A paixão pelos Jornais
A paixão pelos “Jornais” acompanhou-me, desde muito novo. Jovem adolescente guardava recortes de jornais numa velha mala de viagem.
Com 22 anos, cinco anos depois de Abril, frequentei um curso de jornalismo ministrado pelo Afonso Praça e Alexandre Manuel e pouco tempo depois, já fazia parte da redacção do “Processo-Zero”, tendo, mais tarde, sido Director-Adjunto.
Em Dezembro de 1977 fez-se uma edição especial dos vinte anos, com a participação de Ribeiro Mendes e Rui Cunha, Manuela Eanes, Comissário Europeu Padraig Flynm, Maria de Lourdes Pintassilgo, Maria José Nogueira Pinto, Barbosa de Oliveira, Vieira de Castro, João Amaral, Pedro Cid, Correia de Campos, Boaventura Sousa Santos, Alfredo Bruto da Costa, Ferro Rodrigues, Edgar Correia, Padre Vítor Melícias, Luís Filipe Pereira, Vítor Vasques, Bagão Félix, António Capinha e muitos outros, e fechava a revista Mário Soares.
Esse projecto resistiu enquanto pôde. Os problemas eram os mesmos de hoje, independência editorial e económica.
Os desafios da Gazeta das Caldas são os mesmos.
Por isso, teremos de fazer um esforço, para se chegar, para já, aos cem anos.
A Gazeta das Caldas merece. E nós também!.
Duas irmãs
Com apenas dois anos, a Gazeta das Caldas viu a sua terra tornar-se cidade. Depois cresceram juntas. A Gazeta tornou-se num jornal de referência e as Caldas da Rainha afirmou-se como a capital do Oeste. Como duas irmãs, sempre se apoiaram, incentivaram-se e, quando assim tinha de ser, criticaram-se uma à outra. Agora, à beira do centenário, num mundo virado do avesso por causa da pandemia da covid-19, ambas enfrentam grandes desafios.
A Gazeta das Caldas confronta-se com os novos media que pululam no mundo digital e que parecem querer dispensar a intermediação dos jornalistas. Depois de 95 anos a informar os caldenses, importa destacar esse direito, que é de todos nós, de sermos informados. Essa informação, que se quer atual, completa e verdadeira, só nos é assegurada com o trabalho independente dos jornalistas. Para garantir esse nosso direito, sustento da própria democracia, a Gazeta não pode vacilar.
Já a cidade das Caldas da Rainha sofre algumas dores de crescimento. As ruas estão a ficar modernas, dando primazia às pessoas e terminando a ditadura do automóvel. Depois de décadas em que as nossas ruas foram invadidas pelos carros que não deixavam espaço para as pessoas viverem a sua cidade, existe agora um esforço para se atingir o desejado equilíbrio.
Que as duas irmãs, na sua juventude quase centenária, se mantenham firmes nos seus trajetos. Só assim se antevê um grande futuro para a Gazeta e para as Caldas.
O preço, o custo e o valor
Todo o empreendimento humano tem um preço – montante pecuniário delimitado pelas obscuras leis do mercado – que define o custo da sua transação comercial. O preço é um dado objectivo, uma apreciação quantitativa, calculável, categórica. À pergunta: quanto custa? Responde-se: Custa xis.
Imagino que a Gazeta das Caldas tenha um preço, embora não saiba qual é.
Diferente do preço, é o valor – apreciação qualitativa, subjectiva, vaga e imprecisa – que, todavia, traduz a fecunda relação do indivíduo com a obra. À pergunta: quanto vale a Gazeta das Caldas? O que responder?
A Gazeta, no seu percurso quase centenário, cujo início antecede no tempo a elevação de Caldas a cidade, tem um valor que nenhum preço pode expressar, não só por ter assumido, como nenhuma outra instituição, o papel de fio condutor da memória da cidade, mas por ter participado de forma indelével enquanto força viva na construção dessa memória, num movimento dual que parece fundi-las numa mesma entidade.
