Gazeta das Caldas fez mais de 200 quilómetros pelas estradas do concelho para avaliar em que estado se encontra o piso das principais vias, quer na cidade, quer nos acessos às freguesias.
Se por um lado existem bons exemplos nas zonas do Landal, A-dos-Francos e na zona norte do concelho, há também casos em que as estradas podem representar uma dor de costas (e dor de cabeça se se pensar na suspensão do carro) para quem as frequenta todos os dias. A N360, que liga Caldas ao Coto, Salir de Matos, Carvalhal Benfeito e Santa Catarina é um dos piores exemplos, mas a estrada para São Gregório não lhe fica atrás. No entanto, é na cidade que se encontram mais ruas em pior estado. As obras de regeneração urbana estão concluídas, mas há ainda muito por fazer.
As obras de regeneração urbana, concluídas há cerca de um ano, deram uma nova face ao centro e à zona histórica das Caldas da Rainha. Os passeios largos e as ruas renovadas, umas em empedrado outras com asfalto, dão à cidade um ar que conjuga a tradição e a modernidade. Estas ruas contrastam, no entanto, com muitas outras vias que precisam de uma boa manutenção. E há delas um pouco por toda a parte.
Quem entra na cidade vindo da A8, na saída das Águas Santas, depara-se com um mau cartão de visita. A estrada está em muito mau estado até à rotunda do Cencal (nem uma recente intervenção parcial na faixa do sentido Caldas-Foz melhorou a situação), e mesmo quem segue para a rotunda da Rainha pela Rua Vitorino Frois continua a ter uma viagem agitada. Quem escolhe as ruas dos Silos e Filinto Elísio para aceder ao centro da cidade, continua a ter os mesmos problemas. No seguimento desta última, passado o Bairro Azul, encontra-se uma Rua do Sacramento esquecida entre várias ruas intervencionadas pela regeneração urbana. Esta rua foi uma das principais entradas no centro durante as obras e encontra-se num estado lastimável.
Na mesma situação encontram-se várias ruas transversais às avenidas da Independência Nacional e 1º de Maio. Apesar de não serem ruas muito movimentadas, os ressaltos não deixam de causar transtorno sobretudo a quem ali habita.
A Rua Fonte do Pinheiro e algumas transversais também estão em mau estado, sobretudo devido às constantes obras para colocação ou reparação de infra-estruturas (redes de água, saneamento, electricidade e telecomunicações) e a reparações do piso que deixam desníveis desconfortáveis. É disso exemplo a Rua José Filipe Neto Rebelo, precisamente nesta zona, que recebeu uma intervenção de fundo, mas os trabalhos de repavimentação deixaram o piso bastante irregular.
Na zona norte da cidade, os problemas continuam nas ruas Prof. Abílio Moniz Barreto e 31 de Janeiro, junto aos quartéis dos bombeiros e da PSP. A continuação dessa rua até à Praça de Touros e a Sangremam Henriques, duas ruas em empedrado, apresentam grandes desníveis e podem ser uma antecâmara daquilo em que se podem tornar as que foram convertidas de asfalto para empedrado nas obras de regeneração urbana. Recorde-se, de resto, que tanto parte do calcetado da Avenida General Amilcar Mota, em frente ao Parque, como da Rua Sebastião de Lima, já tiveram de ser reparados por terem abatido.
Na zona Este, a Rua Dr. Leonel Sotto Mayor (entre o Chafariz das Cinco Bicas e a escola Rafael Bordalo Pinheiro), muito utilizadas quer pelo trânsito regular, quer pelas viaturas de transporte de doentes urgentes para o hospital, também encontram um percurso bastante acidentado.
Neste rol de ruas e artérias da cidade, destacamos ainda o estado em que se encontra o pavimento das rotundas da Expoeste e do McDonalds, cujo elevado movimento causou a deformação do piso, uma situação que não é nova, mas que deverá estar prestes a ser rectificada.
Dois milhões em alcatrão
A Câmara das Caldas tem um plano de repavimentações para este ano com um orçamento de 1,9 milhões de euros, dos quais 441 mil euros estão destinados a arranjos na cidade e no Coto. Gazeta das Caldas contactou a autarquia para saber quais as estradas que vão ser beneficiadas, mas não obteve resposta.
