Foram quase duas dezenas de carros alegóricos e mil figurantes que sábado à noite esperavam ansiosamente junto à Estação de Comboios para dar início ao cortejo nocturno de Carnaval. Arrancaram a passo lento, pois no que respeita ao Carnaval não há pressas para que a festa acabe. À Avenida 1º de Maio iam chegando cada vez mais pessoas para assistir ao corso, mas a maioria não veio mascarada. Este seria o primeiro de três desfiles nas Caldas, mas também aquele que atrairia menos público. Domingo e terça-feira foram os dias com mais gente nas ruas.
Entre fatos mais bem elaborados que outros, encontravam-se muitos banhistas com vontade de ir aos banhos nas termas caldenses. No carro do Grupo Desportivo do Peso, transformado numa enorme banheira, podia ler-se “Se tens problemas de ereção as termas têm a solução”. Já o da ANDAR Ramalhosa puxava uma verdadeira carruagem que transportava a Rainha D. Leonor, que “voltou para reabrir o termal”, enquanto o do Centro de Apoio Social do Nadadouro fazia lembrar um palácio oriental, inspirado no conto Mil e Uma noites, mas adaptado a um spa termal. “Com águas quentes e da Lagoa, vamos sonhando com o termal”, diziam as suas odaliscas. Também o Sporting Clube das Caldas resolveu pegar neste tema: Bruno Prates caricaturou a figura do presidente Tinta Ferreira que exclamava “as minhas bactérias são melhores que as tuas”, numa crítica ao facto do Hospital já ter encerrado por várias devido à presença de bactérias nas águas.
Outro dos temas que esteve em claro destaque foi Donald Trump, comparado ao diabo pela Associação de Desenvolvimento Social de Alvorninha e ao lobo mau pelo Rancho Folclórico e Etnográfico Os Oleiros. António Costa e a sua “geringonça”, Marcelo Rebelo de Sousa, Passos Coelho e Cavaco Silva também não faltaram ao Carnaval das Caldas, onde já são habituais as pinceladas políticas.
A ACDR Sto. Onofre Monte Olivett aproveitou a folia destes dias para denunciar o problema da emigração jovem qualificada, especialmente de médicos e enfermeiros. Para isso construiu o “míssil das Caldas”, um avião simbólico das partidas dos portugueses para outros países. Já os seus figurantes exibiam trajes de finalistas universitários, numa alusão aos jovens que terminam a sua formação e não encontram oportunidades profissionais em Portugal.
“Os temas escolhidos para este ano mostram como os caldenses estão a par da actualidade, não só local como internacional”, disse o presidente da Câmara Tinta Ferreira, que salientou o crescimento gradual do Carnaval caldense, não só ao nível dos participantes, como da moldura humana que se forma para assistir. Também a qualidade dos carros, fatos e coreografias mereceram elogios por parte do autarca, que reconheceu o esforço das colectividades em melhorar de ano para ano.
Personagens do filme “Alice no País das Maravilhas”, flores e jardineiros, anjinhos e diabos, taxistas e motoristas da Uber, coelhos, noivos e, como não podia deixar de ser, as típicas matrafonas foram outras figuras que animaram e deram vida ao cortejo durante três dias. De olho nos figurantes, foi notória a participação de muita juventude. “É sinal que conseguimos envolver todas as gerações e que os mais novos percebem a importância de participarem no Carnaval como forma de intervenção social e de apoio às colectividades”, realçou Tinta Ferreira, revelando que este ano o custo da folia rondou os 100 mil euros.
As duas principais estrelas deste Carnaval foram, como é típico nas Caldas, Maria Paciência e Zé Povinho, Silvia Reis e Martinho Pacheco, os reis que seguiam no primeiro carro do desfile para cumprimentar o povo que lhes sorria. Ambos foram selecionados através de um casting promovido pela Câmara e garantiram que para o ano voltarão a concorrer.
Na terça-feira, último cortejo, decidiram inverter os papéis: “já tínhamos combinado que iriamos trocar os fatos, assim é mais divertido”, disseram à Gazeta das Caldas. O público achou piada à brincadeira. Afinal é Carnaval e ninguém leva a mal.