Bordalo XXI – Uma “antena” para captar ideias sobre o futuro da escola

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Durante um dia (14 de Abril) professores, direcção da escola, antigos alunos e convidados reflectiram sobre o passado e presente da Escola Secundária Rafael Bordalo Pinheiro e deixaram pistas para o seu futuro. Uma escola mais abrangente, com maior autonomia e descentralização e preparada para promover a aprendizagem ao longo da vida, foram algumas das pistas lançadas pelos oradores.
Organizado pelo Conselho Geral da escola, o Fórum Bordalo XXI, deverá ter continuidade dentro de dois anos.

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O caldense coronel Paulo Mateus, actual comandante da Base Aérea de Monte Real, regressou à escola que teve um papel bastante importante no rumo que viria a seguir. Décadas depois de ali ter sido aluno e presidente da Associação de Estudantes, o militar visitou as novas instalações, com “condições maravilhosas para os alunos” e reviu, na plateia colegas de turmas, professores e o antigo director e também seu professor, Sá Lopes.

No primeiro fórum participaram sobretudo professores deste estabelecimento de ensino

Actualmente a dirigir a Base Aérea de Monte Real, com 900 pessoas e dois aviões de alerta (F16) prontos a descolar em 15 minutos, Paulo Mateus falou da instituição a que pertence, a Força Aérea, que tem a função de servir o país. “O futuro passa pela qualidade, empenhamento e trabalho”, disse o convidado, que considera que os desafios começam na escola.
O empresário Joaquim Beato, antigo aluno e professor, partilhou com os presentes o objectivo que o levou a criar a Molde, em 1988, e defendeu que a flexibilidade das empresas vai ser fundamental no futuro. Também muito importante para o sucesso, na sua opinião, é saber trabalhar bem e estabelecer ligações.
Joaquim Beato chamou ainda a atenção para a necessidade de investigação permanente, equipamento adequado e a introdução do design com origem nos países de venda, dando como exemplo a própria Molde que exporta 60% da sua produção para os Estados Unidos.
Também o antigo aluno Carlos Gouveia, director-geral da Schaeffler, lembrou os tempos de escola e que foi na Bordalo Pinheiro que aprendeu o gosto pela electricidade, formando-se mais tarde em engenharia electrotécnica.

O aluno finalista Duarte Dias interpretou dois temas do guitarrista Carlos Paredes

O industrial recorda que esta escola contribuiu com muitos profissionais “de grande valor” para a fábrica localizada na Estrada de Tornada que, por dia, faz entre 300 a 330 mil rolamentos, e que contribui para que seja a fábrica líder em rolamentos do grupo alemão, que conta com 80 fábricas em todo o mundo.
E o que esperam as empresas da escola na formação dos seus quadros? A resposta foi pronta: competência. Mas Carlos Gouveia especificou que é necessária a competência técnica, com componente teórica e prática abrangente, mas também competência social, em que o aluno deve mostrar respeito, humildade, pontualidade, espírito crítico, capacidade de comunicar e de trabalhar em equipa e consciência do dever e das obrigações.
“O futuro da escola ou a escola do futuro?” Esta a questão a que se propôs responder o professor universitário e especialista em Prospectiva, José Luís de Almeida e Silva. O também director da Gazeta das Caldas e antigo aluno e professor, naquela escola, tem-se dedicado na última década a trabalhar o futuro de muitos países e considera que falar do futuro “é um desafio”.
O orador considera que há um desperdício na ordem dos 75% nas escolas, defendendo que estes equipamentos poderiam ter mais-valias do que apenas a utilização por parte dos alunos. Até porque, acrescentou, os jovens actualmente aprendem 70% das coisas, em diversas plataformas que não na escola.
José Luís de Almeida e Silva defendeu ainda um novo paradigma para a educação, em que a aprendizagem deve ser vista como um investimento e um processo social, sendo uma mais-valia para todos. No futuro o ensino deverá ter, na sua opinião, uma maior autonomia e descentralização e terá como paradigma central a aprendizagem ao longo da vida.
As perspectivas de futuro foram ainda debatidas por professores e representantes do ensino superior. O fórum começou com um painel dedicado ao passado da escola, onde várias gerações testemunharam a importância que ela teve na sua vida, desde o mestre Herculano Elias, até ao Guilherme Neves, que saiu apenas há dois anos.

