População de Santa Catarina voltou à rua em defesa da estação dos correios

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notícias das CaldasQuatro anos depois a população de Santa Catarina voltou à rua para se manifestar contra a intenção dos CTT em agenciar o serviço de correios da freguesia.
Cerca de centena e meia de pessoas juntaram-se na noite da passada sexta-feira, dia 30 de Setembro, seguindo depois para a Assembleia de Freguesia marcada para essa noite. Durante duas horas, populares, dirigentes sindicais e autarcas juntaram vozes para reclamarem a manutenção da estação, na vila há mais de 50 anos. Uma noite na qual ficou clara a pressão feita pelos CTT junto de particulares e da Junta de Freguesia para que o serviço fosse agenciado.


Há já vários anos que a empresa responsável pela estação tem tentado que a Junta de Freguesia assuma o serviço de correios. E todos os anos a resposta da autarquia local tem sido a mesma: um não redondo, por se entender que a estação se deve manter a funcionar tal como está. Foi assim durante a liderança da Junta por Cabrita Jerónimo, Hélder Nunes e, agora, por Rui Norte Rocha. E tudo se tem mantido sem alterações.
Desta vez, os CTT foram mais longe. Numa reunião com a Junta de Freguesia, o responsável regional pelo agenciamento dos serviços garantiu que havia um particular que iria assumir o serviço, caso a autarquia não o quisesse fazer. E até adiantou que “seria alguém de fora do concelho”, conforme divulgado na noite de 30 de Setembro.
“Há anos que os CTT têm pressionado a Junta de Freguesia para que esta cedesse e agenciasse a estação”, referiu Rui Rocha, acrescentando que a posição da Junta é que “a estação continue sob total e absoluta responsabilidade dos CTT e até queremos que a dinamizem um pouco mais”.
Bluf ou não, a verdade é que apenas se conhece uma jovem empresária local contactada pelos Correios. “Garantiram-me que a Junta de Freguesia não queria ficar com o posto e que caso eu também não quisesse, a estação iria encerrar. Na minha ignorância, estive quase a aceitar, só para evitar o encerramento”, afirmou a própria empresária na sessão de sexta-feira, realizada no Centro Pastoral dada a afluência de pessoas. Admitiu ainda que foi devido ao burburinho que entretanto se levantou na vila que acabou por afastar definitivamente a hipótese de gerir o posto.
Gazeta das Caldas contactou os CTT para saber o que pretende a empresa fazer com a estação de correios de Santa Catarina e se há ou não um particular efectivamente interessado em ficar com o serviço. Até ao fecho desta edição não chegou qualquer resposta.
Ao que parece, a pressão exercida pelos CTT não é exclusiva de Santa Catarina, repetindo-se em várias localidades do país, incluindo em Valado dos Frades. “As juntas de freguesia estão a ser pressionadas. Não há nenhum particular que seja obrigado a ficar com o serviço e caso isso não aconteça, a Junta também não é obrigada”. Até porque a lei obriga a que os CTT mantenham a estação a funcionar, mas caso esta o serviço seja entregue a um privado e este decidir fechá-lo, os CTT já não têm obrigação de o reabrir, alertou Dina Serrenho, dirigente do Sindicato Nacional dos Trabalhadores dos Correios e Telecomunicações.
“Podemos travar isto, basta que não se deixe que os correios passem para terceiros e que a Junta de Freguesia também não queira ficar com eles”, exortou. Já o antigo presidente da Junta, Cabrita Jerónimo, diz que na luta contra este velho problema “o pessoal de Santa Catarina tem que estar mais unido que nunca”.
O apelo à luta foi também feito pelos dirigentes do PCP das Caldas da Rainha presentes na sessão, Vítor Fernandes e António Barros. “Vale a pena lutar pela defesa do serviço público. Se as populações estiverem unidas contra o agenciamento, isso não vai acontecer”, defenderam.

