Amanhã, 22 de Abril, o Bar Marcianus celebra o seu 30º aniversário. A efeméride serviu de pretexto para uma conversa com Isabel e Luís Tomás, proprietários daquele espaço. O negócio familiar viria a ser ampliado há 13 anos com a abertura do Trombone, um projecto dedicado ao jazz situado ao lado do Marcianus, ambos no Largo do Arraial, bem no centro da Foz do Arelho.

“Nunca vi os bares apenas como negócio. São uma segunda casa onde se recebem os amigos”. Palavras de Isabel Paz, a matriarca da família. Natural da Foz, a empresária, de 63 anos, sempre dedicou a sua vida a vender ao balcão. Primeiro na mercearia da família que mais tarde viria a ter também uma taberna, no centro da Foz do Arelho. Conta que em 1975 recebeu com agrado a vinda de muitos retornados de Angola e de Moçambique, que trouxeram uma lufada de ar fresco à localidade e aos pontos de venda.
Isabel Paz recorda de não gostar de servir os “traçadinhos” às sete da manhã, antes dos clientes de então partirem para a pesca.
A jovem, que não prosseguiu os estudos secundários nas Caldas, casou aos 19 anos, tendo-se divorciado pouco tempo depois. Da relação nasceu o seu único filho, Luís Tomás.
A Foz do Arelho era na época uma aldeia que se dividia entre a pesca, a agricultura e o veraneio. Ainda assim, em 1978, Isabel (com 24 anos) já tinha a carta de condução.
Aos 31 anos Isabel Paz voltou a casar, agora com Vítor Paz que era então empregado do Hotel Foz Praia. A decisão de criar o Marcianus surgiu em 1987 após o casal ter remodelado a casa do avô de Isabel que esta herdou e que fica no Largo do Arraial.
“Era algo bem arrojado para a altura”, contou Isabel Paz, recordando que o bar, com 44 lugares, abriu com uma decoração totalmente e preto e branco. O espaço tinha má insonorização e foi forrado no tecto a caixas de ovos, que ajudaram a melhorar o som. Tem ainda uma lareira que hoje continua a ser um distintivo daquele bar.
E se Isabel sempre gostou da vida nocturna, Vítor Paz não lhe ficava nada atrás. Era um melómano convicto, com uma grande paixão pelo jazz e também pela noite.
Grande parte da vida de Isabel Paz está ligada à sua terra natal, apesar de, já casada com Vítor – e sempre acompanhada pelo filho Luís – ter viajado até à Grécia, Espanha e Guiné. Neste último país, Vítor Paz chegou a equacionar a abertura de um bar.
Passados alguns anos, Isabel e Vítor alargam o Marcianus criando uma sala de jogos, que se mantém em funcionamento.
“No principio tínhamos uma clientela muito jovem, sobretudo da Foz”, recordou Isabel Paz. “Aos domingos até tínhamos gente em pé à espera de mesa para poderem tomar a bica” e só a construção da nova estrada para a Foz – que já não passava no centro da vila – e a abertura de mais bares na Avenida do Mar fizeram diminuir o fluxo de cliente.
O sítio onde se começava a noite

O Marcianus era também um dos bares onde começava a noite de muitos jovens, que seguiam para o Sopa Doce, Sítio da Várzea, Solar da Paz e Green Hill. “Nos primeiros meses todas as sextas-feiras havia música ao vivo”, lembrou Isabel Paz, acrescentando que algumas das bandas que ali actuaram chegaram a ser recomendadas pelo baterista Tó Freitas, que então vivia na Foz do Arelho.
O Marcianus abria inicialmente às 11h00 “mas além de cansativo, não era rentável”, conta a empresária, pelo que passaram a abrir às 17h00 e mais tarde às 21h00 fazendo daquele espaço claramente um local da noite. Ao fim de semana e nas noites mais animadas encerram às quatro da manhã e durante a semana, às duas da manhã.
UM BAR SEM TELEVISÃO!
Luís Tomás, 44 anos, ajudou sempre a mãe e o padrasto. Exceptuando o período em que fez a tropa, esteve sempre próximo, dando continuidade ao negócio da família. Há 13 anos ficou a gerir o Marcianus, seguindo muitas das linhas guia de Isabel e Vítor. Uma delas é não haver televisão. Em nenhum dos bares. Mesmo em dias de futebol, “os clientes só aparecem depois dos jogos”, explicou Luís Tomás, que gostaria que os seus clientes convivessem mais, em vez de estarem “ligados” aos seus telemóveis. A internet, aliás, chegou recentemente ao Marcianus por causa da obrigatória instalação do sonómetro que regula o som. “Nós nunca colocámos TV para estimular o convívio” e agora “os clientes trazem “as televisões” atrás de si, nos bolsos”, disse referindo-se aos telemóveis.
Luís Tomás continua a apostar na realização de concertos, três a quatro por ano e mensalmente organiza exposições de pintura e de fotografia. Conta que a época áurea do bar se viveu enquanto o Green Hill funcionava, ideia corroborada por Isabel Paz. A empresária e o marido criaram um novo bar dedicado ao jazz, o Trombone, mesmo ao lado do Maricianus. Este espaço, mais pequeno, só passa jazz e não vende alguns dos produtos típicos de um bar para não fazer concorrência ao filho.
Desde 2010 Vítor Paz – que se despedia sempre dos clientes com um simpático “até jazz” – lutou contra um cancro de pulmão, acabando por não resistir à doença. Faleceu a 7 de Novembro de 2013.
O Trombone esteve alugado durante um ano numa altura em Isabel sentiu necessidade de sair da Foz do Arelho. Esteve em Braga onde ainda pensou abrir um negócio, mas depois as saudades de filho e netos fê-la regressar à vila. E reabriu o Trombone que sente como a sua casa e “onde continuo a receber os amigos”. Luís Tomás é pai do João e do Diogo, de 14 e 11 anos, e este pensa que, em princípio, estará assegurada a continuidade dos bares na família.
CRONOLOGIA
1987 – Abertura do Marcianus com Isabel e Vítor Paz
Anos 90 – Algumas remodelações no bar, que passa a ter um novo balcão e cozinha.
2004 – Marcianus passa a ser gerido por Luís Tomás. E mãe e Vítor Paz abrem, ao lado, o Trombone.
2013 – Morte de Vítor Paz
2017 – Celebração dos 30 anos do Marcianus






























