Aquatropolis é um projecto que junta entidades públicas e privadas, escolas e empresas, numa parceria que tem como objectivo levar a revolução tecnológica aos sectores das pescas e aquacultura. A Escola Superior de Tecnologia e Turismo do Mar (ESTM), de Peniche, passará a ter um centro de qualificação de técnicos especializados nas indústrias do mar. O projecto foi apresentado no passado dia 30 de Março na própria escola.
O Aquatropolis é um projecto para melhorar a qualidade do produto final das pisciculturas, tirar o sector da base empírica para a científica e gerir melhor os recursos energéticos (electricidade e oxigénio), que representam um dos custos mais elevados das explorações.
Uma das suas missões será a de possibilitar a medição dos parâmetros (como a qualidade da água) a um custo muito inferior ao que hoje é necessário. Por exemplo, um dos encargos mais elevados é a instalação de sensores para medir indicadores nas áreas de piscicultura, mas uma tecnologia feita em Portugal permite agora reduzir o número desses aparelhos. Globalmente, isso vai fazer diminuir o investimento em sensores na ordem dos 90%.
O Aquatropolis pretende também auxiliar o produtor para que venda a sua produção nos momentos e locais em que o preço está mais alto.
Esta é uma iniciativa da Escola Superior de Turismo e Tecnologia do Mar e da Compta (empresa tecnológica que investiu neste projecto). Prevê-se um investimento total de 1,7 milhões de euros e um cofinanciamento de fundos comunitários (Compete 2020) em 1,2 milhões de euros.
No passado dia 30 de Março foi apresentada a Aquatropolis Academy, uma academia para qualificar recursos humanos para este projecto, preparando os alunos para os desafios da revolução tecnológica na aquacultura.
A começar serão 12 estudantes de Biologia Marinha da ESTM, que irão frequentar formações de 14 semanas que decorrem na própria escola.
Jorge Delgado, CEO da Compta, disse que “a formação e capacitação dos jovens é um dos objectivos desta academia”.
A Compta é uma empresa tecnológica que celebra 45 anos em Maio e que emprega 240 pessoas. Tem seis projectos de indústria 4.0 (tecnologia inteligente): mar, agricultura, ambiente, energia, transportes e saúde e bem-estar.
Jorge Delgado fez notar que o planeta é composto por 30% terra e 70% mar e que 95% do território nacional é mar, para defender que o futuro terá de passar por ali.
CULTIVAR NO MAR
Hugo Diogo, um dos mentores do projecto, afirmou que “hoje é necessário cultivar no mar o que dele queremos colher amanhã”.
Disse que a aquacultura é uma actividade milenar, mas que a ideia de criar peixe com escala é recente. Salientando as exigências do sector, concluiu que “esta não é uma actividade para os homens, mas sim para as máquinas”.
Sérgio Leandro, sub-director da ESTM, divulgou que além de si, a equipa de formadores contará com Hugo Diogo, Ana Ribeiro e Teresa Baptista (docentes naquela escola).
Explicou que o Aquatropolis pretende democratizar a tecnologia, mas para tal “é preciso ter os profissionais que compreendam a informação que a tecnologia transmite”. Daí que tenha sido criada a academia.
Cristina Rosa, chefe do gabinete do secretário de Estado das Pescas, informou que o desenvolvimento da aquacultura é uma prioridade e que pretendem que o sector chegue às 20 mil toneladas até 2020.
A representante do secretário de Estado informou também que, no âmbito do actual quadro comunitário “há 76 milhões de euros para projectos na área da aquacultura”, priveligiando os investimentos produtivos, mas apoiando também a investigação na melhoria de processos produtivos.
O recém-empossado Director-Geral da Política do Mar, Fausto Abreu, disse que nesta área “há um espaço fértil para a entrada das novas tecnologias”. Isto porque é um trabalho ainda sujeito a condições muito adversas. Por outro lado, o rigor das tecnologias e o facto de poderem trabalhar 24 horas por dia também pode ser útil.
No painel de abertura, António José Correia, presidente da Câmara de Peniche, adiantou que está a ser desenvolvido o Smart Ocean – Parque de Ciência e Tecnologia, com a ESTM, Docapesca, CCDR e BioCant (empresa de Cantanhede). Trata-se de uma área de localização empresarial na actual área portuária, ao lado do edifício do Cetemares, que trabalhará também como incubadora.
Empresa caldense com solução inovadora para as pescas
A Bitcliq é uma empresa criada nas Caldas há quatro anos. Em 2014 começou a desenvolver bases de dados para gerir frotas de pesca à distância. Depois percebeu que o que tinha podia ser um negócio e procurou aplicar os conhecimentos de casas inteligentes à pesca. Com esta tecnologia, o peixe é rastreado desde a primeira milha (ao contrário do método tradicional que começa no porto), permitindo assim um controlo mais rigoroso da qualidade.
Depois, o patrão pode estar em qualquer parte do mundo e receber no seu telemóvel toda a informação em tempo real. Por exemplo, pode saber quanto está a custar cada tonelada de peixe em cada barco.
O software é utilizado em barcos que pescam, por exemplo, no Gana, com 30 a 40 trabalhadores e que podem transportar mais de 1000 toneladas de peixe. Também dá informação sobre as necessidades do barco por satélite ou por wi-fi (quando os barcos estão atracados) e funciona em modelo cloud ou em servidor. Outro dos objectivos é também gerir as quantidades pescadas.
A Bitcliq tem um mercado-alvo muito vasto: das indústrias da pesca e transformação, às entidades reguladores, passando pelas ONG, comunidade científica e organismos de certificação.
O projecto, liderado por Pedro Manuel, foi premiado em 2016 com o primeiro lugar no concurso de empreendedorismo da Comissão Europeia em Portugal e agora está em busca de investimento para levar a tecnologia a outros pontos do globo.
Já tem projectos em Portugal, França, Gana e Estados Unidos, estando a tentar a Tailândia, que abriria as portas do mercado asiático.
No último ano o projecto foi premiado num concurso de empreendedorismo da Comissão Europeia em Portugal.
