Joana Louro
médica
Parece impossível acreditar que uma criança morra de sarampo, em 2025 num pais desenvolvido. Mas aconteceu! O surto de Sarampo nos EUA, com epicentro no West Texas e New México, atingiu mais de 250 casos confirmados e 2 casos mortais. As mortes destas 2 crianças teriam sido totalmente evitáveis e preveníveis com a vacinação. Porque a realidade é esta: o sarampo pode e mata crianças saudáveis. Aliás uma realidade que os médicos e a evidencia científica já tinha deixado claro há muitos anos.
Estranhos tempos estes em que vivemos. Não me ocorreria ser pertinente escrever – em pleno seculo XXI – sobre a Semana Internacional da Vacinação, que este ano se comemora entre os dias 24 e 30 de Abril. Mas também não pensei ser possível ser contemporânea de tempos tão esquizofrénicos, difíceis e ameaçadores para a Humanidade.
Confesso que não tenho muita paciência para negacionistas. Na verdade, não tenho nenhuma! Mas infelizmente – fruto da minha atividade profissional – cruzo-me diariamente com eles. Para combater a minha impaciência, agarro-me à ideia que tudo se resume a falta de informação. Dito de outra forma: ignorância! E só podemos combater a ignorância com informação. E uma sociedade mais informada é uma sociedade mais saudável e mais feliz. Acreditar nisto ajuda-me a ser mais tolerante com as campanhas negacionistas de desinformação e manipulação semântica e com a perturbadora ignorâncias das pessoas. Nem sempre consigo, mas pelo menos tento.
A maioria das vezes só me apetece gritar que a burrice tem limites! Que a vacinação é um ato de responsabilidade cívica, individual, mas sobretudo coletiva. Representa uma das maiores conquistas da humanidade. E nos últimos os anos salvou pelo menos 154 milhões de vidas o que equivale a 6 vidas por minuto, todos os dias, durante 5 décadas. As vacinas são importantes para todos, mas também para os mais velhos. Os mais frágeis são os que mais precisam de proteção. E a vacinação é um dos pilares do envelhecimento saudável e fundamental num contexto em que população está cada vez mais envelhecida. Mas infelizmente viver mais anos, não significa viver com qualidade de vida. Portugal é o 6º país da OCDE com maior esperança média de vida após os 65 anos. Contudo, está na 4ª pior posição se considerarmos os anos de vida efetivamente saudáveis.
A vacinação é um fator de contributo significativo numa harmonia entre a longevidade e a qualidade de vida – protege contra doenças evitáveis, permitindo que todas a as pessoas vivam vidas mais plenas e saudáveis, reduz a mortalidade associada a várias doenças, mas reduz também a gravidade das doenças e as hospitalizações, com tradução direta na pressão sobre os sistemas de saúde e na sustentabilidade dos recursos implementados.
Parece impossível, mas mais de 200 anos depois da descoberta da primeira vacina (contra a variola) ainda é importante recordar que as vacinas salvam vidas! ■