E é por tudo isto, que a comunidade, honrando gerações sucessivas de trabalhadores e colaboradores que deram corpo ao que hoje não tem preço, deve – a qualquer custo – tratar de levar adiante este valioso património e transmiti-lo incólume às gerações futuras.
Do corpo saudável ao formatado
Pediu-me o José Luís que escrevesse um texto sobre os 95 anos da Gazeta já que faria sentido regressar nesta efeméride ao contacto com os leitores do jornal.
Não sei bem que fazer, que escrever? No meio da orgia mono-temática que por aí anda com a pandemia é difícil chamar a atenção para algo que lhe escape.
Seria uma frivolidade, estamos perante um exemplo extremo do que Michel Foucault apelidou de biopolítica – à norma covid ninguém escapa.
O que vinha sucedendo com o fumar, o sexo depois da sida, ampliou-se com a norma covid.
A tua saúde é um projecto estatal, o teu corpo é gerido por forças alheias.
A liberdade individual extinguiu-se.
À imposição do corpo saudável junta-se a da formatação do corpo em ginásio ou na cirurgia.
Muda-se de nariz, de cu, de mamas, de barriga, não se bebe álcool, não se fuma, atenção às gorduras, às carnes vermelhas, morte ao sarrabulho, à carne de alguidar, etc., a tudo o que a cozinha tinha de identitário.
O espectáculo é a nova religião das massas, pelo menos desde que Guy Debord o clarificou na sua A sociedade do espectáculo e nos seus Commentaires.
Não nos resta senão um horizonte dietético e estar de joelhos diante do corpo publicitado.
Gazeta – ter razão antes do tempo
A Gazeta acompanhou a minha vida como caldense e ambientalista. Gostaria de lembrar a campanha contra a central nuclear de Ferrel (1976/1978) em que a Gazeta teve um papel determinante.
Esta luta conseguiu impedir este projeto promovido por iluminados que pretendiam “modernizar” o país.
Na altura era muito novo para me envolver, mas esta luta inspirou-me e outros a combater o Plano Energético Nacional de 1985 quando nos quiseram impor 5 centrais nucleares. Foi uma luta desigual (havia pelo menos 5 Ministros pró-nuclear) mas esta investida foi travada.
A história deu-nos razão com os muitos acidentes, o eterno problema dos resíduos nucleares e os custos monumentais de construção e funcionamento. A França, referência nesta área, decidiu reduzir a sua dependência do nuclear em 50% até 2035. As novas centrais nucleares na Finlândia, apontadas como exemplo por um novo grupo de iluminados, em 2010, sofreram atrasos significativos e aumentos de custos gigantescos.
Na altura não era fácil defender estas causas e outras ligadas ao ambiente que a Gazeta promoveu. Os ambientalistas eram vistos como obscurantistas e inimigos do progresso. Felizmente muito mudou na consciência ambiental (talvez tarde de mais) e a Gazeta deu o seu contributo. Parabéns!
Coiratos, ainda
Agradecendo, aproveito o convite da Gazeta, que muito de lisonjeou, para partilhar algumas notas sobre o desalento que é ver a minha Cidade entregue a esta “normalidade” e, no final, sugerir uma proposta revolucionária.
O programa Jardins Históricos, ao apresentar doces típicos das Caldas, acrescentou que é possível comprar essas “especialidades” em qualquer área de serviço. Não vale a pena vir a Caldas pela sua doçaria, pode comprá-la em Portimão ou em Macedo.
Quando noticiou o Falu (festival qualquer coisa de arte urbana – nem me vou deter na originalidade do nome!) a Gazeta referiu que Caldas repetia a experiência de Leiria, posso acrescentar, além de Leiria, uma lista extensa de cidades por esse mundo fora com intervenções semelhantes. Sem demérito para a excelência das obras, mas se queríamos ser notícia a pintar paredes deveríamos tê-lo feito quando era novidade, talvez há 15 anos atrás.
