Electrolíder, 30 anos de uma loja que trouxe inovação tecnológica para as Caldas

0
3709

A Electrolíder fez no mês passado 30 anos de actividade. A empresa teve por base da sua constituição a venda de material electrónico, mas ao longo da sua existência os sócios souberam adaptá-la às necessidades dos caldenses. Apesar de várias “modas” tecnológicas terem vindo e passado, a Electrolíder mantém-se uma referência na região neste segmento de mercado.

A 17 de Março de 1987 os irmãos Filipe e José Ventura fundaram a Electrolíder, Lda, que se tornou numa das mais icónicas lojas de material eléctrónico e informático nas Caldas da Rainha.
José Ventura já trabalhava no ramo da reparação de electrodomésticos, com passagens em empresas como a Casa Anselmo, ou o Centro Comercial Barão. O irmão mais velho, Filipe Ventura, trabalhava na Rol. Juntos faziam reparação de placas electrónicas para a fábrica de rolamentos caldense e foi daí que nasceu a ideia de criar uma empresa no ramo da electrónica.
A primeira loja abriu no número 27 da Rua Heróis da Grande Guerra, ao lado da morada actual, o número 29. Filipe Ventura mantinha o seu emprego na Rol, mas ajudava o irmão na loja.
A Electrolíder começou por se dedicar ao comércio de artigos para electrónica, base que ainda hoje mantém, e à construção e reparação de painéis electrónicos para a indústria.
Esta segunda vertente de negócio foi muito importante, porque garantia volume de negócio. Entre outros clientes, a Electrolíder fornecia empresas como a Rol, a Promol e as empresas cerâmicas.
“Tínhamos uma parceria com uma empresa que fazia a parte de metalomecânica, nós fazíamos os comandos electrónicos dos quadros”, conta José Ventura.
Nesses tempos a empresa chegou a ultrapassar os 300 mil euros de volume anual de negócios. No entanto, houve uma dupla alteração no tecido empresarial da região que fez a actividade da Electrolíder na indústria diminuir de forma considerável: muitas empresas industriais fecharam e as que resistiram passaram a ter menos trabalho. “Já não precisam de tantas coisas, ainda são nossos clientes, mas não com o volume de outros tempos”, refere José Ventura.
Hoje a empresa factura uma fracção daquele valor, que José Ventura não quis especificar, mas adiantou que “é bastante menos”. Os últimos anos têm sido fracos, diz o empresário. “Vai dando para garantir a autossuficiência. É um negócio específico de coisas miúdas. Para fazermos o mesmo volume de outros anos, temos que vender o dobro porque as margens também diminuíram”, sustenta.

