“Na Alemanha o que perco a nível familiar é ganho em termos profissionais e qualidade de vida”

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CatiaMendesAlemanha copy
Cátia Mendes
31 anos
Caldas da Rainha
Düsseldorf – Alemanha,
Enfermeira
Percurso escolar: Escola D. João II, Escola Raul Proença, Escola Superior de Saúde de Beja (licenciatura em Enfermagem) e Escola Superior de Enfermagem de Lisboa (Especialização em enfermagem médico-cirúrgica, vertente nefrológica)

Do que mais gosta do país onde vive?
A ideia que à priori todos têm da Alemanha é a de um país frio, quer meteorologicamente, quer culturalmente, mas, como sempre quis conhecer a realidade da minha profissão noutro país, o destino trouxe-me até cá. Gosto de saber que estou na União Europeia, que estou num pequeno continente que se globalizou. O choque cultural não é de todo muito grande, a começar pela moeda e o conforto de saber que tenho uma identificação portuguesa, mas que é válida aqui. Eu gosto acima de tudo do civismo, educação e organização. Gosto de saber que aqui existe segurança e justiça. As pessoas são muito assertivas, tanto os doentes como os colegas de trabalho. Os doentes não são nada exigentes comparativamente com Portugal. O custo de vida é igual ou até em alguns casos inferior comparativamente com Portugal. A multiculturidade que se vive em Düsseldorf e o fato de estar no centro da Europa também são aspetos que me fazem ver a vida com uma perspectiva muito mais alargada.

O que menos aprecia?
Ponto número um: a língua alemã. Após um ano consigo comunicar, falar e entender, o que é óptimo, visto que é uma língua extremamente complexa, mas vou e quero continuar a desenvolver, até porque a empresa dá-me abertura para que o continue a fazer. Ponto número dois: conhecimentos e formação de enfermagem muito inferior a Portugal. Mas no que diz respeito a competências e desempenho de enfermagem na área onde trabalho, na hemodiálise, mantêm-se.

De que é que tem mais saudades de Portugal?
Tenho saudades da família e amigos, como é óbvio. Eles são insubstituíveis. Mas a minha mãe apoiou-me sempre desde o primeiro minuto e isso deu-me ainda mais força. O meu marido abraçou também este meu desejo de ter outra experiência profissional. Os colegas de trabalho são extremamente protectores em relação a mim e ajudam-me imenso na comunicação. O rio Reno não cheira a mar, mas dá para matar umas saudades de água. E tenho muitos dias de férias e a qualquer altura dou um pulinho às minhas raízes. Já agora, um grande cumprimento para toda a freguesia de Alvorninha, onde, com muito orgulho, cresci. A nossa formação pessoal, mesmo andando pelo Mundo, manter-se-á sempre.

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A sua vida vai continuar por aí ou espera regressar?
De momento não pondero regressar. Gostaria de dizer que sim, mas os seis anos que trabalhei em Portugal (felizmente sempre trabalhei) já não estavam a ser de todo satisfatórios, quer em termos salariais, quer em condições de trabalho. Mas penso que a maioria dos enfermeiros que estão em Portugal pensam desta forma. É mesmo inimaginável a atualidade – uma profissão que já foi muito prestigiada e acredito que continua a ser, mas muito maltratada. Aproveitei, assim, a minha vontade de querer um dia arriscar numa carreira fora de Portugal e agarrei a oportunidade que me deram. A empresa acreditou em mim, aqui consigo ver que reconhecem o nosso trabalho, há progresso, há ajudas para formações, passes mensais dos transportes públicos, incentivos frequentes e agora estou muito feliz. Sinto que o que perco a nível familiar é ganho em termos profissionais e conforto e qualidade de vida.

“Adoro a forma como tratam os animais. Não vi ainda um animal abandonado ou maltratado.”

A minha adaptação foi extremamente rápida. Tirando o choque da comunicação que no início se fazia unicamente em inglês, creio que não existiu choque cultural exorbitante. Posso ir a pé para o trabalho, mas na verdade, tenho bilhete mensal o que me faz apanhar o elétrico (5 minutos) quase sempre. O clima é naturalmente mais frio, mas temos dias muito quentes e de sol. O aquecimento é considerado um bem de primeira necessidade – as casas têm-no incluído no aluguer mensal, pelo que é muito acessível e confortável.
Adoro a forma como tratam os animais, como um membro de família. Não vi ainda um animal abandonado ou maltratado. Pelo contrário, às vezes até se cai no exagero de pensarem que não é um animal. Em cada freguesia há pelo menos dois parques de vários quilómetros quadrados com água e animais. Os alemães deliram com tudo o que diga respeito ao ar livre e natureza, o que me agrada naturalmente.

Cátia Cristina Vicente Mendes

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