Para o guitarrista José Vargas Inês, que já tocou com vários fadistas (Cidália Moreira, Gonçalo da Câmara Pereira e João Braga, entre outros), este é um momento muito importante e agradece que este reconhecimento tenha acontecido ainda no tempo da sua vida.
Embora ouça outros géneros musicais, o fado é para si como o sangue que circula nas suas veias. “Eu tenho que ouvir fado todos os dias para poder viver“, disse. Na sua opinião, o fado “é uma mística de três elementos: guitarra, viola e fadista“.
É o fadista quem tem sempre o papel principal “e nós que acompanhamos, somos subalternos“. Na sua opinião, quem canta acaba por se tornar um actor “porque precisa de sentir a letra das músicas para poder fazer sentir a quem está a ouvir“.
Embora tenha nascido em Santarém, há 10 anos José Vargas Inês veio morar para as Caldas para acompanhar a sua filha que aqui estudou. “Ela foi-se embora, mas eu acabei por ficar porque gosto muito das Caldas“, contou.
José Inês já toca guitarra portuguesa há 40 anos e passou por algumas das principais casas de fado em Lisboa. Chegou a substituir José Fontes Rocha numa dessas casas de fado, quando este necessitava de se ausentar para o estrangeiro nos espectáculos de Amália, com quem tocava.
Conheceu Emanuel Soares em 1996, numa noite de fados na Casa do Benfica em Torres Vedras. Foi a noite de estreia de Emanuel Soares a cantar acompanhado de viola e guitarra, mas José Vargas Inês gostou tanto da sua voz que anos mais tarde, quando se reencontraram nas Caldas, acabaram por começar a actuar juntos.
Actualmente Emanuel Soares e José Inês estão um pouco mais retirados das lides fadistas, mas a paixão continua intacta. José Inês dá aulas de guitarra portuguesa. “Eu costumo dizer aos meus alunos que o que custa são os primeiros 20 anos“, adiantou.
A Gazeta das Caldas tentou contactar mais fadistas caldenses, mas não conseguiu obter um comentário em tempo útil.
Fado das Caldas
Calça justa bem ‘sticada
Já manchada p’lo selim,
Polainas afiveladas.
Antigamente era assim;
Mantas de cor nas boleias (ai)
P´ras toiradas e pr’a ceias.
De milorde aguisalhada,
À cabeça da manada
Trote largo e para a frente,
Com os seus cavalos baios,
As pilecas eram raios
Fidalgos iam co’a gente.
E p’la ponte de Tornada
Por lá é que era o caminho
Bem conduzindo a manada
A passo, devagarinho,
E quem mandava o campino (ai)
Era o mestre Vitorino.
Praça cheia, toca o hino
É dos Gamas, gado matreiro
Victor Morais, o campino,
Anadia, o cavaleiro
Que sortes tão bem mandadas
Haviam nessas toiradas.
Nos tempos que não vivi
Findavam as brincadeiras
Nas barracas do Levi
Com dois tintos das Gaeiras
Entre cartazes, letreiros
Com toiros, cavaleiros
Música: Raúl Ferrão
Versos de: Arnaldo Forte