Desporto de formação aguarda retoma competitiva

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| Joel Ribeiro
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Há milhares de atletas, treinadores e árbitros de várias modalidades desportivas que estão sem competir há dez meses. Uma paragem longa demais para quem tinha no desporto uma motivação

Na época passada, entre futebol e futsal, a Associação de Futebol de Leiria registou a incrição de 8914 atletas de formação, mas desde que os campeonatos foram parados, em março, que nunca nada voltou a ser como dantes. E o cenário repete-se em inúmeras modalidades desportivas, que anseiam pela retoma.
Depois do confinamento, alguns clubes voltaram à prática desportiva, mas sem vertente competitiva, por determinação da Direção-Geral de Saúde. Podem realizar-se treinos, mas sob determinadas regras. E campeonatos e torneios continuam suspensos.
Uma das soluções para o problema foi encontrada pela AF Leiria, que se baseou no facto de a legislação permitir a realização de jogos no escalão sénior e criou o escalão de sub-21, que abrange juniores e os juvenis que façam o devido exame de aptidão física.
“Esta foi a forma que encontrámos para permitir que um conjunto alargado de jovens pudesse jogar futebol e futsal”, explica o presidente da entidade que rege a modalidade a nível distrital.

“Tínhamos, em média 170 jogadores inscritos por época. As nossas equipas estão a 40% ou 50% da capacidade”
João Carrilho (Areco)

“A segurança dos jovens está em primeiro lugar. Não havendo competição não fazia sentido termos atividade”
Hugo Feliciano (CB Caldas)

Manuel Nunes valoriza o facto de os clubes “terem respondido bem ao desafio”. “Temos 28 clubes inscritos no Torneio Distrital de Sub-21 de futebol, o que foi muito positivo e até recusámos a inscrição de equipa do distrito de Santarém”, nota o caldense, que destaca o facto de, por esta via, muitos jovens “estarem habilitados a praticar desporto e a fazer a modalidade que gostam”.
Preocupada com as finanças dos clubes, a AF Leiria aprovou, em junho, um apoio extraordinário de 165 mil euros (beneficiando do estorno dos prémios dos seguros e de um empréstimo da FPF). E, mais recentemente, permitiu a inscrição dos jovens da formação a preços muito reduzidos. Uma forma de proteger os atletas e os clubes que mantiveram a atividade, ou seja, os treinos. “Reduzimos cerca de um terço do custo da inscrição, mas, não havendo competição, os clubes não estavam a inscrever os atletas. Com esta opção, podemos evitar problemas aos clubes, pois os atletas têm de fazer os exames médicos e, além disso, em caso de algum sinistro, os atletas e clubes ficam mais salvaguardados”, explica o caldense.

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Clubes com visões diferentes
Sem competições oficiais para os escalões de formação, coube aos clubes a decisão de manter ou não a atividade. Dentro do concelho das Caldas da Rainha é possível encontrar as duas hipóteses.
No futebol, a Areco foi um dos clubes que optou por manter a atividade, embora com restrições. João Carrilho, coordenador da escola de futebol Victor de Sousa, diz, no entanto, que há ainda dificuldades para ter atletas. “Tínhamos, em média 170 jogadores inscritos por época, diríamos que as nossas equipas estão a 40% ou 50% da capacidade”, refere.
Isto acontece porque os encarregados de educação não têm ainda confiança para fazer os atletas regressarem aos treinos, ou porque têm na família elementos que são considerados de risco. Assim, para reativar os treinos, a Areco reduziu o número de sessões, que na maior parte das equipas foi reduzida a uma. A exceção são os sub-21, que já têm competição, e os sub-13.
Manter a atividade foi uma medida para permitir que a escola de futebol se mantivesse. “Somos um clube modesto, se não for suportada a atividade pelo contributo dos encarregados de educação não conseguimos funcionar”, refere João Carrilho, acrescentando que a estrutura técnica foi mantida em relação à época passada.
Visão diferente teve a Casa do Benfica das Caldas, que suspendeu praticamente todas as atividades. “Estamos a tentar reativar modalidades individuais. Já começámos a patinagem, com turmas mais pequenas, e estamos a preparar a escola de dança, mas como há muito contacto com o chão tentámos salvaguardar os alunos”, diz Hugo Feliciano, presidente da coletividade.
A escola de futsal está parada, a apenas os trabalhos da equipa de sénior reataram, por haver competição da AF Leiria. “A segurança dos jovens está em primeiro lugar. Não havendo competição não fazia sentido termos atividade só para termos as quotas”, sublinha Hugo Feliciano, apesar disso acarretar “repercussões graves a nível financeiro”. De resto, nem a própria sede foi ainda reaberta. “Mesmo sob o risco de perdermos muitos miúdos, não cedemos, porque um infetado pode gerar um efeito bola de neve que coloca demasiada gente em risco”, acrescenta. Hugo Feliciano nem quer fazer contas ao número de atletas que a instituição deixou de ter. Antes da pandemia a Casa do Benfica tinha cerca de 300.
No entanto, o dirigente acredita que é possível recuperar estes atletas no futuro. E a Casa do Benfica está a preparar iniciativas para manter a ligação com e entre os jovens, nomeadamente com torneios de jogos virtuais, com o primeiro marcado já para janeiro.

Técnicos mantêm ligação
Se para os clubes a situação é difícil, não o menos para atletas e treinadores. Bruno Francisco é treinador de futebol e para esta época estava escalado para orientar a equipa de sub-13 do Caldas, mas a suspensão da atividade do clube nos escalões jovens ditou que ficasse parado. O técnico, de 33 anos, iria para a 14ª temporada como treinador de formação e, apesar de as consequências da paragem serem negativas para todos os intervenientes, concorda com a postura do clube. “Com o número de casos a aumentar, a quantidade de atletas que o clube tem e as estruturas que tem á disposição, foi a atitude mais sensata”, considera.
Bruno Francisco iria manter o mesmo grupo com o qual trabalhou na época passada e tem mantido o contacto com os atletas. “Falamos porque, mais do que a parte física, é importante cuidar da parte mental. São crianças que tinham naquela hora e meia de treino o escape depois de um dia de escola, ou dos outros problemas que possam ter”, sublinha, acrescentando que tem conhecimento de encarregados de educação que recorreram à ajuda de psicólogos para ajudar as crianças a entender o que se está a passar.
No grupo que orientava, há jovens que se mantêm sem atividade física, mas também há outros que optaram por outras modalidades que estão em atividade, como a natação e o basquetebol.
O técnico acredita que a maior parte das crianças acabará por voltar ao desporto no fim da pandemia. No entanto, há um aspeto não pode ser descurado. “Tenho jogadores que subiram a infantis na época passada, quase não puderam evoluir e na próxima serão iniciados e jogam futebol de 11, o que é uma mudança muito grande, que tem que ser devidamente acautelada”, adverte o técnico.

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