Comissão de utentes lamenta silêncio da Junta

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Criada há quatro anos, depois da primeira vigília da população pela manutenção da estação de correios, a Comissão de Utentes lamenta que perante a insistência dos CTT em agenciarem o serviço a Junta de Freguesia se tenha mantido em silêncio.
“Lamento que a comissão tenha sido deixada à margem nos contactos com os CTT”, disse Ivone Silva, garantindo que o grupo só foi contactado para uma reunião “porque se queixou der não ter sido convocado antes”.
Já o presidente da Assembleia de Freguesia, Carlos Tomás, diz que não está disponível “para participar em reuniões em que a discussão seja a passagem dos CTT” para privados. E lamentou que na sessão de Junho passado o assunto não tenha sido levado à Assembleia. “Talvez se tivesse ganho mais tempo”, referiu.
Carlos Tomás salientou ainda que “se os correios forem agenciados, terão que sair do espaço onde estão a funcionar” porque o proprietário do imóvel não aceitou que o contrato de arrendamento fosse alterado, de forma a permitir que o serviço se mantivesse a funcionar ali, mas gerido por outra entidade que não os CTT.
Presente na sessão esteve também o vereador e deputado à Assembleia da República, Manuel Isaac, que alertou para o facto de que “perante a lei, se houver alguém interessado em ficar com o serviço, não se pode fazer nada”. Defendendo que se lute até ao fim, o santacatarinense lembrou que “há lutas que se perdem e caso isso aconteça, nessa altura tem que se pensar o que é melhor para a população, se entregar o serviço a um privado, se a Junta o garantir”.
Ao fim de duas horas em que não houve entraves à intervenção dos presentes, a Assembleia de Freguesia aprovou, por unanimidade, uma moção onde defende a manutenção da estação de correios sob alçada dos CTT e apelam à dinamização desta. Uma missiva que será entregue não só nas entidades locais, mas também à administração dos CTT, à Autoridade Nacional das Comunicações e à Assembleia da República.
Na freguesia está a circular um abaixo-assinado que pretende mobilizar os populares numa luta que não tem final à vista.

Caso de Valado dos Frades chega à Assembleia da República

No final de Agosto foi a vez da população, sindicato e responsáveis políticos unirem vozes contra a cedência de exploração da estação de correios de Valado dos Frades a um privado. O caso chegou agora ao Parlamento, com os deputados eleitos pelo PSD e pelo PS no círculo eleitoral de Leiria a perguntarem ao Ministério da Economia e do Emprego se esta intenção é para avançar e em que condições.
Os socialistas referem que “a estação de correios na freguesia de Valado dos Frades serve não só os milhares de residentes, bem como as empresas que se instalaram naquela região”. Além disso, salientam, “a zona industrial do Casal da Areia [concelho de Alcobaça], com a abertura do IC9, fica mais perto desta estação de CTT pelo que é previsível que as empresas aí instaladas passem a usar os serviços desta estação, ou seja, existirá aumento de procura”.
Reconhecendo a necessidade de reestruturação ou racionalização dos serviços dos CTT, Odete João e João Paulo Pedrosa defendem que “esta não pode ser feita por razões exclusivamente economicistas que coloquem em causa a oferta de um serviço público essencial”.
Já os deputados do PSD ressalvam que “Valado dos Frades é reconhecidamente um território em pleno crescimento, com forte pendor empresarial” e que a freguesia “tem sido um forte pólo de atracção de investimento externo associado ao sector exportador”.
Paulo Baptista Santos, Fernando Marques, Conceição Pereira, Pedro Pimpão, Laura Esperança e Valter Ribeiro assinam o documento onde apontam que na intenção manifestada pelos CTT no caso de Valados de Frades “não se vislumbra a justificação económica, ética ou social da decisão”. Aliás, “existem fundadas dúvidas sobre a continuidade da prestação de todos os serviços postais da vila”, referem. Os deputados querem saber, caso se confirme o agenciamento, “quais as entidades consultadas e que critérios de qualidade foram definidos para a transferência do balcão de correios” e se o processo é do conhecimento da entidade reguladora do sector e das autarquias.

 

 

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