Um país nos pedais dos Amigos do Patareco…

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Grupo de nove ciclistas percorreu os 738 quilómetros entre Chaves e Faro em cinco dias e meio, sem incidentes, mas com muitas histórias para contar. Próximo passeio será de um dia, até Évora

Durante quase uma semana, entre 6 e 11 de junho, os Amigos do Patareco atravessaram o país de Norte a Sul, de Chaves a Faro, pela Estrada Nacional 2. Foram cinco dias e meio a pedalar, num total de 738 quilómetros, que os levou a atravessar 11 cidades e 24 vilas de 11 concelhos, mas também 11 serras e 13 rios.
A passagem pelo Alto Douro Vinhateiro foi “complicada”, mas é um espaço “muito bonito” e “de Castro Daire para baixo modifica-se a paisagem. “Em Abrantes entra-se no calor e nas retas longas do Alentejo”, analisou Rogério Baptista, um dos amigos do Patareco (alcunha de António Luís Lourenço). Por fim, “a Serra do Caldeirão é muito engraçado”, afirma.
Numa das etapas arrancaram às 06h00, com 9º na rua e terminaram pouco depois das 15h00 com 42º. “É um país tão pequeno, mas tão diferente”, assevera António Luís Lourenço, acrescentando que foi fundamental o facto de terem trabalho em equipa. O grupo tinha uma média de idades a rondar os 45. O mais novo tinha 39 e o mais velho já festejara 62 primaveras.
No final, consideraram que o percurso está bem assinalado, excepto uma zona, que por sinal foi onde se encontraram com o psicólogo João Mota, que estava a percorrer a EN2 a pé. “Ele estava a caminhar por uma causa muito importante e foi pena não podermos almoçar juntos e passar mais tempo. Marcou-nos a todos”, conta António Lourenço.
Na zona do Sardoal, num café, encontraram dois indivíduos que, curiosamente, tinham trabalhado vários anos nas Caldas da Rainha, na Secla.
E em 738 quilómetros registaram apenas três furos e uma queda, em Abrantes, “sem jeito nenhum e sem gravidade”, contam.
Além do apoio de várias empresas, o grupo conseguiu angariar um apoio da autarquia a esta iniciativa no valor de 1000 euros, para ajudar na cobertura logística e seguros. Nesta viagem, seguiram oito elementos de bicicleta e mais um, que foi simultaneamente o condutor de uma carrinha de nove lugares, o fotógrafo e o apoio técnico.
O grupo fez, ainda, um passaporte próprio, mais uma recordação que fica. “Quando terminámos no templo 2 em Faro, a senhora que estava lá a trabalhar notou que era diferente e disse que era engraçado”, contou.
Para setembro gostariam de realizar um passeio de um dia até Évora.
O grupo dos Amigos do Patareco tem origens há 15 anos e há cerca de dois associou-se ao clube da terra, a Associação Recreativa e Cultural Catarinense.
Anualmente, organizam o Passeio da Sexta-feira Santa. Esta iniciativa já ganhou tradição e todos os anos leva um autocarro cheio de participantes para fazer um passeio de bicicleta diferente. Devido ao contexto de pandemia de covid-19, em 2020 e em 2021 não foi possível realizar.
Todos os domingos de manhã, às 08h00, o animado grupo dos Amigos do Patareco encontra-se em Santa Catarina, junto à bomba de gasolina, para passear. ■

Foi na zona de Penacova que João Mota e os Amigos do Patareco se encontraram
Os Amigos do Patareco na rotunda em Faro que assinala o quilómetro 738

… e nos pés de João Mota, que caminhou para alertar para a violência doméstica

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Psicólogo alcobacense conseguiu fazer o percurso em 24 dias e cumpriu a missão: alertar para a violência doméstica e mostrar que todos podemos fazer algo para melhorar os locais onde vivemos

 

Foram 24 dias e 738 quilómetros. A pé, João Mota, passou por 32 concelhos de 11 distritos e por 11 serras e 11 rios, por uma causa que merece ser ressalvada e que nem sempre está na ordem do dia.
“Em termos físicos não é nada que a maioria das pessoas não consiga fazer”, afirmou, em conversa com a Gazeta das Caldas.
As bolhas nos pés foram as principais dificuldades, sobretudo no início da viagem. “É inevitável, mas fui tratando e nunca me passou pela cabeça desistir, apesar de ser incomodativo”, contou o psicólogo da Câmara de Alcobaça.
O objetivo da aventura, que começou a 30 de maio, era alertar para a violência doméstica, temática que o psicólogo bem conhece, devido à sua atividade profissional.
Vestidas levava umas t-shirts de autoria do caldense (e colaborador da Gazeta das Caldas) Bruno Prates, com algumas das frases que João Mota mais tem ouvido de vítimas. Os momentos mais dolorosos da viagem foram mesmo aqueles em que as vítimas iam ter com João Mota e falar, de forma informal, a partilhar as suas histórias. “A Estrada Nacional 2 tem um espírito muito próprio, as pessoas já sabiam o que vinha aí quando eu chegava”, explica.
Às costas uma mochila que pesava 7 quilos. “Tinha receio do peso, mas o nosso corpo habitua-se rapidamente”, explicou, acrescentando que foi deixando algumas coisas que não precisava nos sítios por onde passava.
O dia em que andou mais foi na etapa entre a Régua e Ribolhos, em que andou um total de 49 quilómetros, com várias subidas. “Foram cerca de dez horas a andar, comecei às 05h00 da manhã e às 18h00 ainda estava a andar”, disse.
Pelo caminho, o encontro com os Amigos do Patareco. “Na zona de Penacova ligaram a dizer que estavam ali perto”, lembrou, notando que aquela zona do percurso está mal assinalada. Apesar de curto, o encontro permitiu criar uma ligação engraçada entre os ciclistas e o psicólogo.
“O António ligou-me quase todos os dias, mesmo depois de terem acabado a rota, porque eles, como iam de bicicleta, acabaram mais depressa”, esclareceu João Mota.
Numa viagem tão longa, teve “a sorte de não ter apanhado muito sol no Alentejo”, analisa o psicólogo e à chegada a Faro, uma surpresa. João Mota tinha falado com a família e com amigos e estes haviam-lhe dito que estavam em casa, mas afinal tinham vindo esperá-lo, comemorando a façanha com uma sardinhada. “Foi muito bom”, partilhou.
No dia seguinte a chegar a Faro, foi orador numa tertúlia sobre este tema, que contou ainda com a presença de representantes autárquicos, de uma associação que apoia crianças vítimas de maus tratos e de um representante da Polícia de Segurança de Pública (que, curiosamente, teve um grupo a percorrer a EN2 de bicicleta para alertar para a mesma causa que o psicólogo e que terminou precisamente no dia em que o alcobacense iniciou o seu percurso).
À vinda para cima, veio com um dos elementos dos Amigos do Patareco que tinha feito a viagem e que se encontrava no Algarve por motivos profissionais.
João Mota reside em Vale de Maceira (Alfeizerão) e estudou nas Caldas da Rainha, na Bordalo Pinheiro. ■

O psicólogo alcobacense no início do percurso, em Chaves
João Mota, na chegada à Faro, onde o esperavam amigos e familiares
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