Desde que sou responsável por este jornal nunca me referi editorialmente a questões pessoais, rompendo desta vez com a norma a que me obriguei, porque constatei que o problema é extensível à grande maioria dos leitores.
No início deste ano fiz um requerimento, cujo prazo de decisão era de três meses, mas a que tinha sido recentemente atribuído estatuto “na hora”. Passado o prazo comecei a indagar as razões dos atrasos, sem obter resposta. Tentei o serviço de atendimento telefónico, o que apenas uma vez consegui chegar ao serviço, mas sem resposta diferente da que estava no site da entidade. Depois, iniciei diligências que os meios modernos também concedem e subi ao ministro e secretário de Estado. Apenas respondeu (surpreendentemente) o gabinete do último, informando há cerca de três semanas que havia pedido informação ao serviço. Como não tive qualquer nova resposta, significa que nem o serviço que tutela lhe passa alguma consideração.
Anuncia-se que o Estado vai receber mais 14 mil milhões de euros a fundo perdido, a juntar aos milhares de milhões que foi recebendo de fundos europeus, sob a capa da resiliência – para o SNS, a habitação, a capitalização das empresas, em síntese para a transição ambiental e digital. Provavelmente nenhuns destes milhões irão para aquilo que o cidadão mais precisa: cada um de nós ser mais eficiente, pronto, cumprindo prazos e horários, sendo competente e criativo na resolução dos problemas que a todos afectam. Estes estão escondidos na imensa burocracia do Estado Central, das autarquias, mesmo de muitas empresas públicas e privadas.
Muitos cidadãos têm a sua história para contar e, na maioria das vezes, resolvem-na com a habitual cunha, recorrendo a um amigo. Estou tentado a não seguir este caminho, mas provavelmente vou pagar cara a ousadia. ■