As Tretas: sobre o “conhecimento” que se prolifera por aí
Há toda uma miscelânea de expressões, conteúdos, “dogmas”, “receitas” e filosofias que correm sob os nossos olhos, hoje em dia. Constantemente, por via das redes sociais, assistimos a perfis recheados de princípios de vida, que incluem frases e expressões vindas de grandes autores, inclusivamente.
São tantas as partilhas e os gostos que, não fosse a toxicidade da nossa dependência das redes sociais, arriscaria dizer que estaríamos no caminho da nossa melhoria contínua, enquanto seres humanos.
Qual a relação entre uma coisa e outra? É que a aplicação que é feita de muitos destes princípios e frases é totalmente descontextualizada. Porquê? Porque qualquer coisa que ocupe mais do que 5 a 10’’ do nosso tempo a “olhar” ou “ler” algo já é tempo demais. E porque a utilização de redes sociais é tão “desmedida” da nossa capacidade humana de processamento e de desenvolvimento, que muito pouco ou quase nada “real” se torna sustentável.
Muitas destas frases e “lemas” estão relacionados com temas essenciais da gestão de pessoas e, sobretudo, da liderança. Quase como se houvesse uma receita de base, infalível, que distinga, inclusivamente, líderes de não-líderes. “Gurus” do conhecimento sobre liderança pessoal (como se houvesse outra que não pessoal) disseminam a sua palavra, movem multidões online. Apregoam os mais diversos tipos de lemas, aos quais os seus seguidores aderem sem questionar: não é o questionamento que está em causa, é a segurança que se tem quando se ouve alguém, solenemente, a afirmar.
Aquilo a que assisto constantemente nas redes sociais é algo que entendo como um efeito secundário – uma espécie de negação da realidade e clivagem entre o real e o imaginário, o eu real e o eu idealizado. Uma espécie de construção constante do alter-ego e aquele que me parece ser o único que tem vindo a ser alimentado. Talvez por isso não veja ainda sinais de que, enquanto pessoas reais, nos estamos a tornar melhores – a saber fazer melhor e a aprender, realmente, a ser melhor.
O maior contributo de um líder tem uma dimensão transformacional. Porquê? Porque escuta e pergunta, muito mais do que afirma. Porque não dá segurança, muito menos imediata: acredita, mesmo e sobretudo quando o próprio não o faz. E sabe, alia, três coisas: tempo, conhecimento e aprendizagem.