Habituada a viajar e conhecedora de grande parte do mundo, Maria José Alves, coordenadora da agência de viagens Top Atlântico, tem, no entanto, um país com um lugar especial no seu coração: S. Tomé e Príncipe.
A primeira visita, há 20 anos, deixou-a cativa, pela natureza exuberante e também pelas suas gentes e cultura. Há quatro anos voltou, com a família, para lhes mostrar a beleza do local.
“S. Tomé e Príncipe é um pedaço de paraíso”. É desta forma que Maria José Alves descreve o país que já visitou por duas vezes e onde ainda quer voltar. Conta que a sua originalidade resulta da história e cultura.
Descoberto em 1470 por navegadores portugueses, possui toda essa época “gravada” na sua paisagem, especialmente nas antigas roças coloniais.
“As grandes explorações agrícolas estão ali para lembrar que S. Tomé e Príncipe foi terra de escravatura, em que o desenvolvimento económico foi suportado pela produção da cana de açúcar, café e cacau”, conta Maria José Alves, lembrando que em 1913/14 chegou a ser o principal produtor de café e cacau do mundo, o que lhe mereceu o nome de ilhas de chocolate.
A cultura das ilhas resulta do cruzamento entre as tradições europeias e africanas e “produz manifestações populares interessantíssimas”, destacando o tchiloli, auto de floripedes, o socopé e a puíta, além da riqueza da gastronomia, artesanato e da pintura popular.
As celebrações religiosas respeitam os costumes católicos e, ao mesmo tempo, integram as crenças locais. “É isso que torna aquela ilha tão mística e bonita”, destaca.
Maria José Alves visitou o arquipélago pela primeira vez há 20 anos com o marido, tendo ficado instalados na casa de um amigo que era o adido cultural de S. Tomé e Príncipe (e que foi encenador do CCC nas Caldas da Rainha nos anos 70) e lhe deu a possibilidade de conhecer não só a paisagem, como também as suas gentes e cultura. “Vivi o S. Tomé profundo e deixou-me encantada, principalmente pelo estado virgem em que se encontrava a ilha. São paupérrimos mas são pessoas muito felizes, adorei aquele povo”, conta a caldense que abandonou aquele país com um “aperto no coração”.
Logo nessa altura ficou com a certeza que aquele era um destino que devia dar a conhecer aos seus filhos e o retorno deu-se, em família, em 2006. Mas Maria José já não encontrou o mesmo país. Encontrou as mesmas pessoas e paisagem, mas também a cidade “completamente destruída” por causa da miragem do petróleo, pois assim que descobriram que havia “ouro negro” no subsolo, os santomenses abandonaram muitas das roças e concentraram-se na cidade, onde vivem na rua e na praia.
Da primeira vez que visitou o país Maria José Alves levou apenas material escolar e livros, que deixou na biblioteca de Portugal em S. Tomé. Depois do convívio com a população apercebeu-se que eles “não tinham nada” e acabou por deixar lá tudo o que também levava na mala. De regresso a Portugal ainda satisfez os pedidos que lhe tinham feitos, como agulhas para a máquina de costura, barbatanas, canas de pesca e óculos, através da mala diplomática.
Da última vez, os cinco passageiros que compunham a família levaram seis malas de viagem, que encheram com produtos que foram recolhendo, desde roupa, brinquedos, muito material escolar e que deixaram na aldeia onde permaneceram, para ser distribuído pela comunidade.
Para Portugal vieram centenas de imagens para recordar os dias felizes passados naquela ilha do Golfo da Guiné e que hoje partilham com os leitores da Gazeta das Caldas.