A falta de geradores nos comboios de mercadorias para manter os contentores de fruta arrefecidos no transporte para o porto de Sines obriga à opção mais cara pelo camião. A CP Carga diz que ignora a questão e o armador argumenta que cada gerador custa 20 mil euros. Mas a opção pelo camião em alternativa ao comboio desde o Oeste para Sines torna o transporte 200 euros mais caro por cada contentor
Os produtores de pêra Rocha da região Oeste estão a pagar mais 200 euros por cada contentor com fruta enviado para o porto de Sines porque o sistema ferroviário não tem geradores suficientes para manter em frio mais do que oito contentores por comboio.
“Se mandarmos a fruta daqui [do Paínho] para o terminal da Bobadela [Loures] em camião e depois de comboio até Sines, cada contentor custa-nos 573 euros, mas de camião o percurso todo custa-nos 777 euros, ou seja, mais 200 euros por contentor”. Pedro Pereira, da Central de Frutas do Paínho, lamenta que em cada um dos comboios de mercadorias que saem diariamente da Bobadela para Sines não poderem transportar mais do que oito contentores-frigorífico porque só há quatro geradores para os alimentar (cada gerador mantém dois contentores arrefecidos).
E tendo em conta que desde Agosto a maioria dos 446 contentores enviados para o Brasil foram exportados por via rodoviária até ao porto de Sines, “isto encarece imenso o transporte”, queixa-se Pedro Pereira, que ironiza: “é mais uma ajuda à exportação…!”.
Nesta altura, em que o escoamento da pêra Rocha atinge um pico, estão a sair 50 contentores por semana desde o Oeste para o Brasil. Como a greve dos estivadores obrigou a desviar parte do tráfego do porto de Lisboa para o de Sines, os custos de transporte são ainda maiores, podendo a via ferroviária ser uma solução se não fosse a ausência de geradores.
E de quem é essa responsabilidade? O armador MSC (Mediterranean Shipping Company), responsável pelo transporte da pêra Rocha até ao Brasil, diz que deveria ser a CP Carga a assegurar o frio nos seus comboios. “Mas como a CP não se interessa, nós é que temos solucionamos o problema em nosso benefício”, diz uma fonte oficial desta empresa, que admite poderem vir a ser comprados mais geradores. Só que, cada um custa mais de 20 mil euros o que implica muitas viagens para ser rentabilizado.
Por sua vez a CP Carga diz que “não recebemos até agora da parte da MSC qualquer pedido para reforço da capacidade dos comboios que efectuamos para este cliente”. E esclarece que há outras soluções de frio no transporte sobre carris, nomeadamente a utilização de contentores que já têm geradores acoplados e a inserção de um vagão-gerador que permite alimentar 10 a 15 contentores de uma só vez.
A empresa ferroviária desconhece, contudo, os custos de um tal investimento “porque nunca foi necessário essa pesquisa por parte da CP Carga” nem nunca lhe foi apresentado qualquer projecto para este tipo de transporte.
Autarca sugere Bombarral em vez de Bobadela
O presidente da Junta de Freguesia do Paínho, Pedro Costa, ele próprio também fruticultor, lamenta que tenham de recorrer ao transporte rodoviário, que é mais caro, devido à incapacidade da ferrovia em fornecer contentores-frigorífico. E diz que o ideal era, em vez de entregarem os contentores na Bobadela, o carregamento dos comboios com fruta serem feitos na estação do Bombarral, que fica no coração da zona de produção da pêra Rocha e tem espaço suficiente para essa operação.
A CP Carga, contudo, responde que “na linha do Oeste a única estação com condições para movimentar contentores é Leiria, pelo que um transporte desta natureza nunca seria possível a partir da estação do Bombarral”.
O terminal de Leiria está equipado com um pórtico que permite o rápido carregamento de contentores. No entanto Gazeta das Caldas apurou que existem também empilhadores de grande porte que fazem esse trabalho nos portos e em terminais logísticos e que poderiam ser deslocados para qualquer estação quando, em determinada época do ano, o movimento de carga o justificasse. E 50 contentores de pêra Rocha por semana do Oeste para Setúbal e Sines é um número que já justifica fazerem-se comboios dedicados.
Os concelhos do Bombarral e Cadaval são responsáveis por 80% da produção de pêra Rocha. Este ano, houve menos quantidade de fruta, mas mesmo assim, desde o princípio da colheita, em Agosto, já foram exportadas desde o Oeste 21.000 toneladas (cerca de 20 milhões de euros) daquele fruto, das quais 9600 toneladas para o Brasil e 6000 toneladas para a Inglaterra. As restantes 5000 toneladas tiveram como destinos a França, Marrocos, Irlanda e Rússia.
Carlos Cipriano
cc@gazetadascaldas.pt
COMENTÁRIO
“Para nós o contentor é a mercadoria”
Gazeta das Caldas perguntou à CP Carga que tipo de produtos alimentares, para além da pêra Rocha são transportados em comboio em Portugal e entre que origens e destino. A empresa respondeu assim: “A CP Carga desconhece o tipo e a característica dos produtos alimentares a circularem nos contentores dos seus clientes. Para nós o contentor é a mercadoria”.
Esta resposta denota uma incrível falta de pró-actividade por parte desta empresa. Sendo natural que a maior parte da carga não tem necessidades específicas, uma empresa de transportes e logística deveria conhecer as especificidades de algumas cargas transportadas, mesmo quando, como hoje acontece, as mercadorias viajam todas em carga contentorizada.
As frutas têm necessidade de frio, certos químicos precisam de exaustores, há combustíveis que só podem ser transportados abaixo de determinada temperatura, e há cargas valiosas dentro de contentores blindados com um compartimento específico para os guardas que as acompanham viajarem. Enfim, há actualmente vários tipos de contentores para diferentes tipos de cargas.
A contentorização permite poupanças imensas no transporte de mercadorias porque elimina a necessidade de haver uma série de vagões para cada tipo de tráfego e permite às empresas, sejam ferroviárias, rodoviárias ou marítimas, um investimento muito menor e mais abrangente.
Ao assumir que a sua mercadoria é só o contentor, a CP Carga indicia que não está interessada em saber que existe muito mais do que a carga em geral. Indicia que não está preparada para, em termos de material, de regulamentação e de know how, transportar mais do que os contentores-tipo, ignorando nichos de mercado que podem ser relevantes. Em suma não está a aproveitar uma tendência mundial que é a contentorização de todo o tipo de cargas.
Provavelmente se tivesse de trabalhar para pagar os salários e não estivesse encostada ao Estado, a empresa agiria de outra forma.
C.C.
E uma vergonha em Portugal existe tudo mas nada finciona…Nao se sabe quem sao os responsaveis nem ninguem se quer assumir como tal…Leia-se o comentario supracitado e fica tudo dito…Estou em Inglaterra e nas grande superficies ve-se produtos de todos os paises e bem inferiores em qualidade comparativamente com os nossos, mas de Portugal nao se vê um unico produto…porque sera…