Em contrapartida a proposta Virtus Aquae, com carácter cultural fortemente distintivo, parece ter ficado na gaveta.
Mas deixo uma ideia para que mostremos, como Concelho, um posicionamento de vanguarda. Implementar em Caldas um conceito que, do Japão, está a espalhar-se pela Europa, mas que será (julgo) pioneiro em Portugal: os micro bosques urbanos. Se alguém conseguir completar o acrónimo, até sugiro um nome para a intervenção: PhALU – plantar arvores em localização urbana.
Oxalá!
Cheguei a Caldas da Rainha aos 26 anos, atraído pela Ana, o amor da minha vida. Integrei-me no Hospital, cheio de ilusões e de projetos. Alguns realizaram-se: uma família linda, uma atividade profissional intensa. Outros ficaram aquém.
Relevo, 36 anos depois, o peso de 3 instituições: a Gazeta das Caldas, o Montepio Rainha D. Leonor e o Hospital.
Vão 30 anos de exercício clínico no Montepio, apenas interrompidos durante 3 por uma experiência de gestão hospitalar. A Clínica do Montepio permitiu-me o livre exercício da Medicina e o privilégio duma relação médico-doente sem barreiras. O Hospital valorizou o gosto pela clínica, o trabalho em equipa, a carreira profissional. Quis mais e melhor! Vesti a camisola! E mantem-se vivo o sonho dum novo Hospital, moderno, modelar, correspondendo às aspirações de doentes e profissionais.
Sempre considerei a Gazeta das Caldas como um veículo de boa informação, promotor de integração. Um espaço de liberdade! Brindo à sua longa vida!
E, se os astros estiverem alinhados, se houver vontade política, se os nossos governantes tiverem critério, se houver atempado financiamento europeu, pode ser que a edição dos 100 anos da Gazeta seja preenchida pela boa noticia da inauguração dum novo Hospital. Pode ser. Oxalá!
Prenda de olhar e ver
Nos seus 95 anos de vida a Gazeta das Caldas enraizou-se nos leitores,que vivem ou trabalham no Concelho ou bem longe dele e mantêm a sua ligação afectiva e vontade de estarem informados sobre o que se passa. Refiro-me aos Caldenses espalhados pelo mundo.
Ao longo de 95 anos a Gazeta,como é conhecida, teve certamente altos e baixos como todas as vidas e fez muitas adaptações.
Os tempos que correm,em que há na comunicação social dita tradicional ou clássica em simultâneo excessos e falta de informação, muitas opiniões e repetições e largas ausências de visibilidade do pais real, penso haver uma enorme oportunidade eficaz de fazer diferente. Flexibilidade e Inovação são palavras de ordem. Aqui fica, à laia de prenda de anos uma sugestão prática, adaptada de uma ideia que tenho há muito e que me levou a falar no “tonus social”em várias das 14 crónicas OLHAR E VER (2018/19). Que a Gazeta preencha a evidente lacuna de visibilidade dos parceiros do país real especializando-se assumidamente em tudo o que é positivo: bons exemplos criadores de soluções, desenvolvimento, valor. Gente que não desiste e de quem qualquer sociedade saudável precisa!
Ora sendo esta atitude/visibilidade um bem escasso e potencialmente atractivo,se devidamente divulgada terá tendência a aumentar assinaturas/vendas e consequentemente criar músculo para a Gazeta continuar o seu caminho para os 100 anos e aí por diante. Até lá!
Vivam os 95 anos da Gazeta!
Fazer 95 anos não é para qualquer um. É muito mais do que a actual esperança média de vida, que se situa nos 81 anos.
