O retrato do setor da imprensa regional no Oeste Norte está longe de ser agradável à vista: vários concelhos da região não têm qualquer título em publicação
Se a força de um concelho se medisse apenas pelo número de jornais e rádios de que dispõe, então o retrato da imprensa regional no Oeste seria revelador de uma enorme disparidade. Há concelhos sem qualquer título em publicação regular e outros não são alvo de uma cobertura noticiosa regular, sendo essa tarefa assegurada por jornais com maior implantação regional, como a Gazeta das Caldas, que, desde a fundação, em 1925, assumiu Caldas e Óbidos como território de influência.
O Bombarral é um caso paradigmático. Desde que os mensários “Área Oeste” e “Notícias do Bombarral” fecharam as portas, em 2016, e posteriormente a experiência efémera – 66 edições – do “Jornal Região Oeste” que encerrou no final de 2019, o concelho deixou de ter uma cobertura noticiosa regular. A rádio local há muito que tinha encerrado e passado a pertencer a uma cadeia com sede em Amarante. O mesmo sucedeu com o Cadaval, que chegou a ter um jornal, o “Notícias do Cadaval”, na década de 1980 e a frequência da rádio local está atribuída a uma rádio das Caldas.
A falta de uma imprensa local reflete-se em vários domínios e, sem surpresa, naqueles dois concelhos vizinhos não se realizaram debates com os candidatos nas últimas eleições autárquicas, o que, em pleno século XXI, se revela como um sinal da falta de pluralismo naqueles territórios. Em Óbidos, que perdeu “O Obidense” e viu a Rádio Litoral Oeste mudar-se para as Caldas, o debate foi assegurado pela Gazeta.
Em Peniche, o “A Voz do Mar”, que pertence à igreja, tem periodicidade mensal, o que permite um acompanhamento noticioso muito espaçado. Além disso, não tem website, mas tem uma jornalista profissional, ao contrário da Rádio 102FM, que, ainda assim, assegura serviços noticiosos.
Na Nazaré, que ganhou exposição global com o fenómeno da onda da Praia do Norte, o “Região da Nazaré” é publicado com periodicidade quinzenal e com uma ficha técnica composta, essencialmente, por jornalistas do grupo a que pertence, o MediOeste. A Rádio Nazaré mantém serviços noticiosos, sobretudo com recurso à Lusa e não tem jornalistas profissionais.
Aqui ao lado, mas já no distrito de Santarém, desde que o “Região de Rio Maior” encerrou as portas que o concelho ficou sem jornal, embora o concelho tenha um site, o Comércio e Notícias, com atualizações diárias, e a Rádio Hiper FM, que tem noticiários regulares e uma programação dirigida a uma faixa etária mais jovem.
Caldas da Rainha e Alcobaça são, deste modo, uma exceção neste marasmo que a imprensa local e regional vive no Oeste Norte.
Além da Gazeta, a cidade termal tem mais um semanário, o “Jornal das Caldas” e duas rádios: a 91FM e a MaisOeste. Quanto a Alcobaça, dispõe de um semanário, o “Região de Cister”, um quinzenário “O Alcoa”, um mensário “Pataias à Letra” e duas rádios: a CisterFM e a BeneditaFM. ■
Associação Portuguesa de Imprensa lança ciclo de debates sobre desafios do setor
A Associação Portuguesa de Imprensa (API) deu início, anteontem, a um ciclo de conferências que visa “debater os desafios” do setor e encontrar “soluções e caminhos para garantir a viabilidade e vitalidade de um dos pilares da democracia”.
Sob o mote “RE Pensar a Imprensa – Uma reflexão indispensável”, este ciclo de conferências surge na sequência do desafio lançado pelo Presidente da República no último Dia Nacional da Imprensa e “pretende abrir o debate a todo o país e a todos os atores que, direta e indiretamente, moldam a realidade do setor: jornalistas, editores, diretores, leitores, reguladores e poder político”.
As conferências irão decorrer ao longo do mês de maio em Coimbra, Lisboa e Aveiro, com painéis que discutirão temas como a liberdade de imprensa, os desafios da regulação, a iliteracia mediática, a imprensa no mundo digital, os problemas da cibersegurança e a importância da imprensa regional para o sistema democrático.
O ciclo de conferências arrancou com a apresentação formal das sessões, dos respetivos temas e objetivos à Assembleia da República, ao Governo e ao Presidente da República, numa cerimónia no Museu da Presidência, em Lisboa.
No final do ciclo de conferências, a API entregará ao Presidente da República, ao Presidente da Assembleia da República e aos deputados um relatório com as conclusões dos debates e organizará uma mesa-redonda em Pombal para apresentar o documento às autarquias. ■