“Trabalhar aqui em Toronto com 25 graus negativos não é nada fácil”

0
4576
- publicidade -

IMG_20141102_142739João Carlos da Silva Pinto
Caldas da Rainha
35 anos
Construção civil
Toronto – Canada
Percurso escolar: Escola Secundária Bordalo Pinheiro e  conclusão do 12º na Escola Secundária da Mealhada

O que mais gosta do país onde vive?
Os benefícios que este país me dá a nível económico foi sinceramente o grande factor que me levou a emigrar. Um funcionário da construção civil  que não seja aprendiz, pode tirar 34 dólares à hora (24,20 euros). Sem dúvida que a minha continuação neste país pode permitir-me um dia mais tarde conhecer o mundo e viajar por cidades talvez inalcançáveis, pelo menos, para mim.
Outro aspecto a nível paisagístico, a ter em conta, é o facto de que, por meados de Outubro, as árvores ficam coloridas, parecendo um autêntico arco-íris. Quando vem o Inverno, a chuva e o frio que se faz sentir origina um fenómeno em que as árvores ficam cristalizadas. É, sem dúvida, uma autêntica beleza natural. E há também atracções turísticas como as cataratas de Niagara Falls. A CN Tower, não sendo uma beleza natural, é também um ponto turístico de referência.

O que menos aprecia?
Sem dúvida trabalhar com 25 graus negativos não é nada fácil. Quando caem os primeiros flocos de neve, achamos muito bonito, mas chega a uma altura que nos fartamos dela. Ter que se deixar gorjeta mesmo quando somos mal atendidos também não é muito do meu agrado. Passar horas nos transportes públicos. Ter que se pagar para estar neste país. O trabalho foi uma novidade pois eu não estava habituado.

- publicidade -

De que é que tem mais saudades de Portugal?
De inúmeras coisas. Da sopa da minha mãe e dos grelhados do meu pai. Das jantaradas com amigos, e dançar num sítio com música anos 80, de ir à pesca, de conduzir, fazer praia, entrar num balneário, jogar futebol, ouvir as ondas do mar da nossa costa. No fundo, sinto saudades de estar no meu país junto dos meus a fazer aquilo que gosto. Mesmo por metade do vencimento, sou mais feliz em Portugal.

A sua vida vai continuar por aí ou espera regressar?
Espero regressar quando tiver uma oportunidade para isso, mas tenho noção da realidade de Portugal. Aqui sinto-me mais cansado e velho. A minha continuidade aqui dar-me-ia mais valias num futuro a longo prazo, mas como já referi, sinto-me mais eu em Portugal e quero voltar. Estou à espera que o telemóvel toque. Foi uma experiência nova que eu há dois anos queria muito. O conselho que eu deixo aos jovens é que, se o que vierem fazer não fugir muito do que fazem em Portugal, venham. Mas sempre com contrato de trabalho, caso contrário é muito arriscado.

“A minha vontade é voltar e passar o Natal em casa porque aí sou feliz”

Tenho o 12º ano e era comercial na empresa A. Marques. Juntamente com isso, jogava futebol no Caldas Sport Clube e tinha uma vida activa e preenchida.
A mudança foi muito difícil para mim e ainda hoje, embora mais habituado, não estou totalmente realizado e preparado pois estou num trabalho totalmente oposto ao que fazia em Portugal.
Levanto-me por volta das 5h30 da manhã para começar a trabalhar às 7h00 quando se trabalha a poucos quilómetros de casa. Tenho o passe que me permite ir e vir para o trabalho e que custa 133,75 dólares (95 euros).
A minha função neste momento é fazer com que o cimento que é colocado dentro das formas de ferro que dá origem às paredes e ás placas, fique homogéneo, de modo a que não haja buracos no cimento. Para tal, usa-se uma mangueira que vibra. Neste momento estamos a fazer um edifício que vai ter 60 andares.
Temos 30 minutos para almoçar e 15 minutos a meio da manhã. Curioso ver alguns colegas meus comerem hamburgueres ou feijoada às 9h00 da manhã. São hábitos completamente diferentes. Não me vejo a fazer isso, mas hoje em dia percebo isso devido ao desgaste físico muito grande que há no trabalho.
Nem tudo é mau. O horário de sair é às 15h15. Mas quando chega o Inverno, o vento condiciona todo o trabalho e o rendimento não é o mesmo pois trabalhamos na rua com 15 e 20 graus negativos.
O vencimento que se aufere é, sem dúvida, uma mais valia, mas quando não se é cidadão canadiano ou residente, os problemas aumentam, pois para estar neste país, convém estar legal e hoje em dia levam cerca de 12 mil a 16 mil dólares (8500 a 11400 euros) para ter esse estatuto.
Pelo que oiço dizer, as despesas hospitalares são grandes e os seguros automóveis para um recém chegado podem chegar aos 6000 dólares ano (4280 euros).
As rendas das casas também são elevadas.
Ainda tentei jogar futebol para me sentir mais realizado, mas o desgaste era muito grande derivado ao meu trabalho. Logo não havia condições.
Agradeço a quem me recebeu e viajou comigo nesta aventura. Jamais esquecerei aqueles que durante estes meses foram falando comigo dia e noite. De uma maneira ou de outra ajudaram-me a permanecer aqui, no meio de algumas dificuldades. Para todos eles o meu mais sincero obrigado. Mas neste momento a minha vontade é voltar e passar o Natal em casa porque aí sou feliz.

João Carlos da Silva Pinto

- publicidade -