O nascimento da Gazeta das Caldas nos Pavilhões do Parque, jornal regional e regionalista como se afirma no 1º número, é também um dos factores essenciais de consolidação da urbanidade e centralidade territorial das Caldas da Rainha, que culminaria com a elevação da vila a cidade passados dois anos, a 26 de agosto de 1927. Tal como se afirma no editorial do 1.º número logo na 1.ª página: A Gazeta das Caldas, jornal regionalista que hoje inicia a sua publicação é, por assim dizer o porta-voz de todos que amam esta região. A sua ação ao lado da Câmara Municipal, da Comissão de Iniciativa e das Associações locais, no que elas de bom fizerem, muito ha de contribuir para o progresso duma das mais belas regiões do nosso país.
Este amor das Caldas da Rainha pela região na qual é a mais relevante centralidade territorial, deve continuar a inspirar todos os Caldenses nas melhores decisões políticas, projectos e acções de progresso social e económico. Com uma imprensa livre e independente ao seu lado. Assim seja!
A Gazeta está viva
A Gazeta das Caldas comemora 95 anos de existência, num momento em que a comunicação social, nomeadamente a regional, atravessa enormes dificuldades para sobreviver.
Estas dificuldades já existem há algum tempo levando ao encerramento de alguns jornais regionais de referência nacional.
A Cooperativa Editorial Caldense, detentora do título “Gazeta das Caldas” desde 1975, tem pugnado ao longo destes 45 anos pelo seu engrandecimento e independência editorial, colocando a Gazeta das Caldas como um dos mais prestigiados órgãos de Comunicação Social regional de Portugal.
Estamos a viver um momento de grande incerteza quanto ao futuro, mas, não nos podemos deixar abater pelas dificuldades existentes, temos que ser resilientes, organizados, reinventarmo-nos a todo o momento para produzirmos um jornal independente, sério e respeitado, para que os nossos leitores e os anunciantes nos continuem a apoiar.
Por isso, estamos a proceder a diversas alterações de fundo, nomeadamente com a introdução de um novo grafismo, reforçando a nossa presença nas redes sociais, alargando a nossa área de influência na região Oeste, reformulando a nossa área comercial com a criação de novos produtos, lançando uma campanha de assinaturas do “centenário” e outras iniciativas que a seu tempo serão oportunamente divulgadas.
Resta-nos deixar uma palavra de profundo agradecimento aos nossos Colaboradores, pelo seu profissionalismo e dedicação a este projecto com 95 anos chamado GAZETA DAS CALDAS, pois sem eles não seria possível manter vivo o nosso e vosso jornal, connosco têm enfrentado as enormes dificuldades com que nos temos deparado neste últimos tempos.
Uma palavra final aos Cooperantes, juntos vamos levar a GAZETA DAS CALDAS aos 100 anos de existência, contamos convosco contém connosco.
Parabéns, Gazeta das Caldas!
Isenção e pluralismo
Foi com surpresa e agrado que recebi o convite para enviar um texto para a Gazeta. Ainda mais tratando-se desta edição de aniversário, que anuncia outro, maior e mais redondo, de um século de existência. O mundo em mudança acelerada aumenta os desafios para a imprensa e para todos nós. A pandemia veio aumentar a angústia do presente e obriga-nos a pôr os olhos no futuro.
Queremos voltar a viver como vivíamos? Ou queremos olhar para os jovens e para o planeta e acreditarmos que a vida se prolongará por muitas gerações? Infelizmente temos de dar de beber a essa dúvida e também dar à sede o benefício da dúvida. O paradigma que se aprofundou nos últimos 40 anos trouxe-nos este sentimento apocalíptico, porém, oferece-nos agora este momento de paragem e epifania colectiva para a urgência de mudança de padrão.
A cartilha dos últimos 40 anos está posta em causa, pela pandemia e pela voragem anunciada de uma crise económica que pode superar 1929. Até o conservadoríssimo Financial Times assume em editorial de Abril (curioso…) de 2020 que o papel dos estados é essencial na economia. Volta Marx! Bem-vindo Keynes! Estão perdoados. Afinal a financeirização é uma treta ao serviço de poucos, indiferente e inimiga da sustentabilidade.
