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Telmo Faria (antigo presidente da Câmara de Óbidos) e Paulo Cruz (da marisqueira Aki del Mar) querem investir numa exploração aquícola na Lagoa de Óbidos no valor de três milhões de euros. Os empresários, que são sócios da Greenshell Biogenetics Lda. pretendem criar ostras, ameijoa e berbigão em tanques a construir na zona das Salinas do Arelho. O projecto aguarda o parecer de várias entidades públicas, mas PCP, BE e alguns mariscadores têm dúvidas. Quem vive da lagoa teme que haja falta de marisco no futuro, mas Telmo Faria garante que irá acontecer o contrário: o seu projecto permitirá uma maior produção de bivalves também na lagoa.

Dois empresários da região juntaram-se e estão a desenvolver uma exploração aquícola para a produção de bivalves na Lagoa de Óbidos. A instalação está prevista para a zona das Salinas do Arelho, entre a Lagoa e o antigo aeródromo, num terreno de 24 hectares que é de Domínio Público Marítimo, ou seja, propriedade do Estado.
O projecto começou a ser desenvolvido em 2014 e aguarda um conjunto de pareceres sob a égide da Direcção Geral de Recursos Marinhos.
Telmo Faria explicou à Gazeta das Caldas que ao longo deste tempo (em que a legislação foi mudando) foram pedindo estudos sobre a fauna e flora daquele ecossistemas e aprofundaram o projecto do próprio circuito hidráulico que irá permitir a passagem da água da lagoa para os tanques e vice-versa. A empresa estabeleceu um protocolo com a Escola Superior de Turismo e Tecnologia do Mar (do IPL) que lhes tem dado apoio nesta matéria.
Telmo Faria realça que quando reunirem todos os pareceres favoráveis, pretendem apresentar o projecto publicamente. Contudo, disse estar disponível para esclarecer já quaisquer dúvidas que os mariscadores.
“Será um grande benefício para todos pois irão triliões de ovos para a Lagoa”, explicou o antigo autarca, especificando que a água, quando sair dos tanques, levará os ovos para aquele ecossistema.
O empresário obidense refere ainda que o projecto aquícola permitirá a criação de emprego, com recrutamento dentro da comunidade de pescadores e mariscadores. Em viveiro serão produzidas ostras, ameijoa e berbigão, “produtos que faltam no mercado”, disse.
Telmo Faria recordou que, quando foi presidente da Câmara, lançou o desafio para a instalação de um criatório de ostras na lagoa e que depois, quando já estava na área da hotelaria, foi convidado pelo actual sócio, Paulo Cruz, a concretizar a ideia.

Mariscadores e PCP preocupados

Os mariscadores tiveram conhecimento do projecto através dos editais colocados nas juntas de freguesia ribeirinhas e na Capitania do Porto de Peniche e alguns deles, preocupados com o futuro da sua actividade, pediram a intervenção do PCP. Rui Elias, tesoureiro da Associação de Pescadores e Mariscadores Amigos da Lagoa de Óbidos (APMALO), reconheceu “não conhecer bem o projecto”, mas mostrou receios relativamente ao escoamento do seu produto face à concorrência da produção em grande escala.
O mariscador lembrou ainda que também a associação apresentou em tempos uma ideia idêntica e que foi rejeitada. O vice-presidente da APMALO, Alberto Jacinto, explicou que o projecto deles não avançou porque o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) analisou a água e os sedimentos e chegou à conclusão que não havia condições para fazer tal empreendimento. Isso aconteceu há cinco anos, antes das dragagens previstas para o final do Verão, e o mariscador entende que, “desde que a lagoa tenha condições de entrada de água e alguma profundidade, é possível avançar”. Acha também que a exploração aquícola não prejudica a pesca local.
Numa visita organizada pela CDU, a 3 de Abril, à zona para onde está prevista a exploração, o candidato comunista João Delgado defendeu que qualquer projecto previsto para aquele ecossistema tem que ser do conhecimento da associação. “Não faz qualquer sentido estes processos andarem de forma tão desligada de quem aqui está todos os dias e depende, de facto, da lagoa”, disse, acrescentando que só os mariscadores é que podem dar uma utilização sustentável à lagoa.
Os comunistas garantem que vão continuar a acompanhar o tema, tanto com intervenções na Assembleia Municipal, como na Assembleia da República com uma pergunta ao governo.
Já na passada semana a concelhia de Óbidos do PCP emitiu um comunicado onde alertava que o projecto aquícola de bivalves poderá pôr em causa a actividade piscatória naquele ecossistema.
Também o BE, em comunicado, manifesta-se contra o projecto.

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