Militares de Abril e alunos caldenses celebraram o 16 de Março (e o 25 de Abril) no CCC

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Gazeta das Caldas - 16 de Março
“O 16 de Março foi uma aventura!”. São palavras de Otelo Saraiva de Carvalho.
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Mais de 300 alunos de escolas das Caldas da Rainha reuniram-se no CCC na manhã do dia 16 de Março para assistir ao lançamento do livro de banda desenhada “Nascida das Águas e o 16 de Março” de José Ruy. Ao autor juntaram-se vários militares de Abril, destacando-se o mentor da revolução, Otelo Saraiva de Carvalho, mas também Matos Coelho, Bettencourt Coelho, João Madalena Lucas e Armando Ramos, entre outros.
Esta foi uma sessão emotiva, organizada pela autarquia, muito aplaudida pelos jovens que, no final, levaram um livro cada um, sem esquecer de pedir autógrafos a José Ruy e a Otelo Saraiva de Carvalho.
Muitos subiram ao palco para tirar fotografias com os responsáveis que lhes permitiram viver hoje em liberdade.

“O 16 de Março foi uma aventura!”. São palavras de Otelo Saraiva de Carvalho que fez uma contextualização detalhada do que se passou naquele mesmo dia, mas há 44 anos. Nessa altura os jovens capitães, tenentes e alferes mantinham reuniões secretas frequentes com o objectivo de preparar um golpe de Estado a fim de mudar o regime.
“No dia 13 de Março eu, enquanto dirigente do movimento, cancelei a operação prevista. Estava tudo sobre areia, sem alicerces, não havia uma ordem de operações correcta e pensada”, contou Otelo. Só que alguns camaradas não aceitaram esta decisão e decidiram avançar numa reacção à demissão dos generais Spínola e Costa Gomes pelo governo de Marcelo Caetano.
Spínola e o seu livro “Portugal e o Futuro” tiveram um papel relevante no momento, como foi partilhado com o público jovem, que ficou a conhecer a discordância dos jovens militares relativamente à  posição da “Brigada do Reumático” (constituída pelos generais e almirantes que apoiavam o regime) que dias antes foram prestar vassalagem a Marcelo Caetano e ao Presidente Américo Tomás.  Estas altas patentes militares já não “representavam ninguém”, disse Otelo. E como havia um cansaço generalizado de uma guerra colonial que decorria há 13 anos e que “não podia ser ganha militarmente”, os militares decidiram rebelar-se.
A obra acabou por ter um papel relevante no que diz respeito ao  Movimento dos Capitães e ao país pois “em duas semanas venderam-se 100 mil exemplares”, disse Otelo, explicando que o general Spínola defendia uma solução política e não militar para a guerra colonial.
A saída das Caldas

“Eles vão sair! Nas Caldas estão todos sobre rodas!”, contou Otelo Saraiva de Carvalho que soube que a coluna das Caldas tinha saído e caminhava sozinha rumo à capital. “Foram 14 viaturas a caminho de Lisboa…”, disse o militar, que foi confirmando que mais ninguém tinha saído, dado que era um sábado e que a maioria dos quartéis estava vazia, contando apenas com o pessoal de serviço. “Nas Caldas havia sempre uma companhia pronta a sair, a de Ordem Pública, que furando o cancelamento e convencidos que outros se juntariam a eles, decidiram marchar para Lisboa, cientes de que estavam a participar numa operação militar de grande envergadura!”, contou o estratega da revolução.
O resultado, já se sabe, não foi o melhor. A coluna voltou para trás e foi cercada pelas forças dos quartéis da Região Militar de Tomar, onde estavam militares do Movimento das Forças Armadas (de que é exemplo a EPC de Santarém que seria o motor do golpe em 25 de Abril) e que se recusariam sempre a disparar sobre o RI5.
Para Otelo, o  16 de Março foi um acontecimento onde “camaradas arriscaram tudo sem conhecimento profundo do que estava a acontecer e que se lançaram numa aventura que acabou por ter um resultado extremamente benéfico para o que se seguiria”.
Nessa madrugada Otelo foi esperar os militares do RI5 à entrada de Lisboa, onde se deparou com um dispositivo militar “tramado”: uma coluna de Caçadores, a Polícia Militar, a Legião Portuguesa, carros de combate da Cavalaria 7, a GNR e a PSP, além de elementos da PIDE.
Otelo depressa se pôs a pensar: “então este dispositivo todo está aqui à espera de uma coluna das Caldas?”. E isso fez com que começasse a congeminar a operação militar que viria a ter lugar 40 dias depois. Teria então que  ter  um “isco” para atrair as forças afectas ao regime num determinado ponto da cidade, enquanto as outras iriam conquistar outros objectivos importantes. E daí ter “lançado” Salgueiro Maia no Terreiro do Paço com uma força pesada de cavalaria, enquanto que outras forças iam tomando a Emissora Nacional, o aeroporto, o Rádio Clube Português, entre outros.
“O Golpe das Caldas deu-me a responsabilidade de elaborar a ordem de operações com cabeça, tronco e membros”, disse Otelo.
Acrescentou também que o 16 de Março foi “um avançar na escuridão”. Foi, portanto, um primeiro passo para a “reconquista da liberdade e do fim da humilhação e da submissão total, dos tempos da ditadura”, rematou, sob fortes aplausos da plateia.

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