Novos tempos reclamam outros ângulos para olhar o outro e ver futuro. Perante a consciência da finitude planetária há que encontrar outros indicadores de bem-estar. A procura e o caminho fazem-se com uma imprensa próxima dos cidadãos, isenta e plural. Feliz Aniversário Gazeta!
Uma plêiade brilhante de mocidade
“A Gazeta das Caldas é criada para servir um grupo específico dentro da elite local de Caldas da Rainha, «uma plêiade brilhante de mocidade» como o jornal lhe chama, que domina as principais instituições locais: a Câmara, a Comissão de Iniciativa e a Associação Comercial e Industrial”
O meu avô iniciou a sua atividade comercial em 1917, o seu número de registo na referida Associação o 54. Tendo em conta que a Gazeta inicia a sua atividade em 1925, acredito que o posso contar entre esta “plêiade brilhante de mocidade”. A loja que abriu, inicialmente uma mercearia, é uma das mais antigas da nossa cidade mantendo-se como referência na história de tantas famílias. O comércio tradicional caldense é, desde sempre uma marca distintiva, por isso aqui acorriam gentes de tantos lugares. Lembro, além da Casa Varela, a Casa Baptista, a Casa Ramiro, a Parnaso…
Durante a pandemia os meus pais mantiveram-se mais resguardados e eu descobri uma loja maravilhosa onde podemos encontrar… tudo! É espantoso como atravessámos gerações, como vendemos para os avós e agora para os netos. É delicioso perceber como as pessoas gostam de conversar enquanto são atendidas… contam coisas engraçadas e muito interessantes. Estou rendida a esta loja!
Olho, agora, com mais respeito para este mundo do comércio de proximidade, onde a sabedoria da vida se aprende em cada cliente, em cada amigo que entra.
Sinto a empatia que se cria com o freguês, nestas lojas de família para famílias e a segurança que faz as gerações regressarem, não a um passado mas a um novo paradigma de relações comerciais que importa reconhecer e valorizar já que cumprem o desígnio proposto na primeira edição da Gazeta: “Contribuir para o progresso de uma das mais belas regiões do País” .
Ainda… “Quo Vadis… Caldas?”
Pilares do Regime
Uma comunicação social atenta, livre, corajosa e independente, é a que se constitui como um pilar das verdadeiras democracias.
Nos regimes antidemocráticos totalitários, a comunicação social é “substituída” pelos meios de transmissão ideológica do regime e como tal, seus pilares também. É assim na China, Coreia do Norte, Cuba, Venezuela, etc…
Tudo muda quando a comunicação social se transforma em veículo de transmissão do poder, seja à escala nacional, regional ou local.
A recente decisão governamental, de subsidiação da comunicação social, teve a intenção de reforçar o controlo sobre ela.
Afinal, devemos lealdade a quem nos paga. Se por norma já é subserviente e conivente com o poder, seja por acto ou apenas por omissão, passou agora a ser ainda mais submissa. E nem só de subsídios diretos e declarados se sustenta esta conivência silenciosa e silenciadora, há “fretes” mais ou menos camuflados, que exigem em troca, tratamento dócil do outro lado.
Quando assim é, a comunicação social deixa de ser um pilar do regime e passa a ser um pilar do poder, tal como nos regimes totalitários. E isto é assim, cada vez mais.
Quando em 2015 a Gazeta iniciou a publicação de artigos de opinião, por autores de quadrantes políticos e ideológicos distintos e abrangentes, teve o mérito de dar abertura a opiniões que fizeram a diferença, na independência e liberdade de expressão que se exige e raramente existe. Os votos para que assim continue.
Nos 95 anos da Gazeta
Condicionada pelo espaço, nesta edição festiva, duas ideias fazem este texto.