Tutela sem representação na discussão

José Pereira da Silva, presidente do Conselho Geral da escola refere que estas já não são instituições rígidas e que lhes interessa ter presente os cenários de futuro. O responsável falou da rapidez em que se processa actualmente a mudança ao nível do ensino e destaca que estes desafios levam a que os professores tenham que actualizar permanentemente os seus conhecimentos e aprender ao longo da vida.
“Hoje as escolas são coisas dinâmicas e nós, como órgão de gestão estratégica, entendemos que esta antena é importante para percebermos o que a comunidade sente como necessidade para o papel da escola e estarmos preparados para esses desafios”, explicou.
O director da escola, António Veiga, fez notar a falta de um representante da tutela na discussão, que embora convidado, informou que não poderia estar presente. O secretário regional da Educação participou no evento durante a manhã, mas da parte da tarde, quando se discutiram estes assuntos, não esteve presente.
“Gostaríamos que o futuro fosse partilhado com a estrutura ministerial, porque somos uma escola pública e o ministério tem ideias para o futuro das escolas que podem ou não coincidir com as nossas e temos que saber o que eles querem para nos adaptarmos”, explicou o responsável.
Referindo-se à Bordalo Pinheiro, o seu director disse que é uma escola que continua “jovem, com muito gosto e necessidade de aprender”. Garantiu que vão continuar a apostar fortemente no ensino profissional, à semelhança do que já acontece, em que esta é quase metade da oferta do ensino ao nível do secundário.
Para o futuro pretende ver uma escola que continue um “percurso de defesa da cidadania, da liberdade e de uma formação dos jovens”, diz António Veiga que está naquele estabelecimento de ensino há 31 anos, dos quais 12 como director.
De acordo com o vereador da Educação, Tinta Ferreira, a então escola comercial e industrial está na origem da caracterização da cidade. O autarca destacou ainda a aposta desta escola no ensino profissional e, com isso, tem feito com que o município “tenha dos melhores números no país” a esse nível, cerca de 50% da sua oferta formativa. Tem também sido importante para os resultados obtidos nos rankings, como é o caso do elaborado pelo Expresso, em que Caldas figura em nono lugar a nível nacional, e em terceiro no que respeita aos municípios com mais de mil exames efectuados (atrás de Coimbra e Lisboa).
Tinta Ferreira defendeu a criação de um ranking para o ensino profissional, consciente dos bons resultados que as Caldas obteria, e destacou muitos dos alunos que frequentam este tipo de cursos depois seguem estudos superiores ligados a uma competência técnica específica.
Referindo-se ao futuro, o autarca considera que a escola terá que trabalhar melhor o acompanhamento dos alunos que seguem para a universidade ou para o mercado de trabalho e que terão que ter o pós-secundário (nível 5). Deverá, nos seus cursos, ter em conta “a área social, económica e da requalificação do que existe”, concluiu.

Fátima Ferreira

fferreira@gazetadascaldas.pt

Escola quer um maior envolvimento dos pais

“Temos um défice de desenvolvimento parental”, diz José Pereira da Silva

O Conselho Geral da Escola Secundária Rafael Bordalo Pinheiro está a estudar estratégias que tragam os pais de novo à escola. “Temos um défice de desenvolvimento parental”, considera Pereira da Silva, destacando que sem a ajuda dos pais é muito difícil à escola cumprir o seu papel. “Os alunos são cada vez mais solicitados por um conjunto de condicionantes que o desligam da escola, da necessidade de trabalhar”, disse, acrescentando que o trabalho tem que ser feito em equipa, envolvendo a escola, os professores, os funcionários e os pais.
Actualmente há um grupo que está a tentar recuperar a associação de pais, mas Pereira da Silva reconhece que se trata de um processo complexo e que terá que ser continuado. “Quando tivermos os pais motivados, envolvidos com a escola, a Bordalo Pinheiro além de ter este passado, presente, e esperemos, um futuro brilhante, tê-lo-á de uma maneira muito mais consistente”, concluiu o responsável.

F.F.

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