A necessidade de potenciar as termas é assunto pacífico e unânime entre todos os partidos, mas já a solução apresentada pelo grupo Visabeira para a transformação dos Pavilhões em hotel de cinco estrelas é criticada por toda a oposição. O CDS-PP e o PCP já manifestaram o seu descontentamento com a volumetria e arquitectura do projecto e com o facto de este não respeitar o perímetro de protecção da água mineral natural.
Agora foi a vez de o BE vir a terreno apresentar uma alternativa – um estudo para a construção de um complexo termal nos Pavilhões que combina as funções de hotel com as de uso público.
Também o PS levanta dúvidas ao projecto e trouxe às Caldas a secretária de Estado do Turismo, Ana Mendes Godinho, que referiu que o projecto do hotel terá que ser aprovado pela Direcção Geral do Património Cultural.
BE propõe complexo termal para os Pavilhões
O candidato à Câmara das Caldas, Lino Romão, entende que o ante-projeto apresentado pela Visabeira para a criação de um hotel nos Pavilhões do Parque entra em choque com o restante património e enquadramento natural do Parque D. Carlos I. “É muito elitista e veda os pavilhões à comunidade”, disse, defendendo que aquela proposta terá que ser alterada, sob pena de não cumprir a lei, nomeadamente no que respeita à volumetria.
“É um tipo de projecto que a Visabeira adoptou para outras localidades, que incorpora elementos contemporâneos com elementos antigos. No entanto, no caso do casco histórico das Caldas, acho que têm que ser mais cuidadosos do que isso”, disse na apresentação da exposição “Um hotel para as Termas”, que decorreu na Casa dos Barcos, entre 31 de Agosto e 3 de Setembro.
Lino Romão alerta para o facto do projeto apresentado “vedar” os pavilhões ao usufruto da comunidade, ao transformar os edifícios em hotel de cinco estrelas em que uma noite “custa, em média, 250 euros”.
Mais próximo da realidade dos caldenses está, na sua opinião, o projecto de transformação dos pavilhões em complexo termal, desenvolvido pela jovem caldense Mariana Esteves Vala na sua tese de mestrado em Interiores e Reabilitação do Edificado, na Faculdade de Arquitectura da Universidade de Lisboa. Esta solução prevê a reabilitação dos seis pavilhões num complexo termal com uma zona de utilização pública e outra de hotel, com capacidade para 64 quartos.
Os dois primeiros pisos estão vocacionados para usufruto de todos os cidadãos. No piso térreo está instalada uma piscina, cafetaria, restaurante e ginásio. Tendo em conta que o pé direito de cada piso é bastante alto, a jovem arquitecta concebeu entre-pisos (uma separação entre os pisos do edifício), duplicando a área aproveitada. No primeiro entre-piso propõe uma biblioteca, cabeleireiro e espaço de estética, zona de massagem e de relaxamento, lavandaria, sauna e banho turco.
Os andares seguintes são dedicados ao hotel e, além dos quartos e zona de refeições, há gabinetes médicos, sala de enfermaria, zona de inalações e de tratamentos termais.
A unir os vários pisos propõe-se a criação de uma grande escadaria redonda, que permite também facilitar o acesso às pessoas que só usam o espaço termal.
A decoração é feita com azulejos da Fábrica Bordallo Pinheiro e o estacionamento do hotel está previsto para a zona da parada, que oferece uma capacidade de 100 lugares.
Mariana Esteves Vala procurou preservar a fachada dos Pavilhões, mas também o seu interior. “O pé direito é preservado em algumas partes em que fazia sentido, como é o caso da piscina (piso térreo), zona de convívio e sala de conferências (que já pertencem ao hotel)”, explicou durante a apresentação do projecto, exposto em 11 painéis e três maquetes na Casa dos Barcos.
Esta é uma solução que “incorpora o edificado, respeita o enquadramento e o casco histórico existente e valoriza-o”, resumiu Lino Romão, acrescentando que esta proposta é bem mais sustentável do que a da Visabeira.
Esta iniciativa do BE, que decorreu entre os dias 31 de Agosto e 3 de Setembro, envolveu ainda visitas guiadas para dar a conhecer e flora do Parque e da Mata e a exibição de curtos filmes sobre termas da Checoslováquia, Hungria, Portugal, Inglaterra, México, Brasil, para ajudar a reflectir sobre o que é o termalismo hoje.
PS quer um projecto termal sustentável
“Abrir o termalismo com algumas inalações no balneário novo não serve, não é sustentável”. Quem o diz é Luís Patacho, candidato do PS à Câmara das Caldas, que defende um projecto integrado, mais moderno e atractivo, sustentado por um estudo de viabilidade económica. Considera que é necessário construir nas Caldas uma nova unidade termal, que responda às necessidades actuais dos aquistas, mantendo, contudo alguma actividade hidrológica no Hospital Termal e Balneário Novo. O candidato socialista falava perante uma plateia de cerca de 30 pessoas, no passado dia 31 de Agosto, numa conferência organizada pelo PS caldense para abordar a temática do turismo e termalismo como factores de desenvolvimento local, que contou com a presença da secretária de Estado do Turismo, Ana Mendes Godinho.
Luís Patacho defende também um plano de apoio ao termalismo, que faça uma ligação à regeneração urbana, requalificação ambiental, oferta cultural e interligação à água do mar, por exemplo através da Pocinha de Salir. Com a finalidade última de ver promovida a marca Caldas da Rainha Cidade Termal, o candidato sugeriu a criação de um Conselho Municipal do Termalismo, Saúde e Bem-Estar.
Defendendo uma visão integrada do termalismo, Luís Patacho falou da necessidade de despoluição e desassoreamento da Lagoa de Óbidos, assim como na aposta na requalificação das ETARs e criação de um corredor verde entre a cidade e a Lagoa.
