O Centro Comercial da Rua das Montras assinalou a 3 de Novembro o seu 30º aniversário. Ainda há alguns (poucos) empresários que se lembram bem da festa de arromba, vivida a 3 de Novembro de 1985, em que o espaço estava cheio de gente. Veio a concorrência de outros centros comerciais e depois a crise e ficaram para trás as épocas natalícias em que até era preciso trabalhar noite dentro para repor os produtos para abrir no dia seguinte.
Quem permanece no espaço teve que arranjar estratégias para manter os seus negócios, mas queixa-se que é difícil tomar decisões conjuntas num local com tantos proprietários. A solução passaria por concessionar a animação do centro comercial para uma empresa e deixar de depender da carolice dos mesmos de sempre.
O Centro Comercial da Rua das Montras abriu num domingo, às três da tarde, a 3 de Novembro de 1985. “Não conseguíamos andar pois estava cheio de gente, tanto no rés do chão como no primeiro andar!”. Quem o diz é o comerciante Fernando Borges que na altura tinha 28 anos e tinha adquirido uma pequena loja no primeiro andar onde vendia artigos de decoração e presentes. Nesse dia, esteve presente uma fanfarra de Arouca que fez várias vezes o percurso desde a Rua do Jardim, das Montras, Praça da Fruta até à Venézia, passando sempre pelo centro comercial. “É um dia que recordo com muita saudade… Só lamento não conseguirmos ter o mesmo dinamismo de há 30 anos…”, diz Fernando Borges.
Quem também não esquece o primeiro dia da abertura deste centro comercial é Florbela Silva, da Casa das Peles. Recorda-se “da alegria e do orgulho quando abrimos aqui a primeira loja nas Caldas, por sermos parte de um projecto novo, da união entre colegas e da curiosidade das pessoas para conhecerem o local”. A marca está sediada no Cartaxo – onde mantém loja e fábrica – e os clientes já tinham sugerido que abrisse uma loja nas Caldas.
Ao longo das três décadas, muita coisa mudou, mas para a empresária ter uma um hotel no interior do centro comercial ajuda a que haja movimento. Refere ainda que é devido “à dedicação dos seus lojistas que o centro comercial sobrevive”.
Estas lojas distinguem-se por prestar mais apoio ao clientes, o que, segundo esta comerciante, “é impossível nos grandes espaços”. Florbela Silva considera que a simpatia, confiança, a qualidade, o bom preço e a aposta nas novidades a par com o tradicional, “faz com que os clientes procurem as lojas que estão aqui desde o início”. A Casa das Peles, segundo a responsável, tem propostas para dinamizar ainda a loja e o centro, mas Florbela Silva quer discuti-las primeiro com os seus colegas lojistas.
“Não trocava por uma loja de rua!”
Fernando Borges adquiriu a sua loja um ano antes da abertura do centro, quando este estava ainda em construção. Era uma pequena loja no primeiro andar. Passados quatro anos quis um espaço maior no rés-do-chão onde se mantém até hoje. Vende artigos de decoração, prendas para os dias especiais e agora miniaturas e modelismo estático (construções de aviões e de barcos).
O comerciante lembra que o final da época de 80 e início dos 90 “foram anos fabulosos!”. Nessa altura, na época do Natal, “estávamos três pessoas, colocavam-se os artigos nas prateleiras e estes desapareciam imediatamente!”. Havia alturas em que empresário tinha que sair da sua loja às três da manhã para conseguir repor tudo para estar pronto a abrir no dia seguinte. Hoje a diminuição drástica do poder de compra obrigou a que se pensem estratégias para manter os negócios.
Recentemente alugou também a loja ao lado, o que lhe permite ter mais espaço e mais variedade de artigos. E abriu a sua loja on-line onde vende miniaturas para vários países do mundo. Fernando Borges faz montras temáticas e concorre a nível nacional sempre nas ocasiões especiais, como é o dia dos Namorados.
Apostar na qualidade e marcas de prestígio
Dina Galeão adquiriu a loja “O Degrau” ainda o centro comercial não estava construído e abriu em 1986 como loja Cristal Atlantis. Mais tarde incorporou os artigos da Vista Alegre, seguindo-se os da Casa Alegre e mais recentemente as peças da Bordallo Pinheiro pois todas pertencem ao grupo Visabeira.
A empresária diz que neste Verão “os emigrantes vieram com mais força e creio que houve alguma retoma”. Ao longo dos anos, Dina Galeão tem visto muitas lojas a fechar, sobretudo aquelas que não se dedicam em exclusivo a marcas. “Somos corners, lojas parceiras que obedecem às regras da fábrica”, disse Dina Galeão.
A empresária vê vantagens em ter o hotel no centro comercial, pois “traz-nos estrangeiros e nacionais que visitam a região. Notei que aumentou o turismo nesta zona”.
Dina Galeão tem assistido às mudanças do centro comercial e não esquece como era uma das lojas vizinhas – a Charme – “onde se faziam filas para comprar perfumes!”.
A crise acabou por ditar o encerramento de muitos espaços. “Algumas pessoas já tinham muita idade e não quiseram arriscar novamente”, disse a empresária.
Actualmente nota alguma recuperação, mas os clientes “compram com cautela… Deixou de haver os esbanjamentos de antigamente e creio que valorizam o que se produz em Portugal”, contou a comerciante.
Elsa Coutinho vende roupa neste centro há 15 anos na loja “Sasha”. Para se manter aqui tanto tempo tem que ter estratégias de fidelização de clientes. Nas sua opinião, é preciso apostar numa relação próxima com os clientes e como tal liga-lhes no aniversário ou dá-lhes conhecimento dos saldos. A sua mãe também vendeu durante 25 anos neste centro e por isso há laços afectivos que ligam a empresária ao local.
Esta até possui uma loja na rua e afirma que não vai deixar a sua loja de roupa arrendada. “Criei raízes e as pessoas sabem onde eu estou e é aqui que vêm”, disse a empresária, que trabalha com marcas que lhe proporcionam artigos únicos, algo que os seus clientes valorizam.
Para a comerciante, este centro comercial tem potencial e menciona que “quem cá trabalha tenta dinamizar”. Muitas vezes “são os proprietários que não deixam avançar propostas que querem dinamização do próprio espaço”, disse.
Fátima Lavareda está há oito anos e tão depressa não pensa em mudar. É a responsável pela loja dos Bordados mesmo na zona central do centro comercial, onde fica a entrada do hotel. Durante o dia “passa aqui muita gente”, contou a comerciante, que faz trabalhos por encomenda e apostou em bijutaria e roupa de bebé.
No Verão passado notou um aumento nos emigrantes e também nos estrangeiros que escolheram conhecer esta região. “É uma pena que este centro não seja remodelado”, disse a lojista, que acha que o pior da crise “já passou”.
O ambiente do Centro “é muito acolhedor” e por isso gostava que os proprietários das lojas se interessassem mais pela sua dinamização.
“Segredos de Cetim” é como se designa a loja de lingerie feminina e masculina que abriu em 2013 no centro comercial. É da responsabilidade de Graça Romão que gosta deste espaço no rés do chão pois “é como se fosse uma rua de passagem”. Além do mais tem as vantagens “de o sol não “comer” a roupa nem o vento lhe encher a loja de pó”. Quando está frio, “a loja é mais resguardada”, referiu a lojista que não troca este espaço por outro, na rua.