José Mota, um empresário singular

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Tem um olhar vivo, focado, decidido, e fala com paixão da família, dos colaboradores e da empresa que construiu.

Carlos Querido

Pergunto-lhe pela infância, arruma o tema em poucas palavras: «não gostava de estudar; nunca gostei; a minha mãe puxava-me as orelhas para eu estudar, mas não valia a pena; eu queria era trabalhar.».

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O pai trabalhou mais de trinta anos na empresa Thomaz dos Santos como ajudante de motorista. O filho recorda as festas de Natal que o empresário oferecia às famílias dos trabalhadores e os brinquedos que recebia.

Resume a adolescência a uma ambição: «sempre gostei de camiões e queria tirar a carta o mais rapidamente possível, para conduzir um».

Trabalhou durante seis anos como ajudante de motorista, tirou a carta de condução de veículos pesados em 1994 e começou de imediato a conduzir um camião por conta de Transportes Guimar.

Seguem-se a empresa de transportes André Simões e, finalmente, a Frissul, onde trabalhou oito anos.

Tinha 22 anos e conduzia por estradas europeias – Holanda, Alemanha, Inglaterra.

Preferia o longo curso, porque havia uma diferença salarial significativa, esclarece: «lá fora ganhava 320 a 330 contos; cá dentro, apenas cerca de 200 contos e eu precisava de dinheiro para comprar um terreno e fazer a minha própria casa».

No exercício da condução tem quatro acidentes graves que não arrefecem a paixão pelos camiões e pelas estradas.

Na Frissul oferecem-lhe a possibilidade de ter o seu próprio camião, que a empresa vende ao seu trabalhador em 2004 (passando este ao regime de outsourcing), mas rapidamente se apercebe que o negócio era ruinoso: «fiquei a pagar um xis todos os meses; deixei de ser empregado, passei a ser escravo».

Entrega o carro e olha para o futuro, que não imagina sem camiões.

Compra um, novo, por cem mil euros, com a ajuda dos pais. Trabalha como motorista e começa a construir a carreira de empresário.

Nasce a Transwhite.
Tem hoje 550 trabalhadores, 300 camiões nas estradas e 54 trabalhadores administrativos na sede da empresa em Caldas da Rainha.

Para além do armazém na Zona Industrial das Caldas (1707 m²), a empresa dispõe de mais três: um em Albergaria-a-Velha, com 4165 m², outro em Oosterhout, na Holanda, com 8000 m² e, finalmente, outro em Badajoz (este o único em regime de aluguer), com 800 m².

Pergunto-lhe pelo segredo do sucesso. Responde-me que dorme quatro a cinco horas por noite, está disponível para a empresa sete dias por semana, e conclui: «entreguei a minha vida à empresa».

Repete-me várias vezes o mesmo lema: «se as empresas estiverem bem, os meus colaboradores estarão bem».

Fala da esposa, Manuela Sábio, como o seu grande suporte afetivo e profissional, e chama à nossa conversa as colaboradoras que entram no gabinete e que confirmam as suas palavras: a Paula Patrício, a Cláudia Canabeira e a Elsa Santos.

Esta última diz-me que durante sete anos conduziu camiões, está na empresa há doze anos, onde é atualmente responsável pela gestão de combustíveis e portagens, esclarecendo-me de que a empresa gasta por mês dois milhões de euros em combustível e 450 a 500 mil euros em portagens.

Regressa às memórias da infância para me dizer que aos três anos de idade foi viver para a aldeia do Guisado (freguesia de Salir de Matos), onde conheceu Manuela Sábio, cujas qualidades profissionais enaltece repetidamente.

É lá que o casal reside atualmente.

Questiono-o sobre o valor que mais considera. Responde sem hesitação: «a humildade é o valor mais importante».

Foi vice-presidente da Antram (zona centro), mas atualmente não exerce atividade associativa.

Bom contador de histórias da sua vida, fala-me das flores que transportava para a Holanda, sobretudo alfazema: «daqui para lá, levava plantas; da Holanda para cá trazia flores de corte».

A forma física, mantém-na com ginásio, corrida de madrugada e a prática de Paddle numa ou noutra escapadela ao Algarve.

Competiu em Motonáutica (vice-campeão no Campeonato Andaluz – 2021), e em Kartcross, modalidade onde sofreu alguns acidentes.

Na rua, mostra-me os camiões com o enlevo e a paixão que traz da infância. Aponta as diversas decorações, especialmente uma, dedicada ao neto Xavier.

Aos 51 anos, olha o futuro como um espaço de conquista, com projetos por realizar.

À saída vem-me à memória a canção do Jorge Palma: «Enquanto houver estrada para andar/ A gente vai continuar/ Enquanto houver estrada para andar/ Enquanto houver ventos e mar/ A gente não vai parar…».

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