A LOUCURA DOS ZX SPECTRUM

A fundação da Electrolíder coincidiu com a massificação dos computadores pessoais e estes foram uma parte importante do negócio da empresa caldense até 2005.
José Ventura recorda-se bem de ter visto no jornal A Bola um anúncio que dizia “agora o computador ao seu dispor”. “Nem era ainda o ZX Spectrum, era o ZX 81”, recorda. O anúncio surtiu efeito e José Ventura mandou vir um de Inglaterra. Vinha às peças, tiveram que o montar integralmente. Ao ZX 81 sucedeu o icónico ZX Spectrum. “Foi o grande início da informática para toda a gente”, refere.
Na altura não havia quem vendesse estes produtos nas Caldas, papel que a Electrolíder assumiu. “Vendemos cerca de 600 aqui na cidade”, acrescenta.
O negócio ligado aos famosos computadores que funcionavam com um leitor de cassetes e ligados a um aparelho de televisão não se esgotava nos próprios aparelhos, uma vez que os jogos também foram um negócio muito interessante para a empresa. “Não quero exagerar, mas chegámos a vender 300 cassetes de jogos por semana, era uma loucura”, exclama. A loja vendia tanto ao consumidor final como a outros lojistas de toda a região, o que justificava o volume.
Dos ZX Spectrum para os Amstrad (que lhes sucederam) e para os Schneider, os computadores evoluíram e também o negócio. Eram computadores que nem disco rígido tinham ainda, mas custavam perto de 650 contos, cerca de 3.250 euros.
O negócio da informática foi responsável pela ampliação das instalações para o espaço onde a Electrolíder hoje se encontra, primeiro com o aluguer da loja, depois com a aquisição do espaço, em 2005.
A informática era uma área de negócio em expansão e aos computadores juntou-se a assistência, que a empresa fazia questão de garantir, numa lógica de proximidade com o cliente. “Tínhamos uma filosofia para vender, que era estarmos presentes quando as pessoas precisavam”, assegura o empresário. Na altura um pequeno problema podia ser um quebra-cabeças para quem se estava a iniciar nos computadores e José Ventura lembra-se, por exemplo, de ter que ir à Benedita para acudir a um cliente que não encontrava a cedilha no teclado. “As pessoas precisavam de muito apoio”, sustenta.
Outra área que se abriu no campo dos computadores foi a informatização do comércio. A Electrolíder foi, também aqui, uma das pioneiras na cidade e em 1992 estava completamente informatizada. “Só as grandes firmas tinham alguma informatização, lembro-me que a Tricar tinha um programa que funcionava com fitas perfuradas, e a Secla também tinha uma parte informatizada”, diz José Ventura.
Uma parceria com a Infocaldas proporcionou a instalação dos primeiros programas de gestão para o comércio caldense. “Equipámos muitas lojas nessa altura, era uma novidade”, acrescenta.
A massificação dos computadores tornou, no entanto, o negócio atractivo para as grandes superfícies comerciais e em 2005 deixou de ser rentável vender computadores no pequeno comércio.
Uma das razões é que, antes, o computador podia ser adaptado ao gosto e á necessidade de cada cliente e isso envolvia muito trabalho. Era preciso acrescentar placas de vídeo, placas de som e modems. Hoje os computadores têm tudo isso incluído, são prontos a usar.

VENDER O QUE OS GRANDES NÃO QUEREM

“Não valia a pena insistir num modelo que se esgotava”, diz José Ventura para justificar o fim da comercialização dos computadores pela Electrolíder.
No entanto, a ligação à informática mantém-se até hoje. Se não justifica ter computadores, justifica-se vender acessórios, como diversos tipos de cabos, carregadores, adaptadores, entre outros. “O segredo das casas com muitos anos é estarem sempre atentas às mudanças e ajustarem-se às necessidades do mercado”, acredita. E o segredo passou por disponibilizar acessórios e componentes que não interessam às grandes superfícies por não serem de grande comercialização.
A empresa foi também aproveitando outros nichos de mercado que se foram abrindo, como a introdução da televisão digital terrestre (TDT). E direcionou-se também para uma gama de aparelhos de som, como mesas de mistura, colunas amplificadas, microfones e iluminação. “O cliente alvo é um cliente médio e as colectividades, tem sido uma área de negócio interessante”, diz José Ventura.
É especialista também em pilhas e baterias recarregáveis, “uma área à qual procuramos dar uma resposta de qualidade, sem negligenciar o preço”. A empresa caldense consegue inclusivamente refazer os conjuntos de baterias que já não estão no mercado.
A base da Electrolíder continuam a ser os componentes de electrónica, como as resistências, transístores, circuitos integrados, condensadores. A empresa tem catalogadas 7.600 referências em loja.
José Ventura nota que há uma procura interessante dos jovens por estes componentes para desenvolverem os seus próprios projectos, tanto ao nível do secundário, como dos estudantes da ESAD.
No sentido inverso, a empresa caldense sentiu a quebra de procura por estes componentes por parte dos reparadores profissionais. “Hoje defende-se muito a filosofia de trocar em vez de arranjar, a maior parte dos reparadores desistiram, procuraram outro tipo de serviços”, observa.
José Ventura considera que é cada vez mais difícil fazer face à crise e defende que só uma mudança de política local pode ajudar o comércio. “Caldas tem pouca população para o nível de oferta comercial que tem. Precisamos de muita gente de fora e é preciso que haja uma política para atrair pessoas à cidade. O evento do Natal é bom, mas não chega”, diz o empresário.

Noticias das Caldas
Este foi o primeiro espaço comercial da Electrolíder, aberto em 1987. | D.R.
Noticias das Caldas
A presença em feiras era essencial para mostrar produtos informáticos que hoje nos fazem sorrir, mas que à época eram o último grito em inovação tecnológica | D.R.