Jovem obidense é candidato a Chefe Cozinheiro do Ano

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Wilson Costa, de 30 anos, é chef da cozinha do Vale d´Oliveiras Quinta Resort & Spa, no Carvoeiro (Algarve)

Wilson Sousa Costa, de 30 anos, é finalista na 30ª edição do concurso Chefe Cozinheiro do Ano (CCA), que terá lugar a 20 de Novembro, na Alfândega do Porto. Actualmente chef do Vale d´Oliveiras Quinta Resort & Spa, no Carvoeiro (Algarve), o jovem, natural da Areirinha (Óbidos), começou o seu percurso académico na Escola Secundária Josefa de Óbidos com uma formação de cozinha, seguindo depois para a Escola de Hotelaria de Santarém, onde estudou Cozinha/Pastelaria.
Wilson Sousa Costa reconhece que esta é uma profissão que está na moda, mas adverte que na cozinha é preciso começar por baixo, para aprender as bases. O jovem, que chegou a querer ser mecânico, fala do seu percurso profissional e da certeza que a sua vida passará sempre pelos tachos.

O jovem, natural da Areirinha, durante uma das provas do concurso que pretende valorizar a profissão e contribuir para a dignificação da cozinha portuguesa

Fátima Ferreira
fferreira@gazetadascaldas.pt

GAZETA DAS CALDAS – Qual a importância deste concurso para um jovem chef?
WILSON SOUSA COSTA – A nivel profissional, o CCA puxa por nós, faz-nos sair da nossa zona de conforto. Acredito que são estes concursos que nos abrem as portas do futuro e que mostram que em Portugal temos grandes cozinheiros. E sem dúvida que a troca de experiências, ideias, conhecimentos, técnicas e a oportunidade de conhecer as origens de alguns produtos é um óptimo ponto de crescimento. E sem nunca esquecer as amizades que se fazem!
G.C. – Já passou a fase regional, que decorreu na Escola de Hotelaria de Faro. Como correu?
W.S.C. – Foi uma prova complicada e desafiante. Todos os apurados da Fase Regional do Algarve são óptimos cozinheiros e os espaços onde prestámos a prova não são os a quem estamos habituados, mas as coisas ao longo do tempo foram-se compondo. O resultado final foi positivo e a experiência óptima.

G.C. – Em que se inspirou para criar os pratos com que concorreu?
W.S.C. – O menu que levei a concurso foram pratos feitos e testados durante o meu percurso pela cozinha com alguns chefs, e outros pratos inspirados na cozinha da minha mãe. Por exemplo, o meu prato de carne, o coelho estufado com legumes da horta, recorda-me os tempos em casa, o cheiro do que é nosso. Em suma, inspirei-me nas minhas vivências e experiências ao longo do meu percurso na cozinha.

G.C. – Como começou o seu gosto pela cozinha?
W.S.C. – Foi ao acaso, na altura da rebeldia. A professora Matilde Monteiro, que na altura era directora do curso de Cozinha na Escola Josefa de Óbidos, achou que eu teria jeito para a cozinha e eu fui para o curso. Ela acertou. Achei graça e tornou-se natural.

 G.C. – Soube desde cedo que queria dedicar-se à cozinha?
W.S.C. – Não. Nunca tal coisa me passou pela cabeça, sempre gostei de carros, motos e sempre achei que queria ser mecânico e quando era mais novo até o tentei ser, mas agora sei que a minha vida passará sempre pelos tachos.

G.C. –  Qual foi o primeiro prato que confeccionou?
W.S.C. – Carne de Porco à Portuguesa. Um desastre! Estava sem sabor, sem alma e sem tradição… agora venha quem vier, que será surpreendido de certeza.

“Gosto
de comida muito simples
e deliciosa”

G.C. – Qual o seu prato preferido?
W.S.C. – Parece estranho, dado o meu curriculo e experiências, mas o meu prato favorito é, sem dúvida, grelhados… um bom peixe grelhado ou frango de churrasco. Gosto de comida muito simples e deliciosa.

G.C. – Quais as grandes diferenças entre o sector da restauração no Algarve e na região Oeste?
W.S.C. – Pouco trabalhei na zona Oeste. Vim há sete anos para o Algarve e acho que a grande diferença que nos faz sair da nossa zona são as oportunidades e as ofertas de trabalho, os grandes nomes de chefs, de restaurantes, os estrelados e os vários conceitos e a procura pelo crescimento junto de tudo isto. Mas sei que a zona Oeste está em grande crescimento, pois cada vez que venho a casa vejo restaurantes novos e com diferentes conceitos.

 G.C. – Foi na escola Josefa de Óbidos, num curso de cozinha, que teve o seu primeiro contacto com restaurantes e chefs. Que recordações guarda desses tempos?
W.S.C. – As recordações são muito boas… Desde os primeiros cozinhados, os primeiros momentos de stress e até os primeiros dedos cortados. Ao início é tudo muito estranho e aterrorizante. Mas as melhores recordações são, sem dúvida, toda a aprendizagem por todos os restaurantes que passei.

“Recusei convites porque não estava preparado”

 G.C. – Como se chega a sous chef num restaurante de um resort de cinco estrelas?
W.S.C. – Com muita dor… Muitas horas de trabalho, muitos momentos de stress e nervos à flôr da pele. Mas nem tudo é mau. Trabalhei alguns anos com uma grande equipa, ainda hoje tenho a sorte de trabalhar com alguns e, fora das paredes e do barulhos dos tachos, há uma grande amizade.
Agradeço em particular a um dos chefs com quem, até à data, trabalhei mais tempo, o chef Louis Anjos (chef do restaurante Bonbon 1* Michelin em Carvoeiro) que me deu umas boas tareias, no bom sentido da palavra, ensinou-me as bases importantes para ir longe. Esses anos foram de muito sacrifício, tanto pessoal como profissional.
Nas festas de família quase nunca estive presente, mas agora as coisas estão diferentes, já tenho conseguido conciliar as folgas de maneira a que, pelo menos, esteja nos momentos mais importantes.
Mas o importante é quando acreditam e apostam em nós e por isso, aproveito para anunciar, que há cerca de dois meses assumi a chefia da Cozinha do Vale D´Oliveiras Quinta Resort e Spa em Carvoeiro, Resort onde entrei como sous chef há cerca de um ano.

G.C. – Ser chef está na moda. É, na realidade, uma profissão com glamour?
W.S.C. – Infelizmente ser chef está cada vez mais na moda, mas estamos a esquecer-nos de um grande pormenor. “Uma casa não se começa a construir pelo telhado”… e na cozinha temos que começar por baixo, pelas bases, pelo mais simples corte de legumes, a mais simples confecção de um peixe, uma carne ou um legume. Cada vez mais vai-se notando a falta de cozinheiros e a existência de mais chefs ou sous-chef de cozinha.
Nesta área há tempo para tudo e eu sou um exemplo disso. Deve esperar-se pela oportunidade. Foram-me feitos convites para certas posições e sempre recusei enquanto não tinha a certeza de que estava preparado. Não gosto muito de arriscar enquanto não tenho confiança.