A campanha da colheita da Pêra Rocha está prestes a iniciar e há produtores com dificuldade para recrutar mão-de-obra. Esta questão deve-se, em parte, ao menor número de desempregados disponíveis, mas a colecta de impostos também afasta da actividade quem possa ser afectado pela subida de escalão de IRS. A apanha da pêra dura cerca de três semanas e serão precisas perto de 10 mil pessoas para colher as cerca de 150 mil toneladas esperadas para a campanha deste ano. O trabalho pode render entre 30 e 40 euros por dia.
As pereiras estão carregadas de Pêra Rocha e a fruta está praticamente pronta para ser colhida. A campanha deverá iniciar-se a 7 de Agosto e prolonga-se por três semanas, segundo a previsão da Associação Nacional de Produtores de Pêra Rocha (ANP), mas ainda há produtores à procura de quem colha os frutos das árvores. Os anúncios repetem-se nos jornais e nos sites de emprego. Os valores pagos por dia começam nos 30 euros, mas há quem ofereça até 40 euros “limpos” – ou seja, já depois das devidas deduções. O valor oscila de produtor para produtor e depende do nível de experiência, do desempenho e das funções a executar.
Gazeta das Caldas falou com vários produtores, dos concelhos das Caldas da Rainha, Óbidos e Bombarral e praticamente todos reconheceram que este ano tem sido mais difícil recrutar.
Os motivos são de vária ordem, mas os produtores falam todos num menor número de pessoas disponíveis devido à descida do número de desempregados.
Nelson Machado, que tem uma exploração com 45 hectares na Fanadia, confirma que este ano “está mais difícil” recrutar pessoas para a apanha da pêra. Além da diminuição dos desempregados disponíveis para a tarefa, acrescenta que “também houve pessoal que emigrou”. Este produtor conta com algumas pessoas fixas “que tiram férias em função da apanha da pêra”, mas estas não são suficientes. Nelson Machado precisa de um mínimo de 30 pessoas por dia e, na altura de maior pico de trabalho, o número pode chegar às 70.
IMIGRAÇÃO TAMBÉM REDUZIU
Hélio Silva, um dos sócios da Masil Frutas, também da Fanadia, diz que este problema já vem do ano passado e nessa altura até foi pior porque a colheita foi tardia e os estudantes já tinham iniciado as aulas.
Além de haver menos portugueses desempregados, Hélio Silva elenca outra razão para as dificuldades de recruta. “O principal problema é que, de há dois anos a esta parte, deixou de haver tantos imigrantes do Leste europeu e brasileiros, que se vinham oferecer nesta altura do ano”, o que atribuiu à legislação mais apertada quanto à imigração ilegal.
A Masil Frutas tem uma área de 70 hectares de Pêra Rocha e Hélio Silva diz que necessita de 60 pessoas por dia para a colheita. Este número seria maior caso o pêral não estivesse já preparado para a colheita em plataformas. Nos pêrais modernos, as árvores são podadas de forma a que não seja necessário o uso de escadotes para chegar à fruta no topo das árvores, o que facilita o trabalho.
João Plácido, produtor da Usseira, diz que também teve dificuldades para encontrar pessoas para a apanha da Pêra Rocha, mas apenas até ter anunciado na Gazeta das Caldas. “Depois disso já tive que recusar algumas pessoas”, disse. Precisa de 20 trabalhadores para os sete hectares de pomar e conseguiu preencher as vagas inclusivamente com algumas pessoas que vêm da região de Lisboa, a quem garante alojamento.
Aristides Sécio, presidente da ANP, diz que há questões fiscais que também estão a afastar as pessoas deste trabalho sazonal, sobretudo os jovens e os reformados por não estarem “receptíveis aos descontos”.
O problema é que, além das deduções obrigatórias, em muitos casos esse rendimento faz alterar o escalão de IRS do agregado familiar e nesses casos quase não compensa o que se recebe pelo trabalho.
Aristides Sécio refere que muitos produtores acabam por ter a trabalhar para si nesta altura pessoas do seu círculo próximo de familiares ou amigos.
As dificuldades para encontrar pessoal faz aumentar o recurso a empresas de trabalho temporário, embora esta solução também tenha inconvenientes, salienta Aristides Sécio. Na maior parte dos casos, trata-se de mão-de-obra “sem qualquer experiência”. Os custos para o produtor podem ser maiores porque essas empresas têm que ter a sua margem. “E nem sempre essas empresas conseguem ter pessoas para corresponder aos pedidos”, acrescenta o presidente da ANP.
Aristides Sécio diz que está previsto que a apanha da Pêra Rocha se prolongue por três semanas e estima-se que cada pessoa possa colher cerca de 800 a 900 quilos de fruta por dia, pelo que serão necessárias cerca de 10 mil pessoas para garantir a colheita. A Pêra Rocha é produzida sobretudo nos concelhos Caldas da Rainha, Alcobaça, Óbidos, Lourinhã, Cadaval, Bombarral, Torres Vedras e Mafra, mas estende-se já por mais 21 concelhos, do Alentejo, Trás-os-montes, Minho e Beira-interior.
Muita e boa pêra, mas pequena
As condições climatéricas registadas durante o Inverno prometiam uma campanha muito boa para 2017, tanto na pêra, como na maçã. É esperado que a quantidade e qualidade dos frutos sejam boas, mas a falta de chuva pode ter prejudicado o tamanho.
Este era um problema que o engenheiro agrícola Emídio Silva já tinha antecipado à Gazeta das Caldas no final do mês de Janeiro.
Aristides Sécio diz que o que “parecia ser um ano normal, poderá ficar um pouco aquém das expectativas” em termos de toneladas, precisamente devido à falta de água, que prejudica o crescimento. “Em termos de qualidade a produção está muito bem, mas o calibre pode ser mais baixo”, explica o presidente da ANP. Apesar das árvores estarem carregadas, “é possível que no final tenhamos menos toneladas de pêra do que no ano passado”, acrescenta.
De resto, os produtores contactados pela Gazeta das Caldas confirmaram um cenário em que a campanha de 2017 era promissora, mas será uma produção normal.