Carla Costa
44 anos
Benguela – Angola
Utrecht – Holanda
Professora universitária
Percurso escolar: EB1 do Arneiros (1º ciclo), Escola Secundária Raul Proença (7º ao 9º ano), Escola Secundária Bordalo Pinheiro (10º ao 12º), ISCTE (licenciatura), IST (mestrado), Carnegie Mellon Univesity – Pittsburgh, PA, USA (doutoramento).
Do que mais gosta do país onde vive?
A Holanda é um país com uma qualidade de vida média muito elevada, onde as pessoas valorizam muito o seu tempo livre e a sua vida pessoal e familiar. É muito bom viver num país onde as pessoas sorriem espontaneamente e aparentam ser felizes e descontraídas.
O que menos aprecia?
Talvez o que eu tenha mais dificuldade em aceitar é o papel da mulher na sociedade holandesa. As mulheres holandesas são muito emancipadas, mas na sua maioria escolhem não ter uma carreira profissional ambiciosa. Em regra, quando se tornam mães, as mulheres deixam de trabalhar ou passam a fazê-lo apenas em part-time, para ficar em casa a educar as crianças. Consequentemente tendem a não ser consideradas para promoções na carreira tanto quanto os homens porque existe a expectativa de que não irão estar disponíveis no futuro. Assim sendo, há poucas mulheres no topo das organizações ou em lugares de destaque.
No entanto, em compensação, o papel das mulheres na família é muito respeitado e são elas a tomar a maior parte das decisões do casal.
De que é que tem mais saudades de Portugal?
Tenho saudades do céu muito azul e da intensidade do sol. Também tenho saudades do “calor” humano da cultura portuguesa, nas suas múltiplas manifestações. De qualquer modo regresso a Portugal com bastante regularidade para matar saudades da família, dos amigos e do país.
A sua vida vai continuar por aí ou espera regressar?
De momento não tenho planos para regressar a Portugal. Tenho uma vida boa na Holanda e valorizo muito o facto de poder trabalhar no que gosto e de poder evoluir e progredir na carreira. Julgo que actualmente tenho mais condições para me sentir realizada na Holanda do que em Portugal. No entanto, estou sempre interessada em contribuir para projectos que tenham impacto positivo em Portugal. Muito do meu trabalho de investigação continua a ser sobre empresas e sectores industriais em Portugal (nomeadamente sobre o sector dos moldes da Marinha Grande).
“Tal como os holandeses, vou todos os dias de bicicleta para o campus, mesmo quando chove”
Sou professora universitária na Universidade de Utrecht. Dou aulas de empreendedorismo e de dinâmicas de mercado a alunos de licenciatura e mestrado holandeses e estrangeiros, para além de fazer investigação nas mesmas áreas. Vou todos os dias de bicicleta para o campus embora more muito perto (são cerca de cinco minutos de exercício para cada lado). Como os holandeses, vou de bicicleta mesmo quando chove (o que é aliás bastante frequente).
Já moro na Holanda há dois anos e falo holandês suficientemente bem para conversar com os vizinhos e para tratar do meu dia-a-dia, embora trabalhe em inglês. É uma língua difícil, muito diferente do português, mas tem sido um desafio gratificante.
Antes de morar en Utrecht vivi numa pequena cidade católica holandesa que fica mais a sul: Maastricht. Estranhamente é uma cidade bastante semelhante às Caldas em termos de festividades, tradições e comunidade. Com alguma frequência haviam grandes procissões religiosas ou festas na praça principal, para as quais a população local afluía aperaltada, fazendo lembrar as Feiras da Fruta e outros eventos da nossa região.
Os holandeses são em geral um povo organizado, pelo que regem a sua vida através de agendas que preenchem com muita antecedência. É, por exemplo, frequente receber convites para simplesmente jantar ou confraternizar com mais de um mês de antecedência, o que é sempre um pouco desconcertante.
Outra coisa muito engraçada é que aqui as pessoas adoram falar sobre férias e têm muitos dias de férias (eu tenho mais de 40 dias por ano!). Os holandeses adoram viajar e fazem-no por todo o mundo. Geralmente quando me perguntam de onde sou e eu explico como são as Caldas, a Foz e Óbidos, ficam muito intrigados: Como pude eu abandonar esse paraíso? É de ficar sem resposta pois eles têm mesmo razão…
Carla Maria do Rosário Costa