“Frasco de Veneno”, assim se designa a colectânea de crónicas de Vítor Ilharco, dada a conhecer a 10 de Dezembro, na Junta de Freguesia de N. Sra. do Pópulo. A apresentação dos dois volumes desta obra esteve a cargo do actor José Ramalho e do ex-autarca Isaltino Morais.
Na plateia estiveram vários ilustres amigos deste cronista, que é secretario geral da APAR (Associação Portuguesa de Apoio ao Recluso) como o ex-primeiro-ministro da Guiné Bissau, Francisco Fadul e o candidato à Presidência da República, Cândido Ferreira.
Os dois volumes de “Frasco de Veneno” reúnem crónicas de Vítor Ilharco que foram publicadas em vários blogs e jornais regionais.
São, como referiu o actor José Ramalho, textos contemporâneos de escárnio (onde se usa alguma ironia) e de mal dizer (quando se diz tudo aquilo que se pensa). O encenador fez uma viagem ao passado para falar sobre as várias personagens que tinham o papel de denunciar o que estava mal na sociedade. Foi até às antigas civilizações para contar quem “chamava os bois pelos nomes”. Na sua opinião, é isso que Vítor Ilharco faz nas crónicas do seu “Frasco de Veneno”.
“Este é um livro sobre a forma como funciona da sociedade portuguesa”, afirmou o ex-autarca e ex-presidiário Isaltino Morais, tendo referido que cumpriu pena, na prisão da Carregueira, durante 14 meses. Foi lá que conheceu Vítor Ilharco enquanto dirigente da APAR e com ele trocou correspondência.
Isaltino Morais diz que Vítor Ilharco “é um homem solidário que dá até aquilo que não tem”, elogiando-o pelo que faz pela comunidade prisional, “lutando por quem não tem voz”. Quanto ao “Frasco de Veneno” o ex presidente de Oeiras diz que é uma daquelas obras “que se lê numa noite”.
Durante a apresentação foram partilhadas muitas das estórias do livro onde o cronista, sem papas na língua, refere o lapso do Presidente Cavaco sobre as vacas que riem na Madeira e os “cidadões”. Falou também do
caso verídico que envolveu o coronel Carlos Lacerda e Alberto João Jardim quando este último, num comício de 1978, referiu que as Forças Armadas “perderam a masculinidade”. O militar pediu-lhe uma audiência para lhe mostrar, pela força, que não era “efeminado”. O político foi “fazer queixinhas” ao Conselho da Revolução, ou seja “àqueles a quem tinha chamado “meninas”!”. Tudo isto para referir que faltam “Lacerdas” que se revoltem com o estado de coisas a que o país chegou.
Noutra crónica, esta dedicada a António Palouro, Vítor Ilharco contou que, ainda antes do 25 de Abril, foi convidado para ser delegado do Jornal do Fundão, na Covilhã. Foi nessa função que acompanhou o director do periódico a Lisboa duas vezes por semana para levar os textos à Censura. Numa dessas viagens viram um velho com uma criança a pedir boleia. Palouro mandou-os entrar. Era a estreia do petiz a andar num carro e naquele dia o avô teve coragem de, timidamente, pedir boleia. O director passeou os convidados durante meia hora e era um regalo ver a satisfação da criança e a gratidão do avô. Palouro deixou-os no sitio onde os tinha apanhado e comentou: “Não esqueças uma coisa: tens o melhor avô do mundo!”, contou Ilharco na sua crónica.
“Vivemos numa democracia subvertida”
Para Francisco Fadul, que foi ex-primeiro-ministro da Guiné Bissau entre 1998 e 2000, Vítor Ilharco “é um
homem de carácter que tem um sentido de humanismo tocante”. Os dois homens são amigos, até mesmo “irmãos” pois para Francisco Fadul, ambos interessam-se “pela procura de soluções para a Guiné Bissau”. Este responsável é ainda o fundador no seu país do Partido para Democracia, Desenvolvimento e Cidadania.
Cândido Ferreira, que é candidato à Presidência da República, considera que “sob o ponto de vista literário, estamos perante um escritor”. Acha que “Frasco de Veneno” reúne várias criticas sociais de grande interesse e que o seu autor as faz com “grande finura”.
O também médico contou que a sua candidatura já tem reunidas 9.000 assinaturas e ainda deu a conhecer que os independentes, ao contrários dos candidatos partidários, “têm que pagar IVA”. Na sua opinião, “vivemos numa democracia subvertida”, rematou.
Cândido Ferreira destacou-se nas últimas semanas nos jornais por ter avançado com uma queixa à Procuradoria Geral da República pela venda da TAP, alegando que o negócio firmado pelo anterior governo prevê que os lucros fiquem do lado do privado e que, a haver prejuízos, serão assumidos pelo Estado, isto é, por todos os contribuintes.