“Os grandes designers e arquitectos da actualidade já não são italianos”

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RitaPereiraItaliaRita Saragoça Pereira
Caldas da Rainha
32 anos
Milão – Itália
Arquitecta
Percurso escolar: Escola Secundaria Raul Proença, Universidade Lusíada de Lisboa

 

 

 

 

 

 

Do que mais gosta do país onde vive?
A quantidade de cultura e história artística que tem em todo o lado e que fazem questão de continuar a mostrar ao mundo.
O facto de ser bastante central na Europa, o que facilita bastante quando se quer viajar.
Como sou arquitecta, e trabalho quer seja em arquitectura quer em design, a facilidade de comunicação com as diversas empresas e fábricas de design de mobiliário e acabamentos ajuda muito no trabalho do dia a dia. Isto porque a grande maioria, ou tem as fabricas aqui perto, ou representantes e showrooms directamente em Milao.

O que menos aprecia?
Para ser muito sincera, as pessoas. Não são nem educadas nem disponíveis como estamos habituados em Portugal. Praticamente só falam italiano e não se esforçam por perceber outras línguas.
Na minha área de trabalho sinto que, apesar de ainda continuarem serem a grande nação do design, começam a perder esse estatuto pois vivem muito no e do passado. Não aceitam com facilidade a mudança e a evolução para o moderno, tanto que, se formos a ver os grandes designers e arquitectos da actualidade, já não são italianos.
De que é que tem mais saudades de Portugal?
Como todos os emigrantes, da família, dos amigos e da comida. Embora também sinta muita falta da nossa luz e do mar. Aqui em Milão não existem restaurantes portugueses e por isso comida portuguesa só em casa.

A sua vida vai continuar por aí ou espera regressar?
Por enquanto estou por aqui. Não sei se vou continuar por muito ou pouco tempo, se mudo para outro lado ou não. Mas não tenciono voltar para Portugal nos próximos anos. Gosto muito, muito de Portugal. Para mim é, sem dúvida, o melhor país, mas embora não sabendo o porquê, nunca tencionei trabalhar em Portugal.

“Começo a dar ainda mais erros ortográficos e a introduzir várias
palavras italianas no meio das frases portuguesas”
Quando estava ainda na faculdade, a escrever a tese do Mestrado Integrado em Arquitectura, resolvi partir para Milão à procura de trabalho. Desde essa altura que trabalho num atelier de arquitectura em Milão, o Albera Monti & Associati. Desde essa decisão já passaram sete anos. No início não foi fácil, apesar de ser tudo novo, experiências novas e uma grande mudança de vida. Houve períodos bons e maus, como penso que para todos os emigrantes que vão morar sozinhos para outro país.
O meu dia a dia, neste momento, divide-se entre o trabalho, os amigos, o boxe e a minha nova companhia (a minha cadela).
Por norma o meu dia começa por volta das 6h30 da manhã, em que me arranjo e faço um passeio com a Pinky. Depois vou apanhar ou o metro ou o “passante” (um comboio que atravessa Milão por dentro) chego ao atelier as 8h30 e saio ente as 17h30 e as 18h30.
Quando se acaba a parte de trabalho do dia, inicio o lazer: ou vou para o boxe, ou vou fazer um aperitivo com amigos, que é sempre bom para relaxar antes de ir para casa.
A hora de regressar a casa é sempre entre as 20h00 e as 21h00, onde me espera a minha Pinky com a sua cauda a abanar pronta para ir passear. Normalmente os meus dias acabam à meia noite, hora de ir para a cama.
Neste momento já não sinto um grande choque de cultura, já cá vivo há alguns anos e parte desta cultura já faz parte de mim. Começo a dar ainda mais erros ortográficos e a introduzir várias palavras italianas no meio das frases portuguesas.
Noto que a vida é mais cara que em Portugal, fazendo comparação com Lisboa. Mas não é muito mais cara pois basta não frequentar os locais típicos do turista para se conseguir fazer uma vida bastante aceitável.
De inicio não foi fácil fazer amigos. São pessoas muito fechadas nelas e nos seus grupos, e não aceitam facilmente novas pessoas, principalmente quando são estrangeiras. Mas, com o passar do tempo, tudo muda, fazem-se amizades e a vida normaliza-se.
Para mim, neste momento, nesta cidade só fazem falta duas coisas: o mar e um clima melhor (que os Invernos são insuportáveis).

Rita Saragoça Saramago Silva Pereira