O PS propõe a criação de um plano de apoio ao turismo, que assenta na promoção da imagem das Caldas e dos eventos de massas, mas também na criação do Festival da Lagoa e na recuperação da Feira da Cerâmica. Aposta também na criação de uma rede de ciclovias, modernização da Linha do Oeste e requalificação das entradas da cidade.
Falta promoção da Rota Bordaliana
A secretária de Estado do Turismo, Ana Mendes Godinho, considera que as termas caldenses “têm tudo” para ser a âncora de dinamização, não só do turismo, mas também do comércio, da parte hospitalar e de desenvolvimento de produtos associados às águas. Mas, para isso, “é preciso trabalhar e garantir que há um projecto sustentável”, adverte.
A governante garantiu que o governo está de olhos postos nas termas e que isso já ficou provado com o apoio que está a dar às Caldas para a recuperação dos pavilhões no âmbito do programa REVIVE (que prevê a recuperação de 33 imóveis degradados).
As termas são, aliás, um dos produtos estratégicos considerados pelo governo para o desenvolvimento do país, a par da promoção dos passeios a pé e a cavalo e das ciclovias. A Secretaria de Estado do Turismo está a receber candidaturas de privados e entidades públicas nessas áreas e existem 30 milhões de euros para apoio à sua concretização.
Às dúvidas colocadas pela plateia sobre a legalidade do ante-projecto apresentado pela Visabeira, a governante respondeu que será a Direcção Geral do Património Cultural a aprovar a solução e que todas as questões patrimoniais e ambientais estarão acauteladas.
A governante destacou que a liderança, aliada ao planeamento, é fundamental para a boa desses projectos. Depois, é vital promover o produto. E, referindo-se às Caldas, deu um exemplo onde essa promoção não funcionou, a Rota Bordaliana. “Parece-me um projeto interessantíssimo, mas falta-lhe interacção com tudo o resto: falta a Fábrica Bordallo Pinheiro comunicar que existe aquele roteiro e que, por exemplo quem está a fazer surf em Peniche ou na Nazaré saiba que ele existe”.
Daniel Pinto propõe que a Escola Nacional de Termalismo fique instalada na Escola de Hotelaria e Turismo do Oeste
As instalações caldenses da Escola de Hotelaria e Turismo do Oeste (EHTO) poderão acolher a Escola Nacional de Termalismo. A proposta foi feita pelo director da EHTO, Daniel Pinto, e acolhida pela secretária de Estado. “Levo daqui a hipótese de criação da escola de termalismo porque, aliás, foi umas das questões que foi identificada pelo grupo de trabalho como sendo essencial, dada a falta de capacidade de formação de pessoas para esta área”, disse a governante no final da conferência em que participou, a convite do PS caldense.
Ana Mendes Godinho confessou que nunca tinha pensado na escola caldense para acolher o projecto, mas considera que “pode ser uma hipótese muitíssimo interessante”.
Durante a sua intervenção a governante falou da falta de recursos humanos na área do turismo, muito por falta de planeamento do governo anterior. “Quando entrei em funções uma das coisas que tinha em cima da mesa era o encerramento das escolas de turismo, por entenderem [o governo anterior] que esta formação pública não era papel do Estado”, disse. A governante acrescentou que não só contrariou essa intenção como reforçou estas escolas, como centros de formação especializados e abertos à comunidade.
A concretizar-se este projecto, a Escola Nacional de Termalismo – um projecto que inicialmente o Turismo de Portugal tinha para a Guarda mas que nunca foi concretizado – poderá instalar-se nas Caldas, junto da EHTO, nas instalações que deverão ser desocupadas pelo Teatro da Rainha aquando da criação da sua sede.
Governo desilude e mantém Oeste no Turismo do Centro
Daniel Pinto, director da Escola de Hotelaria e Turismo do Oeste, e candidato à Câmara de Rio Maior pelo PS, considera que a marca Oeste ficou diluída na grande região abarcada pelo Turismo do Centro. “O que foi dito à região é que esta seria incluída no Centro, mas não vejo isso”, disse à Gazeta das Caldas, acrescentando que perdeu-se o trabalho feito pela Região de Turismo do Oeste. E dá mesmo como exemplo o outdoor colocado junto à autoestrada, na zona de Mafra, que diz “Benvindo ao Centro”, região que se prolonga até Aveiro e envolve 100 municípios.
Na sua opinião, deveria existir uma entidade a gerir a marca Oeste de forma autónoma, até porque as cidades vivem muito em função das marcas que são criadas.
Daniel Pinto disse ainda que “não faz sentido o Oeste enquanto território ter uma representação tão fraca na BTL”, defendendo que deveria ter um stand próprio, à semelhança do que fazem, por exemplo, as regiões espanholas na Fitur.
Para a secretária de Estado do Turismo deverão ser as comunidades intermunicipais a promover a dinamização dos produtos turísticos da sua região, em articulação com as entidades regionais.
Questionada pela Gazeta da Caldas após a conferência, Ana Mendes Godinho disse que as entidades regionais do turismo deverão manter-se tal como estão, fazendo “todo o sentido a articulação das CIM com estas entidades”. Uma informação que não é bem vinda para as forças vivas do Oeste que sempre se manifestaram contra esta medida do governo anterior ao integrar a região no Turismo do Centro.
O candidato à Câmara das Caldas, Luís Patacho, não se pronunciou sobre esta questão que une a generalidade dos oestinos, mas à qual o governo do seu partido não parece ser sensível. Na conferência defendeu uma complementaridade entre os concelhos vizinhos ao nível dos eventos e da sua divulgação.