2015 – ano de mudança ou de continuidade?

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editEntramos no ano de 2015 com uma dúvida profunda em relação a todo a nossa envolvente, seja global, europeia, nacional, ou local. Vamos viver melhor este novo ano ou vamos continuar a pagar (duramente) as vicissitudes dos erros e omissões dos anos passados?
Nos últimos tempos o mundo desenvolvido e as suas organizações, como o FMI, o BCE e a própria União Europeia, quiseram fazer-nos crer que os portugueses tinham cometido o pecado mortal da luxúria e da soberba, pelo que teriam de pagar amargamente a sua falta.
Que estávamos a viver acima das possibilidades e que quem ganhava menos, mesmo aqueles que ganhavam o salário mínimo, não mereciam a “esmola” que lhe davam.
Entretanto, fomos conhecendo muitas histórias da História. Tanto da do mundo global, como do nosso pequeno mundo, e fomos sabendo que havia certamente alguns privilegiados, da política ou da economia, que viviam mesmo acima das suas possibilidades, acumulando recursos, provenientes de facilidades e algumas mesmo de “felicidades” (de estarem no lugar certo, no momento certo, com bons conhecimentos) e que era normal todo o tipo de retribuições, muitas delas aos milhões.
Simultaneamente deixavam cair empresas e grupos económicos de referência, que durante anos foram endeusados por lideranças políticas, económicas, sociais e jornalísticas, deixando com muitos prejuízos simples cidadãos que confiaram na bondade do sistema económico e na honestidade dos reguladores.
Neste último ano provou-se à saciedade que se tínhamos algumas desconfianças, hoje termos certezas de que afinal muitos dos que se passeiam pelos corredores da fama e do poder económico e político podem não ser merecedores da nossa admiração.
Haverá alguns que provavelmente foram engolidos, consciente ou inconscientemente, nesta voragem, mas provavelmente não tiveram a sensatez e a modéstia que não levasse à desconfiança dos seus compatriotas.
Tem razão o Papa Francisco ao enunciar cara a cara para a Cúria do Vaticano, mas também para o mundo, o que ele considera as 15 doenças ou pecados.
Segundo o mais alto dignitário da Igreja Católica, muitos “mesmo que venham a ser inocentados, provavelmente, perceberão que se tornaram aves fáceis de captura, pela  doença de se sentirem imortais, imunes, ou mesmo indispensáveis”. Também não fogem à doença “da rivalidade e da vã glória, da esquizofrenia existencial, que leva a uma vida dupla, fruto da hipocrisia típica dos medíocres e do progressivo vazio espiritual, que nenhum título académico pode preencher.”
Mas acrescenta também o pecado “dos mexericos, da má língua e dos murmúrios, o divinizar os chefes, daqueles que cortejam os superiores, esperando obter em troca a sua benevolência, da indiferença face aos outros, dos circuitos fechados e finalmente do lucro mundano e do exibicionismo.”
Ainda no meio dessa longa e pesada lista há outra doença, também complicada e usual nos tempos que vivemos, que o Papa designou surpreendentemente de “cara de enterro” e que definiu como a “doença das pessoas que para serem sérias é preciso fazer o voto de melancolia, de severidade e de tratar os outros – sobretudo os inferiores – com rigidez, dureza e arrogância”.
Cada um deve fazer a sua reflexão e a sua auto-crítica, atitude também defendida e valorizada pelo Papa, face aos problemas que nos cercam e que nos pesam diariamente no nosso quotidiano.
No ano de 2015 viver-se-á mais um momento decisivo de mudança dos nossos hábitos e costumes, alguns bem desmontados pelo Papa, pelo que esperamos que os portugueses e os europeus, sejam iluminados por estas palavras.

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Gazeta das Caldas também vai viver este ano um momento decisivo quando atravessa o seu 90º aniversário, e emerge de uma fase muito dura em que teve de realizar mudanças profundas na sua estratégia e na sua estrutura.
Pensamos que encontrámos um novo desígnio e formas de actuação mais condizentes com estes anos de transição societal, em que o imaterial se impõe, tanto nos media como nos restantes sectores, e em que as fidelidades são cada vez mais ténues.
Queremos continuar a servir os nossos leitores, aqui e no mundo, através das edições em papel e digitais, com interesses próprios na região e fora, chegando a todos dando voz aos seus desígnios e perplexidades, servindo a comunidade e os seus interesses, enfim, continuando a fazer um jornal do seu tempo e para o futuro.
Temos consciência que vivemos ainda assim numa região até certo ponto privilegiada, mau grado tantos problemas por resolver, mas onde se vive em paz, apesar das dificuldades materiais, mas com um potencial enorme.
Temos que reconhecer isto e trabalhar para melhorar a nossa posição no país e no mundo, oferecendo a todos condições inigualáveis, que só por ineficiência e comodismo, não o fizemos até aqui.
O ano de 2015 poderá ser um marco para todos nós, assim o queiramos!