Microcarros estão na moda entre os jovens e as vendas disparam

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Albertino Neves, vendedor, é o rosto da Carros & Companhia no segmento dos microcarros
Albertino Neves, vendedor, é o rosto da Carros & Companhia no segmento dos microcarros | JOEL RIBEIRO

Os minicarros estão novamente na moda, mas se no início da sua comercialização estes veículos eram a solução para um público mais velho – muitos que por iliteracia não podiam tirar a carta de condução de ligeiros -, hoje o panorama muda e são os jovens que impulsionam o sucesso deste mercado. Os minicarros estão modernizados no que ao design e aos equipamentos diz respeito, num claro piscar de olhos às faixas etárias mais jovens. E mesmo que os preços sejam mais elevados que os das motos, a segurança que transmitem aos pais por terem um habitáculo e quatro em vez de duas rodas, é outro argumento de peso.

A segurança e a comodidade foram as principais razões para Jorge Silva optar pela compra de um microcarro para o filho de 16 anos | JOEL RIBEIRO
A segurança e a comodidade foram as principais razões para Jorge Silva optar pela compra de um microcarro para o filho de 16 anos | JOEL RIBEIRO

 

Os números não enganam. Em 2016, segundo a ACAP (Associação do Comércio Automóvel de Portugal), foram vendidas 716 destas pequenas viaturas, mais 25,4% do que em 2015.
O impulso das vendas é explicado, em parte, pela entrada em cena do Twizy, o mais pequeno da família de automóveis eléctricos da Renault e que está homologado como quadriciclo. E também pelos Paxster, quadriciclos igualmente eléctricos que integram desde o ano passado a frota dos CTT.
Estas duas marcas foram responsáveis por quase 10% do total das vendas. No entanto, mesmo sem estas entradas novas, o sector teria crescido acima dos 15%.
Os dados da ACAP tornam-se ainda mais impressionantes no início de 2017. Em Janeiro e Fevereiro a venda dos microcarros cresceu 48% face ao período homólogo, praticamente sem a “ajuda” dos eléctricos. Só nos dois primeiros meses do ano foram matriculadas 151 viaturas.
Uma das explicações para este fenómeno é o crescente interesse dos jovens por este tipo de veículos porque os podem conduzir entre os 16 e os 18 anos até tirarem a carta de condução de ligeiros.
A estabilidade das quatro rodas e a protecção de um habitáculo também faz com que sejam mais atractivos para os pais em relação às motos ou scooters, cujas vendas, mesmo assim, também cresceram em 2016 (7,2%) e mantêm o ritmo nos dois primeiros meses de 2017.

“É MAIS PRÁTICO”

Jorge Silva, residente no Nadadouro, explicou à Gazeta das Caldas porque optou por um minicarro para o seu filho, hoje com 17 anos. O motivo para procurar um meio de locomoção para o descendente foi sobretudo a falta de transportes públicos com bons horários. “A mãe é professora e não pode sair da escola, eu sou contabilista, trabalho em casa, mas tinha que interromper o trabalho para o transportar para a escola ou para as actividades e acabava por duplicar as viagens”, argumenta.
A escolha pelas quatro em vez das duas rodas foi bastante ponderada. Foram sobretudo a segurança e a maior protecção face às condições climatéricas que  mais pesaram na escolha.
“Já lhe bateram numa rotunda e se fosse de moto teria sido pior. Tenho uma moto e sei que as pessoas têm pouco respeito pelas duas rodas nas estradas, sejam motos ou bicicletas”, refere Jorge Silva.
Além de mais seguro, o minicarro “é mais confortável, permite-lhe transportar coisas e socializar quando dá boleia aos colegas. É mais prático”, acrescenta.
Jorge Silva adquiriu uma viatura usada, por considerar que os preços dos novos são exagerados sobretudo se à partida a viatura só vai ser utilizado durante dois anos. Mesmo assim, espera que o investimento possa ser rentabilizado pela filha, actualmente com 14 anos e que também já beneficia do veículo, quando o irmão a transporta.
Vantagem intrínseca à utilização destas viaturas pelos jovens até aos 18 anos é que ficam com outra preparação para a altura de tirarem a carta de condução.
“Ele ganha prática de condução no trânsito, por um lado, mas também aprende a ter responsabilidade de sair a tempo de chegar a horas”, sustenta.
O sentido de responsabilidade alarga-se também à manutenção e limpeza do próprio carro, de controlar os níveis dos fluidos e o combustível. “Faz parte da formação dele e sinto que cresceu com o carro”, acredita Jorge Silva.
Este pai só não deixa o filho levar o minicarro para sair à noite, porque com menos luz a segurança diminui na condução nocturna.

MAIS MODERNOS

Não é só o público-alvo que tem mudado em relação aos microcarros. Os fabricantes têm desenvolvido os seus modelos a vários níveis.
“Há uma evolução grande nos motores, que hoje têm tecnologia idêntica aos dos motores diesel dos automóveis ligeiros. Os carros também já estão equipados com travagem ABS, fecho central, painéis digitais, faróis em LED, e outros equipamentos”, realça Rui Claro, proprietário da empresa Carros & Companhia, Lda. que representa nas Caldas quatro das principais marcas presentes no mercado.
Entre o equipamento disponível estão sensores de estacionamento e câmara de marcha atrás. Os preços em novo podem oscilar entre os 11 mil euros e perto dos 16 mil euros.
Também ao nível da segurança as marcas têm trabalhado para tornar os seus microcarros opções mais válidas. Depois de o EuroNCAP – entidade independente que testa a segurança de veículos em caso de embate – ter identificado problemas graves,  já existem modelos a incluir airbag e protecção lateral.
A evolução tecnológica tem sido acompanhada por um design mais moderno, que ajuda a atrair novos públicos. E há opções para todos os gostos, incluindo descapotáveis e modelos com ar de todo-o-terreno.
Rui Claro destaca que estes veículos são hoje mais cómodos e mais bem fabricados que há uns anos atrás. Além disso, os motores têm que cumprir as normas de poluição europeias e deverão começar a fazer inspecção periódica este ano.
A Carros & Companhia não se dedica em exclusivo ao comércio dos microcarros. Tem uma oficina multimarca e em breve vai abrir um stand de automóveis usados em Tornada. O comércio de microcarros, novos e usados, é um complemento da actividade e Rui Claro diz que as vendas se têm mantido estáveis nos últimos anos. É sobretudo nas feiras e nos eventos de verão, onde a proximidade com o público é mais efectiva, que faz mais divulgação desta vertente do negócio e angaria mais clientes.

Conduzir a partir dos 16 anos

Os microcarros são equiparados aos quadriciclos, que podem ser conduzidos com a categoria AM da carta de condução, para os ciclomotores que não ultrapassem os 4Kw de potência, a categoria A1, para viaturas com motores até 125 cc e 11 Kw de potência, ou a categoria B1, para os quadriciclos até aos 15 Kw de potência. Para estas categorias a idade mínima são os 16 anos. Quem possuir as categorias A1 e B1 da carta de condução, basta fazer aulas e exame de condução depois de completar os 18 anos para ficar com a categoria B, que permite conduzir automóveis ligeiros.