco Trancoso.
A fotografia selecionada foi tirada em frente à Praça de Touros das Caldas e tem, em primeiro plano, uma silhueta a preto à esquerda e, em segundo plano, uma mulher vestida de branco à direita. Depois há uma linha vermelha pintada a spray nas paredes da praça. À primeira vista é uma fotografia tauromáquica, que poderia até ter sido feita em Espanha, mas, na verdade, resulta de um jogo de sombras, luz e cor que o fotógrafo soube captar num momento único.
Vasco Trancoso, que foi também considerado um dos 30 melhores do mundo pelo site Eye, Heart & Soul, disse à Gazeta das Caldas que a presença no livro (que tem fotos de outros seis portugueses), é a “continuidade do reconhecimento” internacional do seu trabalho e que é “um incentivo reconfortante para quem, nesta matéria, não depende de amigos ou grupos de interesse”.
Já sobre o facto de ser considerado um dos 30 melhores, disse que pessoalmente julga “que não faz muito sentido rankings, necessariamente subjectivos, sobre esta matéria”, mas que essa classificação vale como incentivo.
Em relação à fotografia que integra o anuário da WSP, Vasco Trancoso não a quis descrever para não limitar a visão das pessoas à sua interpretação, mas deixou uma pista no título: “linha vermelha”, tal como a que se vê na imagem.
É que na fotografia de rua é valorizada a possibilidade de cada obra contar uma história. Caso o autor explique o que ali viu, restringe aquilo que o observador lá vai ver.
Além disso, “em fotografia de rua nem sempre são essenciais os personagens ou os assuntos” pois há casos em que, tal como em pintura, o que importa é “a composição cromática e o jogo de luz e sombra, tal como num quadro abstracto em que os aspectos descritivos e figurativos são secundarizados”, explicou Vasco Trancoso.
A fotografia de rua consiste em retratar momentos que aconteçam em espaços públicos (não só na rua). Mas não é fotodocumentário, nem fotojornalismo. E não é por se chamar fotografia de rua que tem, necessariamente, de mostrar uma rua. Os temas são muito variados, mas pode, por exemplo, ser um rosto, um objecto, formas ou uma situação.
Trata-se de um estilo que se popularizou com a invenção das máquinas portáteis e que tem milhares de amantes em todo o mundo. Mas fazê-lo nas Caldas não é fácil e dá muito trabalho porque numa cidade pequena “as situações extraordinárias são mais raras do que nas grandes metrópoles”, explica Vasco Trancoso.
Antes de se reformar e passar a dedicar-se mais intensamente à paixão antiga pela fotografia, o agora fotógrafo de rua foi médico. Foi ele que criou o serviço de Gastrenterologia no Centro Hospitalar das Caldas, do qual foi também presidente do Conselho de Administração. À Gazeta, Vasco Trancoso explicou o que o move, aos 67 anos, a andar pelas ruas com a máquina na mão: “quando saio para fotografar pelas ruas, parto como se fosse à aventura, gosto de deambular ao sabor da luz”, afirmou.
Para o futuro pretende continuar a fotografar detalhes das Caldas e desenvolver um primeiro projecto em Óbidos. E não exclui vir a publicar um livro com este tipo de fotografias “feitas exclusivamente numa cidade [as Caldas da Rainha] que nunca foi abordada deste modo, por esta modalidade fotográfica”.