Mandada edificar por Francisco Almeida Grandella em 1910, mas só inaugurada em 1912, a escola primária do Nadadouro celebrou o seu centenário a 17 de Outubro com uma festa preparada pela Junta de Freguesia e população.
Totalmente recuperada há dois anos, esta é uma das cinco escolas que o filantropo Francisco Grandella mandou construir em Portugal.
Actualmente, apenas a escola da Foz do Arelho e do Nadadouro estão a ser usadas para o fim para o qual foram construídas.
A cada um dos edifícios o benemérito atribuiu o nome dos seus amigos republicanos, sendo que no caso do Nadadouro seria França Borges a ser homenageado e na Foz do Arelho Bernardino Machado, que viria a ser Presidente da República.
“França Borges pertencia à mesma loja maçónica que Francisco Grandella. Os dois tinham entrado para a Maçonaria ao mesmo tempo”, revelou Isabel Xavier, presidente da associação Património Histórico, que explicaria também à Gazeta das Caldas que esta escola tinha sido inaugurada a 13 de Outubro de 1912. “Talvez a construção tenha sido iniciada em 1910”, comentou.
“Esta escola foi construída por um republicano que levava a sério aquilo que eram os ideais republicados, nomeadamente a aposta no ensino e na instrução”, referiu o vereador Tinta Ferreira.
Segundo Isabel Xavier, um dos desígnios da República era que, se fosse combatido o analfabetismo, as pessoas poderiam exercer os seus direitos cívicos de uma forma mais informada.
A vereadora Maria da Conceição destacou que esta é uma das melhores formas de se celebrar o centenário da implantação da República.
Escola tem 28 alunos
A escola do 1º Ciclo do Nadadouro é frequentada por 28 crianças e o presidente da Junta gostaria que fossem mais. “Há algo de estranho porque todos os anos temos lotação esgotada no jardim-de-infância e depois transferem-se poucos miúdos para a escola primária”, comentou.
César Dimas acha que há pais que preferem levar os filhos para as escolas das Caldas porque fica a caminho do seu local de trabalho.
Para já não está em risco a continuação da utilização do edifício como escola, até porque o Nadadouro é a freguesia do concelho com maior índice de crescimento dos últimos anos.
Apesar disso, o vereador Tinta Ferreira apelou a todos os que moram no Nadadouro a colocarem os seus filhos a estudar nesta freguesia. “Se isso acontecer, garanto-vos que não há governo ou ministério que se lembre de fechar a escola do Nadadouro”,
Até porque as obras recentes tornaram-na numa escola moderna. A requalificação foi uma obra conduzida pela Junta de Freguesia, após delegação da Câmara Municipal, e custou aproximadamente 80 mil euros.
Substituição do telhado, interiores renovados, mobiliário novo, pintura, arranjos exteriores e novos equipamentos para as crianças brincarem fizeram parte do conjunto de intervenções.
Memórias expostas na escola
No dia da festa foi inaugurada uma exposição temática sobre como era a escola antigamente. A Junta pediu a colaboração dos moradores da freguesia, para a recolha de fotografias e outros objectos antigos alusivos. À medida que iam entregando os artigos, os moradores mais antigos foram entrevistados para uma recolha de testemunhos que pode ser lida também no local.
Entre os que frequentaram a escola está Mário Pereira, pai do actual presidente da Junta da Freguesia. Aos 84 anos, Mário Pereira ainda se recorda de ter ali aulas. “Foi só um ano porque não havia professores”, recordou. Embora não tenha usufruído como gostaria daquele estabelecimento de ensino, acha que este foi sempre muito útil para quem ali aprendeu.
O presidente da Junta também tem memórias daquela escola, algumas delas não muito boas. “Ainda me lembro da dona Palmira me dar umas reguadas”, contou.
A vereadora Maria da Conceição ironizou depois que o autarca deveria ter levado mais algumas “para se portar melhor”, ao que César Dimas respondeu que “quem precisa de reguadas são os senhores deputados deste país”.
Também presente na cerimónia estiveram antigas professores da escola, como Isaura Santos, de 77 anos, que deu aulas no Nadadouro na década de 60 do século passado.
Nascida no Landal, chegou a morar no Nadadouro durante algum tempo, quando nasceu o seu primeiro filho. “Fui-me embora quando ele fez dois anos e ele fez agora 43 anos”, adiantou.
“Recordo-me muito das pessoas daqui, que são muito simpáticas, mas hoje não encontrei aqui muitos porque a maior parte deles foram para o Canadá”, contou, explicando que dava aulas à turma masculina. Naquela altura havia três turmas a funcionar na escola.
Pode ainda ser vista no edifício a exposição documental sobre a vida do filantropo e a Foz do Arelho elaborada por Isabel Xavier, que tinha estado patente na escola da localidade vizinha em 2009.