No entanto, Vítor Marques, presidente da União de Freguesias de Nossa Senhora do Pópulo adiantou que tanto as rotundas da Expoeste e do McDonalds vão ser repavimentadas, tal como algumas ruas, como a Dr. Leonel Sotto Mayor ou a Rua Fonte do Pinheiro. Nalgumas ruas que vão receber piso novo, o presidente de Junta disse que a repavimentação aguarda obras nas redes de abastecimento de água e de saneamento básico, como são os casos de ruas junto à Praça 5 de Outubro e à Praceta António Montez. Outras ruas da cidade, como a 31 de Janeiro e a Sangremam Henriques, vão ter que aguardar pelo menos mais um ano.
Vítor Marques reconhece que o mau estado do piso das ruas que ficam por arranjar causa transtorno a quem as utiliza, mas explica que o processo tem que ser gradual. “Para uns será justo, para outros será injusto, mas tomam-se opções e vão-se fazendo as obras”, realça, acrescentando que apesar da Junta de Freguesia ter uma palavra, a decisão final é sempre do executivo da Câmara.
Quatro freguesias desesperam pela requalificação da N360
Para quem se desloca com regularidade entre as Caldas da Rainha e as principais localidades das freguesias rurais, também há quem sofra um pouco com o estado de algumas artérias. A N360 será das que está em pior estado. Afecta quatro freguesias, desde o Coto, passando por Salir de Matos, Carvalhal Benfeito e Santa Catarina, às quais se pode juntar ainda a Benedita, no concelho de Alcobaça.
Relativamente próximo das Caldas, o Coto é das localidades com acessos em más condições e em todas as direcções. Quem opta pela N360 encontra alguns troços cheios de ressaltos. Tal como no interior da cidade, muitos destes ressaltos resultam mais de trabalhos de colocação de infra-estruturas ou reparações mal remendados, do que propriamente da deterioração do piso.
As conversas de café confirmam que há desagrado entre parte da população, embora também haja quem já nem se aperceba das irregularidades do pavimento, pelo menos até acertar com uma roda num buraco ou numa lomba um pouco mais saliente.
O mesmo acontece com a estrada do Vale do Coto, que vem desembocar na N8 junto do restaurante Os Queridos, e também a chamada estrada nova, que liga o Casal da Crocha à N360 a seguir à localidade do Coto, e que de nova tem pouco. Nestas, para além das questões das más reparações, existem mesmo parte do piso em mau estado. Nesta última estrada está prevista uma repavimentação para este Verão.
Quem continua pela N360 até Santa Catarina sabe que não é uma estrada fácil de percorrer. Nalgumas zonas acusa a idade e apresenta algumas depressões que resultam do movimento de terras. Outra questão relacionada com esta via é já antiga. O percurso é longo e muito sinuoso. A distância do percurso ultrapassa em quase 50% a distância em linha recta entre as Caldas e Santa Catarina, ou seja, os 10,7km são transformados em cerca de 16km.
Rui Rocha, presidente da Junta de Freguesia de Santa Catarina, disse à Gazeta das Caldas que a beneficiação desta estrada é uma luta de há muitos anos. O autarca adiantou que tem havido um diálogo constante com a Câmara das Caldas e que envolve também as juntas de Salir de Matos e Carvalhal Benfeito para que haja uma intervenção de fundo. Para além do melhoramento do piso, Rui Rocha fala na necessidade de alargamento e criação de zonas de ultrapassagem “para tornar a viagem mais curta em termos de tempo. São cerca de 25 minutos para fazer 15 quilómetros”, sublinhou.
A dificuldade em fazer esta intervenção são os custos elevados. “Não há fundos comunitários para melhoramentos da rede viária e a Câmara não tem verba para fazer a intervenção de fundo que a estrada precisa, mas estamos a lutar para conseguir o dinheiro que é preciso”, disse Rui Rocha. Sem precisar prazos, o autarca acredita que o problema vai ter uma solução. Até porque esta pode ser parte da solução para os problemas de desertificação que tanto a sua freguesia como a do Carvalhal Benfeito têm vindo a sentir e que “se devem em muito à falta de mobilidade que temos”.
