Diretor técnico do Caldas, Rui Almeida vê no desenvolvimento das insfrestruturas do clube um importante fator de desenvolvimento
Foi um dos rostos mais visíveis do Caldas semifinalista da Taça de Portugal 2017/18. Na época seguinte terminou a carreira, mas mantém-se como um dos homens fortes do futebol do clube, sénior e da formação, mas agora nos bastidores. Fomos conhecer o trabalho e as ideias de Rui Almeida como diretor técnico do Caldas.
Enquanto jogador, o Rui Almeida foi uma referência do clube. Hoje, numa função diferente, há o desafio de passar essa mística aos mais novos. É um desafio especial?
É muito especial. Primeiro porque, enquanto joguei no clube, desde 2014 até terminar, acumulei funções, tentando dar apoio aos nossos jovens e organizar o processo formativo do clube. No fim da carreira acabei por me dedicar mais ao processo. O mais importante para mim é esta ligação quase umbilical ao clube e batalhar todos os dias para passar esses valores aos mais novos. Penso que fazemos um trabalho muito interessante nessa parte.
O presidente Jorge Reis tem repetido a importância do papel do Rui no futebol do Caldas, mas são funções ‘invisíveis’ aos adeptos. Que funções são essas?
Basicamente, enquanto diretor técnico, dou apoio ao futebol sénior e ao futebol juvenil. Acabo por me desdobrar em várias funções, mas é a organização de todo o processo, os treinadores, os diretores, os treinos, os jogos. O Caldas tem hoje uma equipa vasta, mas continuamos a ser poucos para a exigência do que é estar no Caldas e que nós próprios nos impomos.
É um grande desafio? Porque envolve muitos atletas e as instalações são muito limitadas.
Sim, o clube está muito limitado em termos de instalações desportivas, estamos completamente asfixiados. Temos vários projetos a desenvolver, mas enquanto o clube não conseguir desenvolver as infraestruturas será complicado avançarmos mais. É algo que me preocupa bastante, porque o Caldas tinha esta época cerca de 400 inscritos e, se me perguntarem, nos próximos 10 anos não acredito que terá menos. Mas temos condições para desenvolver o nosso trabalho de forma sustentável, porque temos um projeto que vai cada vez mais além do futebol. Queremos que seja um complemento à vida dos jovens. Neste momento o clube tem nos seus quadros 22 atletas que conciliam o futebol com o ensino universitário, o que é um orgulho e que queremos potenciar ainda mais. Vemos o futebol como um sonho legítimo, mas não nos podemos demitir da nossa responsabilidade enquanto educadores e formadores.
Estão praticamente a arrancar os trabalhos das quatro equipas que vão participar nos nacionais. É importante mantê-las?
Há a prática errada de olhar para os jovens como se fosse uma equipa de adultos. No Caldas, nenhuma equipa jovem vai a jogo com a obrigação de ganhar, a maior conquista desportiva para nós é levar os atletas à equipa de seniores B, o que vai permitir ter uma equipa A mais sustentável. Já lutamos de uma forma tão desigual na Liga 3 que, se não criarmos a nossa própria fonte de alimentação, mais difícil será. O objetivo é sempre manter as equipas jovens nos patamares onde estão, sabendo que os sub-15 vão disputar a 1ª Divisão nacional e vai ser um desafio difícil. Os juvenis A vão disputar a 2ª Divisão nacional, penso que seja o contexto adequado, assim como a de juniores, onde muitos clubes já têm semiprofissionalismo. Para nós, mais do que os resultados, é o processo, o passar a identidade de uma forma consciente e desenvolver o sonho de chegar à equipa principal.
A visibilidade que a Liga 3 trouxe já se sente nas camadas jovens?
O que o clube faz na Liga 3 tem um impacto muito positivo nos jovens. Estamos a disputar uma prova amadora, que a federação diz que é profissionalizante, com jogadores que têm, na maioria, outras ocupações, e quem analisa o jogo não vê muitas diferenças entre o Caldas e os oponentes. Gostava muito que os sócios e os simpatizantes do Caldas compreendessem que o que se faz aqui é hercúleo, é resultado o trabalho que se faz aqui, da estabilidade que a estrutura criou. Temos que ter consciência que vai ser cada vez mais difícil manter o Caldas na Liga 3. A falta de infraestruturas que apontamos para o futebol juvenil são as mesmas para a equipa sénior, que não tem um relvado natural para treinar. O meu sonho era que o Caldas conseguisse alocar aqui [na Mata] todos os serviços, ter mais campos. Temo que seja complicado, mas daria um impulso maior e iria mobilizar ainda mais a população para sentir a energia do clube.
A nível pessoal, é nesta função que o Rui se sente bem?
Sinto-me realizado. É desgastante, já vamos começar uma nova época e ainda não parámos. É muita gestão de problemas, muita gestão de conflitos, mas é um trabalho que me realiza porque é uma tentativa diária de retribuir o que o clube foi para mim na minha formação pessoal e desportiva. Sinto esse dever de passar o que me passaram a mim. ■