Alimentar com amor

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Gazeta das Caldas
Hoje em dia a grande maioria dos alunos prefere comer fast-food fora da escola do que comer na cantina escolar |DR

Quando temos filhos, todos nós dizemos isto, queremos o melhor para eles. Que sejam felizes, saudáveis, que tenham sucesso, que tenham amigos, que sejam bons na escola…
Mas será que temos isto em consideração a todas as horas do dia?

Se virmos uma Mãe a dar uma cerveja ou um cigarro a um menino de 5 anos, como reagimos?
E se virmos uma Mãe a dar um icetea de pêssego e um bolicao ao lanche o que achamos?
Pois bem, exemplos exagerados à parte, a quantidade de açúcar presente neste “simples” lanche é o equivalente a 3 pacotes de açúcar…
Choca-nos uma criança exposta a um ambiente de fumo, mas não nos choca intoxicarmos crianças com açúcar (e sal) desde tenra idade.
Temos que mudar o paradigma.
E para isso temos que saber do que falamos.

Primeiro que tudo a Água deve estar sempre presente e ser a bebida de eleição pois é essencial ao bom funcionamento do organismo.
Os hidratos de carbono são necessários para satisfazer as necessidades energéticas do nosso organismo.
São a principal fonte energética presente na Roda dos Alimentos.
Interessa sim perceber que há diferentes tipos de hidratos de carbono, e saber optar.
Existem os Hidratos de carbono simples, de absorção rápida, por isso conferem pouca saciedade. O açúcar, os bolos e os refrigerantes constituem alguns exemplos de hidratos de carbono simples, a evitar.
O seu consumo excessivo traduz-se em tudo aquilo que contribui para o síndrome metabólico: diabetes tipo 2, hipertensão arterial, alteração do colesterol no sangue, aumento do ácido úrico. A longo prazo, tudo isto se traduz em alterações cardiovasculares, nomeadamente enfarte precoce do miocárdio e acidente vascular cerebral.
Parece assustador, não parece?
Temos também os Hidratos de carbono complexos, de absorção lenta, que são claramente a opção mais saudável, fazendo-nos sentir saciados mais rapidamente e durante mais tempo. Os cereais, a batata, o arroz, a massa e as leguminosas secas (feijão, grão, lentilhas) são fontes de hidratos de carbono complexos. Estes sim devem ser consumidos ao longo do dia.
É necessário também prestar atenção às gorduras que utilizamos e que damos às crianças. As gorduras são necessárias na nossa alimentação como fonte de energia, para promover a absorção de certos tipos de vitaminas e para o desenvolvimento cerebral. Neste grupo devem ser privilegiadas as gorduras de origem vegetal, por terem uma maior percentagem de gorduras insaturadas que são mais saudáveis.
O Sal deve ser evitado e reduzido uma vez que traz consequências negativas para a saúde, embora a longo prazo.
O sal e o açúcar que o nosso organismo necessita já estão contidos nos alimentos que consumimos. Assim não há necessidade de adiciona-los em excesso.

Convém ainda referir que a má alimentação é em grande parte responsável pela obesidade infantil. É um problema a escala mundial que que vai ter graves repercussões no mundo.

Em Portugal, uma em cada três crianças tem este problema de saúde. Segundo o estudo 2013-2014 da Associação portuguesa Contra a obesidade Infantil que contou com 18.374 crianças (uma das maiores amostras neste tipo de investigação): 33,3% das crianças entre os 2 e os 12 anos têm excesso de peso, das quais 16,8% são obesas. De acordo com a Comissão Europeia, Portugal está entre os países da europa com maior número de crianças afectadas por esta epidemia.
(www.apcoi.pt)

Os pais têm o dever de se informar, de saber fazer as escolhas acertadas e ensinar as crianças a fazer as escolhas certas. O açúcar faz mal – ponto. Não há segundos estudos publicados porque não há dúvidas em relação aos seus malefícios. É um veneno que damos “livremente” às nossas crianças.
E pior do que isso é que muitas vezes é dado como prémio por bom comportamento ou desempenho, ou seja, estamos a usar o açúcar como substituto emocional… O que não poderia estar mais errado. Do ponto de vista nutricional bem como do ponto de vista emocional. É também importante referir que o açúcar vicia. Podemos assim imaginar as consequências do seu consumo excessivo.

Queremos crianças saudáveis. E felizes.

Não precisamos de ser fundamentalistas. Precisamos é de ser coerentes no dia-a-dia, nos lanches que preparamos para a escola, no exemplo que damos à refeição, na informação que damos aos nossos filhos.

Estamos a falar de saúde.
Estamos a falar de bem-estar.
Estamos a falar de amor.
Ensinar uma criança a comer bem é um acto de amor.
É pensar no futuro dela.
Pense nisso.

Por: Catarina Tacanho
Farmacêutica, Mãe de 2