João Rodrigues bem que desconfiou. O cliente, um espanhol que lhe aparecera no stand interessado num Audi A3, mostrava sinais de nervosismo quando se sentara ao seu lado para irem experimentar o carro. Aparecera-lhe na firma da qual é vendedor, a Auto Leandro dos Santos, e perguntara-lhe o preço e se podiam fazer um test drive, o que é normal e não se recusa a um potencial cliente.
De maneira que saíram juntos do stand até à rotunda do Aki, onde João Rodrigues sai do carro para ceder o volante ao espanhol a fim de que este experimentasse a viatura na auto-estrada.
Não estava era à espera que este imediatamente trancasse o veículo, mudasse rapidamente de lugar e ainda lhe apontasse uma arma enquanto se punha em fuga em grande velocidade rumo à A8.
O funcionário da firma ligou imediatamente aos patrões que, sabendo que o Audi tinha pouca gasolina, logo decidiram tentar apanhá-lo. Nuno Santos dirigiu-se para sul enquanto o seu pai tentava a sorte para norte.
Na estação de serviço de Torres Vedras, Nuno Santos fica a saber que o seu Audi A3 tinha arrancado dali há momentos depois de o condutor o ter atestado e se ter posto em fuga sem pagar.
Decidiu voltar para as Caldas, mas nas portagens do Bombarral, como havia uma patrulha da GNR no âmbito da operação Páscoa – estes acontecimentos ocorreram no dia 5 de Abril, véspera da Sexta-Feira Santa – o empresário comunicou o roubo às autoridades. Que tomaram devida nota. “Naquele dia”, conta Nuno Santos, “já lhes tinham participado cinco roubos de carros. O do meu foi o sexto”.
No dia seguinte, os proprietários e o funcionário da Auto Leandro dos Santos foram ouvidos pela PJ, uma vez que o furto se realizara sob ameaça de arma de fogo.
“Mas eu depois de ver que aquilo era só preencher papéis pensei “se não for eu a mexer-me não consigo nada””, conta Nuno Santos.
Neste negócio dos automóveis tem-se amigos em muitos lugares. O empresário fez uns telefonemas e ficou a saber que o seu Audi A3 na sexta e no sábado seguintes passava cinco a seis vezes por dia nas portagens de Carcavelos da A5 (auto-estrada de Cascais). Sempre sem pagar. Em conversa com o seu irmão, Marco Santos, os dois decidiram ir dar uma volta aos bairros mais problemáticos daquela vila.
“Como tínhamos a segunda chave do carro, a nossa ideia era só mesmo encontrá-lo, entrar nele discretamente e vir embora sem arranjar chatices”, contam. E foi assim que passaram o domingo de Páscoa a visitar os bairros das Marianas, do Fim do Mundo, de S. João das Lamas e da Galiza. Do Audi, nem sinal.
Mas quando já regressavam às Caldas, nas portagens de Carcavelos chama-lhes a atenção um carro em grande velocidade que passa pelo corredor de pagamento sem parar. Era o carro que procuravam! O seu carro.
Excitados, lançam-se no seu encalço, mas mal conseguem aproximar-se porque o condutor espanhol tinha uma especial apetência para a grande velocidade atingindo por vezes os 200 Km/hora.
“O gajo ia a fazer street racing [corrida ilegal de automóveis] no picanço com um Cabriolet. Tivemos muita dificuldade em segui-lo e só conseguimos porque íamos um BMW e sempre a fazer sinais de luzes para os outros condutores se afastarem”, conta Marco Santos.
O irmão confirma. “O tipo ia tão divertido que nunca se apercebeu que o íamos a seguir. Depois do viaduto Duarte Pacheco, ele virou para Campo de Ourique e parou nos sinais luminosos no cruzamento para o Casal Ventoso. E foi aí que nós nos pusemos à frente dele para tapar-lhe a saída e saímos do carro ao mesmo tempo”.
Com tanta adrenalina acumulada, o confronto físico era inevitável. O ladrão de automóveis foi apanhado de surpresa e ainda apanhou umas cacetadas, mas demonstrou aquilo que já dele se desconfiava – era um ás do volante. “O tipo meteu a primeira, galgou o passeio e embateu numa vedação onde ficou logo o pára-choques. Depois engrenou a marcha atrás, abalroou um carro que estava parado no trânsito e ficou com a frente desfeita e conseguiu pôr-se em fuga na direcção do Casal Ventoso”, conta Nuno Santos.
COMO NOS FILMES POLICIAIS
Uma verdadeira cena de um filme policial. Os dois irmãos perderam novamente o rasto ao ladrão e também ao seu Audi que, para mal dos seus pecados, ficara num estado lastimável.
Chamada ao local, a PSP tomou conta da ocorrência, preencheram-se mais papéis e assim terminou um aventuroso domingo de Páscoa.
Mas os dois empresários sabiam agora através da polícia o nome do seu perseguido – Javier Abascal Palácios, 39 anos, natural de Madrid, mas residente em parte incerta. Era isso que constava de uma sentença judicial no país vizinho, em que o arguido fora condenado à revelia por ter provocado desacatos perturbando a ordem pública, sendo por isso, procurado pela polícia espanhola. A informação é pública – basta pesquisar no Google.
O resto da história souberam-na os dois irmãos na terça-feira seguinte cruzando informação de uns amigos e da PJ. O condutor do Audi regressara a Cascais meia hora depois dos incidentes em Campo de Ourique, passando novamente pelas portagens de Carcavelos sem pagar (nos dias anteriores também abastecera o carro pelo menos duas vezes tendo-se posto em fuga).
Com o carro bastante danificado, o espanhol arrombou uma garagem numa vivenda em Cascais para onde entrou com o carro, ali pernoitando dois dias. Foi a denúncia de vizinhos à polícia, que o viram entrar, que levou a PJ a detê-lo dois dias depois.
O seu cadastro incluía já furtos anteriores de automóveis, mas como neste usara uma arma de fogo, veio ser ouvido em tribunal nas Caldas da Rainha.
Esta história termina aqui. Com uma cereja em cima do bolo: ouvido por uma juíza, o arguido foi devolvido à liberdade com termo de identidade e residência, depois de ter dado ao tribunal uma morada de Madrid.
“Foram mais rápidos a libertá-lo a ele do que a libertar-me o carro, que ainda aguarda autorização para eu lhe poder pegar”, lamenta-se Marco Santos. A reparação do Audi, que em cinco dias fez 1300 quilómetros (quase todos na auto-estrada de Cascais), está estimada em 8000 euros e o seu destino será o leilão. “Está fora de questão vendê-lo a um cliente nosso. Com as multas que aí hão-de cair… Não íamos fazer uma coisa dessas”.
Carlos Cipriano
cc@gazetadascaldas.pt
como sempre o tribunais de portugal defende mais os ladroes de que o robado igual que nosso gorveno robao o trabalador e nao sao julgados a justiça e governo sao corupetos