Quando a aguardente da Lourinhã, a morcela de Rio Maior e o ananás dos Açores se juntam à mesa o resultado só pode ser uma refeição de alta qualidade. Exemplo disso mesmo foi o almoço que decorreu no passado dia 19 de Novembro, no âmbito do projeto Raízes, que junta os alunos finalistas dos cursos de cozinha e pastelaria e o de restauração e bebidas.
Em cima da mesa, um frasco de perfume com vaporizador, cheio de aguardente da Lourinhã, despertava a curiosidade dos convidados. Acabaria por ser logo usado na primeira entrada para pulverizar o croquete de morcela com maionese de ananás dos Açores.
O vaporizador de aguardente da Lourinhã para uso gastronómico é a mais recente inovação aplicada a esta bebida e serve para aromatizar carnes, sobremesas ou mesmo o café, sendo a dosagem a gosto. O famoso “cheirinho” ganha agora outra dimensão. A inovação da Adega Cooperativa da Lourinhã data de Janeiro deste ano e já está a ser comercializada, custando cada frasco cerca de 19 euros, explica o presidente, João Pedro Catela. Voltaria a ser usada na sobremesa para aromatizar o gelado frito com caramelização de ananás.
Outro dos produtos em destaque neste almoço foi a morcela de arroz, que na entrada foi servida em crocante, juntamente com boudin blanc com geleia de ananás dos Açores.
O cozido à portuguesa, onde não faltou a morcela esteve em destaque como prato principal, acompanhado por um Monsaraz tinto.
Presente no almoço, Rui da Bernarda, responsável pela Mercearia Pena, que comercializa estes enchidos, entre eles a morcela de arroz, proveniente da região de Rio Maior. “A zona entre Rio Maior e Leiria é muito conhecida pelo fabrico de morcela de arroz, que é a que mais vendemos”, disse, acrescentando que este enchido liga bem com o ananás. E a aguardente, “sendo uma bebida tão específica e agradável pode fazer uma combinação especial”, concretizou.
A dar a conhecer os produtos típicos dos Açores estiveram duas sócias do restaurante e cervejaria “O pão”, do Bombarral. Naquele espaço têm à venda os vinhos do Pico, os doces e as conservas açorianas. Mas, para além de trazerem os produtos tradicionais para esta região, também pretendem investir na ilha do Pico, na paisagem protegida da vinha e do vinho, com a criação de um projecto de enoturismo.
A aguardente da Lourinhã esteve representada ao mais alto nível, com a colegiada criada para promover a sua divulgação. Com denominação de origem controlada (DOC), o que quer dizer que é feita apenas a partir de uvas colhidas em vinhas do concelho da Lourinhã e nas freguesias de Campelos (Torres Vedras), Vale Covo (Bombarral), Olho Marinho (Óbidos) e Serra d’el Rei (Peniche), esta aguardente é a única no país a possuir esta denominação. A ela juntam-se Cognac e Armagnac, em França.
“É uma aguardente especial porque tem características únicas ao nível da produção das uvas, de clima, do solo e da sua destilação”, explicou Ana Santos, grã-mestre da Colegiada da Aguardente da Lourinhã.
Cada quilo de uvas permite fazer 0,7 litros de vinho e dez litros de vinho dão origem a um litro de aguardente a 78 graus, que é depois colocada nos cascos de carvalho ou de castanheiro a envelhecer. Uma parte evapora mas a restante termina com um grau alcoólico na ordem dos 70, 80 graus. Para se fazer o lote final, e dado que a aguardente só pode ser comercializada com valores até aos 40 graus, é-lhe adicionada água ionizada ou destilada, que vai permitir desdobrá-la.
Actualmente são sobretudo os portugueses quem consome a bebida, mas o mercado externo está em crescimento, com exportações para países como Macau ou o Canadá. A aguardente vínica já é também utilizada em produtos como bombons, pastéis e doce de Pêra Rocha.
Com 11 anos de actividade, a Colegiada tem feito a defesa e a divulgação das aguardentes através de tertúlias, conferências e jantares temáticos, em que associam esta bebida a outros produtos, desde o chocolate, ao tabaco, café e alguns frutos secos.
Na Escola de Hotelaria e Turismo do Oeste foi utilizada pelos alunos na criação de um digestivo, o Cassis Cream, com que finalizaram o repasto.