Óbidos, 1973: Três opções

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Alberto Costa
advogado

Era sábado, o dia em que os nossos compatriotas afluíam aos bancos – entenda-se, aos que tinham balcões abertos para os acolher e transferir as suas poupanças para Portugal. Para os que trabalhavam nesse sector, era de longe o dia mais ocupado – até algum director de delegação vinha algumas vezes dar uma ajuda ao balcão. O metro estava pouco concorrido: para a generalidade era fim de semana. Apesar das baixas temperaturas, nesse dia não tinha nevado, como noutros dias já acontecera.
As passagens semanais por Óbidos tinham acabado há algum tempo atrás. Estava em curso a forçada instalação familiar noutro país, começara há um par de meses um até aí improvável novo exercício profissional – e não tinha qualquer expectativa de colapso próximo da ditadura. Conhecera nas últimas semanas pessoas que a tinham tido há três, há oito, há doze anos – e alguns outros havia que há décadas – e continuavam longe.
Se nesse remoto 1º de Dezembro de 1973, com oito horas na rua Louis le Grand, me tivessem dito que havia uma enorme reunião de oficiais em Óbidos, não autorizada, e até já com indisfarçáveis laivos conspirativos, teria muita dificuldade em acreditar. Como acontecia com a generalidade dos portugueses, não me chegara ainda – nem me chegaria tão cedo – qualquer notícia do «movimento dos capitães». Mas se me tivessem dito e acreditasse, ter-me-ia talvez dado prazer o pormenor do «movimento» se ter reunido no «caminho de Mafra».
Era essa a realidade. Estavam lá reunidos – aqui mesmo ao pé, não longe da lagoa. Era uma reunião de dimensão quase inacreditável nas condições da época. Segundo escreve Vasco Lourenço, que «moderou», compareceram lá 186 oficiais do Exército, em representação de 311, sendo para lá encaminhados a partir do ponto de encontro, na estação da CP das Caldas da Rainha.
Pelo que hoje podemos saber, a reunião revestiu-se de grande significado na passagem de uma movimentação de forte cunho profissional e corporativo para uma de natureza declaradamente conspirativa. Não foi, ainda, esta última que aí prevaleceu: o moderador regista que a opção «reivindicações exclusivamente militares» terá tido mais votos (173) enquanto a opção «golpe militar» recebeu 125 votos.
Havia ainda uma outra opção, que registou menos apoiantes. Para a compreender – e também a sorte que a esperava na consulta – será necessário recordar o contexto em que foram definidas as três hipóteses a submeter à reunião de Óbidos. Vai ter de ficar para a semana. ■ vistodafoz@gmail.com

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