De resto, a N360 nem é actualmente a via preferencial dos catarinenses para se deslocarem para as Caldas. A alternativa é a N114-1, pela Mata do Porto Mouro e Vale Serrão, mas também esta precisa de trabalhos, sobretudo ao nível das marcações, refere Rui Rocha.
São Gregório aguarda novo ramal de água
Quem também tem razões de queixa na principal via de acesso às Caldas são os fregueses de São Gregório. A viagem entre São Gregório e as Caldas pode ser feita em alternativa pela N115, que garante uma boa viagem, mas quem tem que utilizar a Estrada Principal que passa à Fanadia e vai desembocar à Lagoa Parceira, encontra um pavimento muito degradado em praticamente toda a sua extensão.
Esta estrada não faz parte do plano de repavimentação para este ano, o que Vítor Marques, presidente da União de Freguesias de Nossa Senhora do Pópulo, Coto e São Gregório explica pela necessidade da construção de um novo ramal de abastecimento de água, que está neste momento em fase de concurso.
De resto, acrescenta o autarca, as rupturas de água são um dos motivos para os muitos buracos que a estrada apresenta. O que está a ser feito nesta altura é o alcatroamento de algumas ruas transversais.
Ainda em relação a esta via, um dos piores troços é a Estrada da Lagoa Parceira, numa extensão de 700 metros entre a N114 e a Lagoa Parceira. Sensivelmente a meio desse percurso encontra-se o restaurante Lagar do Manel, onde o mau estado da estrada é também muitas vezes tema de conversa para os clientes. “A estrada tem muitos buracos, todos os meses vêm tapá-los mas continuam sempre a aparecer, mesmo junto à entrada do nosso parque de estacionamento temos um buraco enorme”, disse fonte do restaurante que não quis ser identificada.
Quem vem da Lagoa Parceira encontra bom piso até ao cruzamento com aquela estrada. “Até alcatroaram uma estrada sem casas e esta, onde passam mais carros, ficou assim”, lamenta a mesma fonte.
Vítor Marques adiantou que este troço vai ser repavimentado este verão.
Não há pontos negros de acidentes de viação
Gazeta das Caldas contactou a GNR e a PSP sobre eventuais pontos negros devido ao estado das estradas.
O comandante da PSP, Ricardo Pinto Ferreira, concorda que “nem todas as artérias estão nas melhores condições”. No entanto, as zonas em pior estado, “na sua maioria, estão sinalizadas de acordo com as características que apresentam”, o que já constitui uma ajuda aos condutores. “Se os limites de velocidade e a restante sinalização existente fossem respeitados pelos condutores a maioria dos acidentes não aconteceria”, adverte.
Mesmo assim, Ricardo Pinto Ferreira não aponta ‘pontos negros’ nas estradas. Contudo, uma das artérias que preocupa o comandante da PSP é a Avenida João Fragoso, na parte que não tem separador central. “Principalmente quando o piso se encontra húmido, os veículos deixam de ter a aderência necessária, e nessas condições os acidentes acontecem com alguma frequência junto à rotunda Cidade de Abrantes”, observa.
Na área do Destacamento Territorial da GNR também “não existe nenhuma artéria rodoviária potenciadora de sinistros automóveis devido ao mau estado do seu piso”, informa o comandante Hugo Carneiro.
O comandante acrescenta que quando a GNR “se depara com necessidades de melhoramento nas vias da sua responsabilidade de policiamento”, reporta à autarquia. De resto, Hugo Carneiro assinala a relação de diálogo que existe quer com a Câmara, quer com as juntas de freguesia, uma ideia reforçada pelo comando local da PSP. “É certo que nem todas as questões conseguem ser resolvidas com a celeridade e prontidão que gostaríamos”, diz Ricardo Pinto Ferreira, mas existe um esforço de parte a parte para melhorar as condições de vida dos cidadãos, das quais as acessibilidades e as condições das ruas “são uma grande fatia”.
Gazeta das Caldas contactou também os Bombeiros Voluntários das Caldas da Rainha, para perceber se o estado do piso de algumas ruas condiciona a prestação do serviço de socorro, mas o comando não se quis pronunciar sobre esta questão.
Bom trabalho do jornalista. Sou espanhol e tenho uma vivenda nas Caldas. Por tanto, pago impostos. Muito obrigado por pressionar a Cámara para reparar as estradas. Cumprimentos, um espanhol das Caldas.