A primeira é dar os parabéns à Gazeta das Caldas e desejar-lhe uma vida longa. Neste gesto, abraço quem fez nosso jornal desde a sua fundação e o fez chegar até hoje: diretores e jornalistas, evidentemente, mas também todos os colaboradores e aqueles que, ao longo do tempo, em funções menos visíveis, datilografaram textos, atenderam telefones, venderam publicidade, distribuíram o jornal. O jornal é um ser vivo, feito por imensas pessoas, que foram sucessivamente passando o seu testemunho. Muito obrigada a toda esta família que fez e faz a Gazeta! Parabéns também aos leitores: sem eles não existiria o jornal. Fazem parte desta grande família.
Ao mesmo tempo, a Gazeta faz também parte da família de cada um de nós e da nossa região. Acarinhar este projeto, assinar o jornal, comprar nas bancas cada edição, anunciar na Gazeta é fundamental para que possamos continuar a celebrar aniversários. Sem imprensa local livre não há Democracia, nem Liberdade.
Que a Gazeta continue a ser um bastião da nossa região e a cumprir a sua missão fundamental, dando testemunho vibrátil da nossa vida coletiva, é o meu maior desejo neste aniversário.
Caso muito raro de longevidade
A Gazeta das Caldas é um caso muito raro de longevidade para um jornal em geral e ainda mais para um regional. Logo, impõe-se assinalar a sua existência ao longo dos últimos 95 anos.
Que seja reconhecido o mérito aos seus responsáveis em trazer esta publicação até aos dias de hoje.
O jornal sempre teve linhas editoriais interessantes ao longo dos anos, criticando, nalgumas ocasiões, o poder local e nacional.
Quem faz investigação história das Caldas da Rainha e da região não pode deixar de consultar a Gazeta referentes às épocas em estudo. É fundamental ler este jornal para perceber melhor a história.
Agora, com a disponibilização das edições on-line no site do Arquivo Distrital de Leiria, facilita-se muito o trabalho dos investigadores de temas históricos, sendo um verdadeiro manancial de informação que, de resto, está disponível para o público em geral.
Quero dar os parabéns à Gazeta por este aniversário e desejar que continue a trilhar o seu caminho e que lhe seja reconhecido o mérito pela população da região Oeste.
O caminho faz-se a caminhar
Nasci em 1951 em Santa Catarina e sou regular colaborador desde 2002 mas a Gazeta das Caldas faz parte da minha vida desde sempre. Ou quase.
Antes de escrever já lia as suas páginas em barbearias, tabernas e oficinas. Comecei a interessar-me por jornais e jornalismo em 1957 quando passava à porta da “Gazeta do Sul” no Montijo e ficava com o nariz colado ao vido do escritório do jornal fundado por Alves Gago no qual se estreou o poeta Sebastião da Gama, assinando como Zé d´Anicha, nome da pedra frente à Pensão de seu pai na Arrábida. Havia em Santa Catarina uma oficina de sapateiro (senhor Manuel Inácio) onde se liam os jornais quase todos (“Mundo Desportivo” mas não só) e onde trabalhava Juventino Freire, responsável pelos textos desportivos do Jornal da minha terra, “O Catarinense”.
Faço o exame da terceira classe e o da quarta numa Escola das Caldas da Rainha em 1961 e sou incorporado no RI5 em Abril de 1972; sempre perto da Gazeta das Caldas.
Entretanto e já com um livro colectivo publicado em 1971 surge a oportunidade e começo a escrever no “Diário Popular” em 1978 com Jacinto Baptista. No ano seguinte apareço em “A Bola” com Carlos Pinhão, em 1986 assino crónicas no “Record” com Ricardo Tavares e em 1988 no “Sporting” com Fernando Correia.
A carteira profissional só chegou em 1997 por razões óbvias (era bancário) mas a paixão já era forte. Hoje escrevo na Revista LER, no “Correio do Ribatejo”, na Gazeta das Caldas e leio uma crónica semanal na Antena Um Açores. Em 2020 como em 1978 continuo a pensar que o Jornalista é o Historiador do quotidiano porque o Jornalismo é uma disciplina da Literatura.